Deus e o Rock
Achei sem querer o texto abaixo na net. Pra quem se liga em música e religião, achei que seria legal ler. Por isso tô postando.
Orações e ironias rock and roll
Uns reverenciam, outros duvidam, mas volta e meia Deus é tema na música popular
Se o Diabo é realmente o Pai do Rock, tem muito filho bastardo profanando o Cara em nome de Deus, ou somente de Jesus mesmo. E olha que a lista é abrangente... Assim como na edição anterior evitamos falar obviedades como o Diabo na música segundo as bandas de metal, dessa vez vamos deixar de lado (pelo mesmo motivo) as bandas gospel.
Então vamos lá. Deus e seu filho são temas se não recorrentes, ao menos bastante populares na obra de trovadores como Nick Cave e Bob Dylan (nessa ordem de obsessão, para ser mais exato). De tanto falar de divindades, Cave parece ter mesmo se convertido. Seu último disco, No More Shall We Part é o mais reverente de todos e explora o tema em quase todas as 12 faixas. Ele, egresso do infernal The Birthday Party, vem se aprofundando no cristianismo há mais de década em sua carreira solo. Vai desde "The Mercy Seat" (na qual um condenado à morte acredita que a cadeira elétrica é o trono de Deus) e "Foi Na Cruz" (com versos em português) até gravações mais recentes como "There is a Kingdom" e "God is in The House".
Quanto à Dylan, basta dizer que não é todo o dia que se vê um judeu convertido ao cristianismo. Não bastasse, ainda cita Pai e Filho em algumas de suas melhores canções, como "With God On Our Side": "Eu estive pensando nisso / que Jesus Cristo foi traído por um beijo / mas eu não posso pensar por você / Você terá que decidir / se Judas Iscariotes tinha ou não Deus ao seu lado". Nem a santa morada foi esquecida por ele, como atestam "Knockin' On Heaven's Door" e "Trying to Get to Heaven".
E até ex-louvadores do Tinhoso se renderam ao Criador. Um ano depois de exultar o Príncipe das Trevas em seu primeiro disco, o Black Sabbath aparecia com "After Forever", com versos estranhamente clericais. Os Rolling Stones deixaram de lado a simpatia pelo Dianho para escrever "Shine A Light", uma bela canção gospel incluída no pervertido álbum duplo Exile on Main Street. O Velvet Underground, que de santo não tem nem a sombra, clamou salvação em "Jesus": "Jesus, me ajude a encontrar o meu lugar / me ajude na fraqueza pois estou perdendo a fé", e por aí vai.
Anti reverência - É fato que das diversas aparições divinas nas letras do rock, boa parte delas não são reverentes. Tem muito cantor aí que fica pedindo pra Ele mostrar a cara, ou comprovar sua existência, como se isso fosse um grande sinal de rebeldia. Como tentou certa vez a poetisa punk Patti Smith. Na primeira frase da primeira canção ("Gloria") de seu primeiro disco (Horses), ela desafiava os crédulos dizendo que "Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não pelos meus". Patti fazia tanta questão de mostrar que não tava nem aí pro Todo-Poderoso que durante um show ela o invocou querendo provas de sua existência. Resultado: ela caiu do palco, quebrou o pescoço e ficou uns bons anos andando numa cadeira de rodas. E nunca mais tocou essa música em seus shows.
Outros preferem não se expor tanto quanto Patti, mas sem deixar o cinismo de lado. Como o Depeche Mode em "Blasphemous Rumours", um dos refrãos mais controversos da música pop: "...não quero começar nenhum rumor blasfemo / mas acho que Deus tem um senso de humor doentio / e quando eu morrer, espero encontrá-lo rindo", escreveu o não menos doentio letrista Martin L. Gore.
Mas nessa seara a canção mais emblemática de todas é, sem dúvida, "God", gravada por John Lennon no disco de estréia da Plastic Ono Band. Nela, o ex-Beatle desanca toda e qualquer crença e religião, além de ídolos dele e de muito gente (Dylan, Elvis e os próprios Beatles, por exemplo), só pra dizer o quanto ama Yoko. Já que citamos o antigo grupo de Lennon, fica aqui uma singela homenagem a George Harrison, morto no início do mês e que, ao contrário dos últimos exemplos, era bastante reverente. "My Sweet Lord", um de seus maiores hits, é a prova cabal disso: "meu doce senhor, eu quero realmente conhecê-lo...".
E no maior país católico do mundo... - Pra não descontentar cento e poucos milhões de pessoas que afirmaram, pelo menos em quatro momentos da história do país (leia-se em 58, 62, 70 e 94), que Deus é brasileiro, vamos lembrar do que foi feito em nome do Cidadão na música nacional. E por enquanto, pularemos Raulzito, um dos nomes mais óbvios nessa área. Quem sabe começar, paradoxalmente, por A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, o segundo disco de Zé Ramalho. De divino, porém, só o tema da faixa-título, pois a capa é das mais pagãs da música brasileira, com Zé do Caixão e a atriz Xuxa Lopes "atentando" o cantador, entre desenhos de um tridente se degladiando com uma cruz. E claro, "Brother", de Jorge Ben, com refrão cantado num inglês de segunda: "Jesus Christ is my lord, Jesus Christ is my friend..."
Marcelo Nova aproveitou o oportuno momento do Plano Cruzado (1986) para escrever "Deus Me Dê Grana", faixa de Correndo o Risco, do Camisa de Vênus. No ano seguinte, os então ainda confiáveis Titãs lançariam Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas, um pouco menos revoltadinho do que o antecessor Cabeça Dinossauro que, lembrem-se, tinha entre suas faixas a célebre "Igreja": "Eu não gosto de bispo / Eu não gosto de Cristo / Eu não digo amém". Mas se você tiver medo d'Ele e preferir não cantar esse tipo de música, fique tranqüilo. Rock pode ser negação, revolta, essas coisas aí que falam quando a gente é pirralho e acredita, mas depois Deus perdoa. Afinal de contas, essa é a função d'Ele.
Fabrício Rodrigues
Fonte: http://www.omalaco.hpg.ig.com.br/sete/musica_deus.htm
Comentário pessoal: essa música do Jorge Ben (eu a cada dia mais fã) citada na matéria é mesmo sensacional. Quando eu achar a letra na net - tá difícil - eu posto aqui. "Jesus Christ is my Lord/ Jesus Christ is my friend..."
Orações e ironias rock and roll
Uns reverenciam, outros duvidam, mas volta e meia Deus é tema na música popular
Se o Diabo é realmente o Pai do Rock, tem muito filho bastardo profanando o Cara em nome de Deus, ou somente de Jesus mesmo. E olha que a lista é abrangente... Assim como na edição anterior evitamos falar obviedades como o Diabo na música segundo as bandas de metal, dessa vez vamos deixar de lado (pelo mesmo motivo) as bandas gospel.
Então vamos lá. Deus e seu filho são temas se não recorrentes, ao menos bastante populares na obra de trovadores como Nick Cave e Bob Dylan (nessa ordem de obsessão, para ser mais exato). De tanto falar de divindades, Cave parece ter mesmo se convertido. Seu último disco, No More Shall We Part é o mais reverente de todos e explora o tema em quase todas as 12 faixas. Ele, egresso do infernal The Birthday Party, vem se aprofundando no cristianismo há mais de década em sua carreira solo. Vai desde "The Mercy Seat" (na qual um condenado à morte acredita que a cadeira elétrica é o trono de Deus) e "Foi Na Cruz" (com versos em português) até gravações mais recentes como "There is a Kingdom" e "God is in The House".
Quanto à Dylan, basta dizer que não é todo o dia que se vê um judeu convertido ao cristianismo. Não bastasse, ainda cita Pai e Filho em algumas de suas melhores canções, como "With God On Our Side": "Eu estive pensando nisso / que Jesus Cristo foi traído por um beijo / mas eu não posso pensar por você / Você terá que decidir / se Judas Iscariotes tinha ou não Deus ao seu lado". Nem a santa morada foi esquecida por ele, como atestam "Knockin' On Heaven's Door" e "Trying to Get to Heaven".
E até ex-louvadores do Tinhoso se renderam ao Criador. Um ano depois de exultar o Príncipe das Trevas em seu primeiro disco, o Black Sabbath aparecia com "After Forever", com versos estranhamente clericais. Os Rolling Stones deixaram de lado a simpatia pelo Dianho para escrever "Shine A Light", uma bela canção gospel incluída no pervertido álbum duplo Exile on Main Street. O Velvet Underground, que de santo não tem nem a sombra, clamou salvação em "Jesus": "Jesus, me ajude a encontrar o meu lugar / me ajude na fraqueza pois estou perdendo a fé", e por aí vai.
Anti reverência - É fato que das diversas aparições divinas nas letras do rock, boa parte delas não são reverentes. Tem muito cantor aí que fica pedindo pra Ele mostrar a cara, ou comprovar sua existência, como se isso fosse um grande sinal de rebeldia. Como tentou certa vez a poetisa punk Patti Smith. Na primeira frase da primeira canção ("Gloria") de seu primeiro disco (Horses), ela desafiava os crédulos dizendo que "Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não pelos meus". Patti fazia tanta questão de mostrar que não tava nem aí pro Todo-Poderoso que durante um show ela o invocou querendo provas de sua existência. Resultado: ela caiu do palco, quebrou o pescoço e ficou uns bons anos andando numa cadeira de rodas. E nunca mais tocou essa música em seus shows.
Outros preferem não se expor tanto quanto Patti, mas sem deixar o cinismo de lado. Como o Depeche Mode em "Blasphemous Rumours", um dos refrãos mais controversos da música pop: "...não quero começar nenhum rumor blasfemo / mas acho que Deus tem um senso de humor doentio / e quando eu morrer, espero encontrá-lo rindo", escreveu o não menos doentio letrista Martin L. Gore.
Mas nessa seara a canção mais emblemática de todas é, sem dúvida, "God", gravada por John Lennon no disco de estréia da Plastic Ono Band. Nela, o ex-Beatle desanca toda e qualquer crença e religião, além de ídolos dele e de muito gente (Dylan, Elvis e os próprios Beatles, por exemplo), só pra dizer o quanto ama Yoko. Já que citamos o antigo grupo de Lennon, fica aqui uma singela homenagem a George Harrison, morto no início do mês e que, ao contrário dos últimos exemplos, era bastante reverente. "My Sweet Lord", um de seus maiores hits, é a prova cabal disso: "meu doce senhor, eu quero realmente conhecê-lo...".
E no maior país católico do mundo... - Pra não descontentar cento e poucos milhões de pessoas que afirmaram, pelo menos em quatro momentos da história do país (leia-se em 58, 62, 70 e 94), que Deus é brasileiro, vamos lembrar do que foi feito em nome do Cidadão na música nacional. E por enquanto, pularemos Raulzito, um dos nomes mais óbvios nessa área. Quem sabe começar, paradoxalmente, por A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, o segundo disco de Zé Ramalho. De divino, porém, só o tema da faixa-título, pois a capa é das mais pagãs da música brasileira, com Zé do Caixão e a atriz Xuxa Lopes "atentando" o cantador, entre desenhos de um tridente se degladiando com uma cruz. E claro, "Brother", de Jorge Ben, com refrão cantado num inglês de segunda: "Jesus Christ is my lord, Jesus Christ is my friend..."
Marcelo Nova aproveitou o oportuno momento do Plano Cruzado (1986) para escrever "Deus Me Dê Grana", faixa de Correndo o Risco, do Camisa de Vênus. No ano seguinte, os então ainda confiáveis Titãs lançariam Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas, um pouco menos revoltadinho do que o antecessor Cabeça Dinossauro que, lembrem-se, tinha entre suas faixas a célebre "Igreja": "Eu não gosto de bispo / Eu não gosto de Cristo / Eu não digo amém". Mas se você tiver medo d'Ele e preferir não cantar esse tipo de música, fique tranqüilo. Rock pode ser negação, revolta, essas coisas aí que falam quando a gente é pirralho e acredita, mas depois Deus perdoa. Afinal de contas, essa é a função d'Ele.
Fabrício Rodrigues
Fonte: http://www.omalaco.hpg.ig.com.br/sete/musica_deus.htm
Comentário pessoal: essa música do Jorge Ben (eu a cada dia mais fã) citada na matéria é mesmo sensacional. Quando eu achar a letra na net - tá difícil - eu posto aqui. "Jesus Christ is my Lord/ Jesus Christ is my friend..."
2 Comments:
Apenas complemento com uma coisa: Nossa boa é a janela do coração. As palavras têm sim um efeito muito significativo no mundo. Em miúdos: fale que vc é um idiota, e serás sempre um idiota. E uym idiota hipócrita, pois fale do Diabo, do Tinhoso, mas não me venha dizer "Meu Deus, me ajude" na hora do aperto. Vá pedir pro seu Tinhoso!!!!!! rsrsrs... Belo texto, nada mais à acrescentar. E tenho dito.
Vcs não têm mesmo o que fazer ...
Vão tomar no cú seus loucos ...
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