sábado, dezembro 10, 2005

Escândalo familiar

Quando Teresa Cristina chega em casa, no domingo à tarde, depois de um fim de semana de farra em Ilhabela, encontra na sala a mãe, a avó, o avô e os 3 irmãos, todos sentados com cara de luto.

"Faaaaaaaaaala, galera! Fala, mãezinha! Belezinha, linda?"

A mãe, olhos tristes, sem esperança alguma na vida, responde em tom híbrido de raiva a amargura:

"Seu pai sofreu um enfarte, Teresa Cristina!"

"Caralho! Meu Deus! Mas como?"

"Ele cismou de dar uma geral no seu quarto... E encontrou uma coisa lá... Enfim, o coração não aguentou..." - uma lágrima quente escorrendo pelo rosto da mãe.

"Puta que pariu!" - pensou a moça - "Ele deve ter achado o bagulho escondido! Tô fudida!"

"O que ele achou, mãe? Aliás, eu fico puta com esse lance de ficarem mexendo nas minhas coisas!"

"Teresa Cristina, o que é isso?" - perguntou a mãe, exibindo um objeto que extraiu uma careta da avó e um meio sorriso esclerosado do avô.

Teresa Cristina olhou para aquilo e sentiu vontade de rir. Mas lembrou-se do pai, militar reformado, enfartado num leito de hospital, e a vontade passou. O pai não encontrara a maconha que ela tinha no quarto, como pensou a princípio. As trouxinhas de marijuana continuavam muito bem guardados na gaveta das calcinhas. Sentiu vontade de correr pro quarto e acender "unzinho". Mas não dava. Ali à sua frente, a mãe ainda segurava aquela cinta cor-de-rosa com um pênis de borracha preso no lugar no qual - num cinto convencional - estaria a fivela. E perguntava, já aos berros, o que diabos era aquilo. Cansada, com a vagina meio assada, querendo apenas tomar banho e dormir um pouco, Teresa Cristina murmurou:

"Ah mãe, me deixa em paz, vai!"

A mãe puxou-a pelo braço. Era uma filha de uma puta! Que exemplo dava para os irmãos pequenos? Enquanto isso, segurava ainda na mão direita o objeto fálico, e a irmã menor de Teresa Cristina olhava para aquilo com curiosidade infantil cheia de assombro.
A mãe passou-lhe um belo esporro. A avó auxiliou, lembrando máximas da moral humana antiga. Teresa Cristina ouviu até o ponto em que o alcool e o chá de cogumelo no cérebro permitiram. Até a hora que resolveu explodir:

"Puta que o pariu! A vida é minha, porra! Esse consolo é meu, sim! E daí? Que direito vocês tem de mexer nas minhas coisas?"

Levou um sonoro tapa da mãe. Sua ira se descarregou em cima dela:

"Sua recalcada! Velha mal-comida! Casada com esse velho broxa, que só te reprime! É uma infeliz! Eu já sou o contrário: sou tão bem comida, que até eu mesma me como!"

A mãe estava convencida de que Teresa Cristina tinha virado puta. Um grande desgosto. Ela e o Tavares criaram a filha tão direitinho! Em que curva do caminho a caminhonete pode ter capotado desse jeito?

"Pra que você usa isso, sua vagabunda? Fala!"

"Quer mesmo saber, mamãezinha? Tá bom, eu digo: isso aí é uma cinta-caralho. Comprei num sex-shop, porque sou bissexual e gosto que as minhas amigas me enrabem! E o que é melhor: eu adoro enrabar minhas amigas! E você sempre achou que o que eu e a Soninha fazíamos no quarto aos sábados à noite era dizer fofoca, né?"

A mãe desmaiou. A avó tentou acudir. O avô roncava alto no sofá, a essa altura já com um riso rasgado no rosto. Os irmãos choravam, enquanto a irmã menor segurava a cinta-caralho, balançava-a para os lados, divertida, e procurava o botão que se deveria apertar para que ela "fizesse barulhinho ou piscasse".

Quando o pai saiu do hospital, nenhuma das partes se dirigia a palavra naquela casa. Depois de muito pensar sobre o que aconteceu - inclusive sobre o que a filha dissera, de que ela era "mal comida" - a mãe chegou à conclusão de que Teresa Cristina estava com encosto. Discutiu com o marido até convencê-lo de que era melhor levá-la no descarrego da Igreja Universal do que expulsar "nossa menina" de casa. Decidiu levá-la assim que Teresa Cristina pisasse em casa de novo. Não foi possível. No mesmo dia chegou a notícia do acidente de carro. O Sargento Tavares foi chamado ao IML pra fazer reconhecimento do corpo.

2 Comments:

Blogger A. Diniz said...

Suas crises de mal-humor costumam render boas histórias. Por mais Adelaide Carrara que sejam.

E sim, eu acreditava que poderia ter uma chance na Abril. A esperança é a âncora dos brasileiros de nascimento.

dezembro 10, 2005 5:33 AM  
Anonymous Anônimo said...

Meu Deus...
Pelo visto vc reencontrou mesmo sua criatividade e a minha deve estar junto com a sua... As duas com vc e nenhuma cmg!

dezembro 14, 2005 10:42 AM  

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