Pato bola bola oito
2008. Por onde começar?
Que tal pela madrugada do dia 2 de julho, quando passei a noite todinha me revirando numa cama de hotel em Bauru, com os nervos em frangalhos, tendo uma prova cabal da pouca confiança que eu boto no meu taco? Explico: na manhã desse dia eu compareceria à Unesp para defender minha tese de graduação na faculdade de Jornalismo. Estava com o cu que não passava nem um alfinete, com medo de dar tudo errado. Tudo porque achava que meu trabalho estava ruim, feito nas coxas, que eu não estava com a defesa bem preparada, nem a Aline. Não consegui dormir e só me tranqüilizei lá pelas 6 da manhã, quando resolvi ficar acordado até a hora de me arrumar, vendo uma matéria no noticiário local sobre um matuto que pescou uma carpa (nem lembro se era esse peixe mesmo, e nem entendo de peixe) de 6 quilos. Ele não quis vender o peixe, alegando que ia comê-lo com os amigos. Uma notícia tão prosaica, tão pitorescamente matuta, de repente me deu forças pra ir tomar café de cara alegre e terminar o dia feliz, tendo tirado 10 na porcaria do TCC e enfim tirando aquele peso de 3 anos das minhas costas.
Zero Oito foi um ano meio esquisito, como eu já disse aqui antes. Muitas coisas que estavam de rosca enfim se desenrolaram. Me formei oficialmente, pessoas brigadas se reconciliaram, morreram algumas que já estavam na boca da caçapa pra subir no telhado, uma grande (nem tão grande assim) banda de rock anunciou o lançamento de um disco aguardado há uns dez anos, cartolas que há tempos mandavam e desmandavam em clubes grande do Brasil enfim rodaram, etc. Como sempre, aconteceram algumas desgraças, aquele lance das enchentes em SC. Teve a crise mundial que afetou todo mundo que tem dinheiro no planeta, o que obviamente não me inclui. (Aliás, quero passar a virada de 09 pra 2010 com bastante grana no bolso e vou colocar isso como a principal meta pro ano, se é que posso me permitir estabelecer metas - geralmente não consigo cumprir nenhuma). Enfim, do ano que se passou, falando de um ponto de vista pessoal, eu tiro um saldo positivo e uma grande satisfação não por conquistas minhas, mas por conquistas dos meus amigos. A maior parte dos meus amigos, tenho certeza, termina o ano feliz. Estão felizes, bem empregados ou em vias de arrumarem bons empregos. Mesmo quando o emprego não paga bem, estão fazendo o que gostam. Outros estão felizes na vida íntima, casados, com sonhos, planos e projetos. Há os que estão distantes, ou que se distanciaram. Sinto falta deles, não sei o que estão fazendo, o que estão empreendendo, mas sei que estão bem. Gostaria de um dia estar junto deles novamente. Sei que talvez não seja possível, por motivos geográficos ou mesmo pela geografia dos corações e dos sentimentos. Mas penso neles sempre. E torço. Pra que estejam felizes e pra que torçam com força pra que eu também assim o seja.
No final deste ano, eu tive duas grandes alegrias. Uma é a realização de um sonho esportivo pessoal: ver o Fenômeno com a camisa 9 do Timão. Quer dizer, ainda não pude ver de fato, em ação, mas a boa nova dá ânimo a esse coração corintiano para o ano que se inicia, depois de tantos sofrimentos e humilhações nos últimos dois anos.
A outra, mais marcante, foi o retorno de uma grande amiga. Uma irmã. Que voltou quando eu já perdia as esperanças de tê-la ao meu lado.
Em 2008 eu peguei ônibus cheio quase todos os dias. Ouvi Tim Maia quase todos os dias. Comi alguma coisa feita com ovo pelo menos três vezes por semana. Arranquei sorrisos no trabalho pelo menos uma vez por dia. Vi alguma coisa errada na rua toda semana. Me vesti melhor. Mudei o corte de cabelo - que mantinha há uns dois anos. Estive sempre pronto pra ouvir um amigo que precisava desabafar. Fui conselheiro e confidente de várias pessoas. Salvei uma mocinha de se molhar na chuva. Comi pastel de feira, tomei cerveja em boteco e joguei sinuca. Contei piada e ouvi piadas, boas e ruins. Chorei por amor, como nunca antes havia chorado, de soluçar e pingar na roupa. Não fiquei doente nenhuma vez. Exceto por um retorno de hemorróida, que é mal mas não é doença. Aliás, em 2008 caguei com regularidade quase diária, fezes de boa coloração e formato. Não briguei feio com ninguém, não fiz nada socialmente deplorável, não joguei lixo na rua, não furei fila, mas deixei de devolver troco que me deram a mais no correio, numa ocasião. Mas não fiquei com o dinheiro: era dinheiro da revista, de postagem de material e repassei pro financeiro.
Se eu fui feliz em 2008? Fui. Fui sim. Todos os dias andei do Largo do Paissandu ao Bixiga com os ouvidos cheios de música e a cabeça cheia de sonhos. Sonhos simples, como o de todas as pessoas, até as mais extravagantes: uma mulher bonita e compreensiva, uma casa confortável, filhos espertos, cachorro, papagaio, dormir, cagar e comer bem. Pagar minhas contas, viver com dignidade. Não repetir os erros dos meus pais, mas seguir o modelo que eles estabeleceram, pelo menos no que concerne à educação dos filhos. Eu ia pensando nisso tudo e ao mesmo tempo tentando reparar nas pessoas. Nas moças bonitas, nos seus andares malemolentes ao entrarem no Edifício Itália, ou ao cruzarem a Galeria do Rock. Eu ia, atravessando ruas, contornando quarteirões, olhando as manchetes dos jornais nas bancas. Eu fui, e sempre cheguei no meu destino.
Agora é dia 31, último dia do ano. Mais um ano que eu transpus. Que transpus caminhando, e não correndo. Que vivi moderadamente, lamentando coisas que deixei de fazer, embora não tenha me esforçado para fazê-las. Um ano que digo a mim mesmo que foi bom, mas sem aquele plus. Estou aqui e isso que importa. Obrigado.
5 Comments:
Foi a melhor retrospectiva que já vi em toda minha vida.
2008 foi um ano estranho, com acontecimentos macabros e inimagináveis, mas no final deu tudo certo.
Obrigada por sua presença tão especial em minha vida, te adoro.
Bjão
Quando eu crescer eu quero escrever bem igual a você
Quando eu crescer eu quero escrever bem igual a você
Quando eu crescer eu quero escrever bem igual a você
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