segunda-feira, janeiro 16, 2006

Lágrimas de Medo

Quando eu estava lá pela quinta série, tinha uma amiga inseparável: a Regina. Não sei exatamente o porquê, mas em toda a minha vida, enquanto os rapazes viviam sempre em grupos nos quais mulheres não eram bem-vindas, eu sempre mantive uma amiga com a qual passava a maior parte do tempo, conversando, ouvindo conselhos, fazendo confidências, essas coisas. Mesmo sem nunca ter sido aviadado, sempre preferi a companhia feminina às brincadeiras babacas dos garotos. Talvez um traço de maturidade precoce dentro de mim, talvez problemas de relacionamento com meus iguais. Enfim. O fato é que essa amiga da escola, a Regina, estava sempre comigo. E, naquela época, meados dos anos 90, ela era aficcionada por uma banda pop chamada Tears For Fears. "Quer dizer 'Lágrimas de Medo' - dizia-me ela. Eu, que sentia um mal-estar de pensar nas tais lágrimas de medo, não compreendia bem o que ela sentia, porque eu sequer ouvia música nessa época - musicalmente falando, desse período, recordo-me apenas das referências aos Tears For Fears, da Taísa (que todos diziam que era a fim de mim, que eu achava uma magrela-nariguda-louca-zuada e que depois achei gostosa quando a vi já no colegial, com aquela saia e o chapéu country) cantando "Pais e Filhos" no busão voltando do Simba Safari e da prefessora carrasca de matemática que achava graça nos Mamonas Assassinas.

Regina gostava dos caras. E tinha qualidades também além disso, para que eu possa me lembrar dela. Uma vez me deu um livro do Gil Vicente: "O auto da barca do Inferno" e "A farsa de Inês Pereira". Obviamente não era o melhor presente pra um moleque de 11/12 anos de idade que só lia Turma da Mônica. No entanto por esses dias encontrei o livro perdido aqui em casa e senti uma certa ternura ao ler a dedicatória. O livro ficou, porque Regina passou pela minha vida e não nos dissemos adeus.

Quando fui pra Bauru, porém, aconteceu uma coisa engraçada. As "Lágrimas de Medo" invadiram minha vida justamente quando eu mais ansiava chorar lágrimas de alegria. Peguei emprestado com o Wiiliam aquele CD coletânea que só viria a devolver, por questões de consciência pesada, no último ano de faculdade. Todos os clássicos do 'Tears' estavam lá. Estava lá uma das minhas músicas preferidas, que embalavam minhas caminhadas matutinas pelo Viaduto do Chá, no ano de cursinho: "Head Over Heels", com aquele solinho de teclado que tanto gosto. Mas calhou de eu me apaixonar pela C. justamente quando o som que ouvia era "Woman In Chains". Essa música acabou me deprimindo, talvez por já ser naturalmente depressiva, talvez por eu tê-la associada a um amor impossível (ou ambas as coisas) . Mas o pior estaria por vir. MS é fã de Tears For Fears. E me fez saber, cruelmente, que sua música preferida é "Advice For The Young At Heart". Típico dela, gostar dessas músicas excessivamente românticas e cafonas. E o pior é que eu mesmo acho essa música bonita. Porém, quando a ouço, sinto meu coração se apertar e uma vontade imensa de bater as botas. Algo que canção nenhuma provocou em mim antes. E todas as músicas da banda adquiriram um tom sombrio. Os videoclipes medonhos martelando de madrugada na MTV, apenas contribuindo para que eu sinta saudade de uma coisa que nunca aconteceu. E mesmo gostando das músicas, sinto-me incapacitado para ouví-las. E algumas vezes, quando cedo e as ouço e me lembro de tudo o que aconteceu e de como meu coração não estava/está preparado, sinto vontade de chorar. E o nome da banda, nessas horas em que o pânico me toma, me parece mais do que apropriado.


Greatest Hits (82-92) para você deixar as lágrimas rolarem ou dar aquela bela gorfada enquanto ouve.


Advice for the young at heart

Advice for the young at heart
Soon we will be older
When we gonna make it work ?

Too many people living in a secret world
While they play mothers and fathers
We play little boys and girls
When we gonna make it work ?
I could be happy
I could be quite naive
It's only me and my shadows
Happy in our make believe
Soon...
And with the hounds at bay
I'll call your bluff
Cos it would be okay
To walk on tiptoes everyday
And when I think of you and all the love that's due
I'll make a promise, I'll make a stand
Cos to these big brown eyes, this comes as no surprise
We've got the whole wide world in our hands
Advice for the young at heart
Soon we will be older
When we gonna make it work ?
Love is promise
Love is a souvenir
Once given
Never forgotten, never let it disappear
This could be our last chance
When we gonna make it work ?
Working hour is over
And how it makes me weep
Cos someone sent my soul to sleep
And when I think of you and all the love that's due
I'll make a promise, I'll make a stand
Cos to these big brown eyes, this comes as no surprise
We've got the whole wide world in our hands

Advice for the young at heart
Soon we will be older
When we gonna make it work ?

Working hour is over
We can do anyhting that we want
Anything that we feel like doing
Advice...

Qualquer dia eu continuo a tortura de pensar em músicas cornas como "Slave To Love". Aliás, essa sim quase me matou. Mas aí já é outra estória.

4 Comments:

Blogger Gabriela said...

Chorar e ter vontade de bater as botas, seja por lembranças não vividas, seja por momentos de exclusão, solidão, medo.... faz parte do respirar. Ser humano com sentimentos... Às vezes, quando perdemos, ganhamos em muitos aspectos... vc conheceu 'Tears for fears' e escreveu outro texto lindo....
E, assim, somos gouche na vida...
Bjss lindo!

janeiro 16, 2006 7:40 AM  
Anonymous Anônimo said...

uhm... pense pelo lado positivo, podia ser o new kids hehehehe.. poxa fafinha, fica triste não cara.. não conheço ninguém q saiba por balinhas da garoto no meio dos dentes pra te deixar feliz :0(.... vou treinar em casa pra ver se fica igual ;0)

janeiro 16, 2006 10:03 AM  
Blogger Pedro Henrique said...

Tias Fofinhas?? Aaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhh...

janeiro 16, 2006 11:30 PM  
Anonymous Anônimo said...

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lolikneri havaqatsu

fevereiro 08, 2010 9:33 AM  

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