sexta-feira, janeiro 20, 2006

Alistamento e Elis Regina


Bom, vamos por partes! - já diria Jack, O Estripador.

Primeiramente uma letrinha que posto aqui em homenagem ao meu irmão, Fábio. O moleque foi hoje fazer o alistamento para o Serviço Militar Obrigatório e me lembrei de quando eu próprio fiz o meu, em 2002. Na época eu já estava na Unesp e se fosse convocado, seria a desgraça da minha vida. Mas o médico que me examinou foi bastante gentil e democrático e aproveitou minha hipermetropia e meus problemas de coluna pra perguntar se eu fazia questão de servir. E eu disse que não. Então fui providencialmente incluído no excesso de contingente. Meu irmão agora vai passar por toda essa burocracia novamente até ser, provavelmente, dispensado no meio do ano. O que eu penso sobre essa praga de Serviço Militar está na letrinha de música abaixo, de um compositor que tanto eu quanto o Fábio curtimos.


Indecência Militar
(Gabriel O Pensador)

Na porta do local do alistamento militar (indecência)
Esperando pela hora de entrar
De saco cheio estava eu lá (paciência)
Sem nenhuma mulher pra agarrar e nenhum som pra escutar
E um monte de marmanjo do meu lado eu vi
Então pensei: "Porra. O quê que eu tô fazendo aqui?"
(Pergunta sem resposta) e raiva lá dentro
Foi assim que eu fiz o rap pra passar o tempo

Porque o serviço militar obrigatório é uma indecência
Um ano sem mulher batendo continência
Escravidão numa democracia é uma incoerência
Um ano sem mulher batendo continência

Um ano sem mulher
Só ralando
(E o salário...)
Não leve a mal mas isso é coisa pra otário
Alguns podem até gostar da brincadeira
Mas o serviço só é bom pra quem quer seguir carreira militar
Mas rapá... pro Pensador não dá
Servindo o Exército, Marinha, Aeronáutica ou qualquer porra dessa
Num interessa, eu ia ser um infeliz e ia ficar revoltado como eu nunca quis
Servindo quem montou a ditadura aqui no meu país!
Usando farda, lavando o chão
Sem reclamar de nada pra num ser jogado na prisão (Hum mas que situação!)
Batendo continência e fazendo flexão
Para os caras que prenderam meu pai e mataram tantos outros institucionalizando a repressão (Não!) Agora acorda e concorda com esse refrão (E porque não?)

Porque o serviço militar obrigatório é uma indecência
Um ano sem mulher batendo continência
Escravidão numa democracia é uma incoerência
Um ano sem mulher batendo continência

Nas mãos dos militares muito jovem já morreu
Num quero ser soldado
Quem manda em mim sou eu
Isso é o defeito da nossa sociedade
Exijo mais respeito pela minha liberdade
Um ano da minha vida não pode ser gasto assim
Escravizado por quem nunca fez nada de bom por mim
Essa contradição alguém me explique um dia
Serviço obrigatório não combina com democracia

A porta abre e todos entram
Torcendo pra sobrar
Enquanto isso dá vontade de cantar:

Porque o serviço militar obrigatório é uma indecência
Um ano sem mulher batendo continência
Escravidão numa democracia é uma incoerência
Um ano sem mulher batendo continência.

Aproveito pra recomendar as letras desse rapaz, que são muito boas. Especialmente as mais antigas, como "Lôraburra" e "Retrato de um Playboy", que fazem uma crítica ácida a certos segmentos da sociedade que o Pensador deve conhecer bem (afinal ele próprio pertence à classe média). Vale a pena ouvir.


24 anos sem Elis Regina


Além de cantora fantástica, uma qualidade imprescindível: Elis era corinthiana, maloqueira e sofredora, graças a Deus!


A maior intérprete da música popular brasileira. Morreu num dia 19 de janeiro. Uma perda irreparável, certamente, para quem estava acostumado com o tom emocionado e trágico de suas apresentações. Uma mulher que cantava a vida com a mesma intensidade com que a viveu. Deixou uma porrada de canções dos mais variados compositores, de samba à jazz, gravadas para a posteridade. E eu tenho a ingrata missão de escolher uma pra postar aqui. Bom, vou postar uma música de um de meus compositores perferidos, que dona Elis praticamente reescreveu e deu novo sentido, quando a cantou ao vivo e aos prantos em programas de televisão. "Ela não estava cantando a música. Estava vivendo a música", é o que afirmam pessoas que viveram esse momento histórico. Bom, vai aí:


Atrás da porta
Francis Hime - Chico Buarque/1972

Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei
Eu te estranhei
Me debrucei
Sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito (Nos teus pelos)*
Teu pijama
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que inda sou tua
Só pra provar que inda sou tua...

* verso original vetado pela censura

1972 © by Cara Nova Editora Musical Ltda. Av. Rebouças, 1700 CEP 057402-200 - São Paulo - SPTodos os direitos reservados. Copyright Internacional Assegurado. Impresso no Brasil



5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Elis era foda msm.... Mas só vc pra arrumar uma foto com a camiseta do Corinthians...
Gosto muito dessa música... como tudo que ela cantava, muito carregada de sentimento... de certa forma tem a ver com meu momento atual.

janeiro 20, 2006 2:05 AM  
Anonymous Anônimo said...

Elis era foda msm.... Mas só vc pra arrumar uma foto com a camiseta do Corinthians...
Gosto muito dessa música... como tudo que ela cantava, muito carregada de sentimento... de certa forma tem a ver com meu momento atual.

janeiro 20, 2006 2:05 AM  
Blogger Gabriela said...

Concordo com a Carol, Elis era Phoda! Com todo o teor q a palavra puder conotar sobre o bom sentido do termo....
Qto ao seu irmão: eis o deslexo burocrático.... Obg sem noções... Tenho 3 irmãos e nenhum foi convocado ao serviço.... Gabriel q o diga...
Bjss amigo...

janeiro 20, 2006 8:30 AM  
Blogger Pedro Henrique said...

Esse serviço obrigatório é vergonhoso mesmo. Lembro-me que fui à junta militar em 99, e isso me prejudicou na hora da procura por um emprego. Mas, tenho certeza de que aprenderia muito no exército. Caso não fosse obrigatório, talvez eu até teria me alistado com uns 19 ou 20 anos.
Elis? Nem curto, mas respeito.

janeiro 21, 2006 3:45 PM  
Blogger A. Diniz said...

Elis Curintiana?! Tá explicado o motivo da CARREIRA dela ter acabado tão rapidamente.

E quanto ao alistamento militar, bem, pelo menos espero que seu irmão não tenha passado pela humilhação de varrer todo o TG na prova de velocidade caso tenha ficado por último na corrida de explosão. Ainda hoje odeio aquele gordo filho da puta que caiu na minha frente.

janeiro 22, 2006 4:32 PM  

Postar um comentário

<< Home