sábado, maio 20, 2006

Da série: Não é putaria, é arte!


Zéfiro, o "catequizador" de meninos



Dada a ótima repercussão de meu post sobre a Emmanuelle entre os leitores deste blog, resolvi fazer um novo post sobre ARTE ERÓTICA.

Já que a "Saga da Emmanuelle" (ver post) retrata bem a época em que eu vivi e na qual comecei a despertar minha sexualidade, acho que agora é o momento de fazer uma viagem no tempo, mais especificamente para as décadas entre 50 e 70, para as gerações das quais faziam parte meu avô e meu pai. E é por isso que vou falar aqui de um quadrinista erótico: o por muito tempo clandestino Carlos Zéfiro.

Eu o descobri há pouco tempo, quando num sebo em Bauru encontrei uma revistinha com estórias dele jogada na seção de pornografia. Comprei por mera curiosidade, devo ter pago uns dois, três reais. Só muito tempo depois é que fui descobrir a história que existia por trás daqueles quadrinhos. O que a primeira vista não tinha muito valor pra mim, também demorou a ser valorizado pelas demais pessoas (característica inerente à toda a "arte pós-moderna", como se sabe).

Como tudo o que é underground e retrô, ele foi redescoberto recentemente pelos pesquisadores de contracultura e foi, inclusive, homenageado pela Marisa Monte que usou ilustrações dele no encarte de seu disco de 1997, "Barulhinho Bom". Eu posso bem imaginar o universo em que se situa Carlos Zéfiro: uma sociedade conservadora e católica, posteriormente dominada pelo Regime Militar, ainda por cima. Os adolescentes tendo que iniciar sua vida libidinosa de forma clandestina, devido à forte repressão sexual. Nem por isso, porém, deixava de existir os concursos de "maior piroca do bairro" e os campeonatos de bronha entre a molecada. Era a época de se divertir olhando as primas peladas pelos buracos de fechadura. E era a época em que pessoas como Nelson Rodrigues aproveitavam a linha tênua entre prazer e "pecado" para imaginar suas estórias. Era, sobretudo, a época em que os meninos compartilhavam entre si os preciosos quadrinhos de Zéfiro, disfarçados dentro de panfletos religiosos (razão pela qual as revistinhas do artista ficaram conhecidas como "catecismos").

Hoje em dia a molecada tem a internet à sua disposição, bastando um clique para ter acesso à qualquer tipo de putaria. E os quadrinhos de Zéfiro, que outrora eram "sacanagem", ganharam uma aura de relíquia histórica, um certo "glamour". Por isso coletei material sobre o tema na net e agora compartilho com meus leitores.


Carlos Zéfiro é o pseudônimo do funcionário público brasileiro Alcides Aguiar Caminha (Rio de Janeiro, 25 de setembro de 1921 - Rio de Janeiro, 05 de julho de 1992) com o qual ilustrou e publicou, durante as décadas de 1950 a 1970, histórias em quadrinhos de cunho erótico que ficaram conhecidas por "catecismos".


História

Alcides Aguiar Caminha, carioca boêmio, ilustrou e vendeu cerca de 500 trabalhos desenhados em preto e branco com tamanho de 1/4 de folha ofício e de 24 a 32 páginas que eram vendidos dissimuladamente em bancas de jornais, devido ao seu conteúdo porno-erótico, ficando conhecidos como "catecismos" e chegaram a tiragens de 30.000 exemplares. Casado desde os 25 anos, com Dona Serat Caminha teve 5 filhos e sempre escondeu de toda a família sua atividade paralela de desenhista e aposentou-se como funcionário público do setor de Imigração do Ministério do Trabalho. Sua identidade somente se tornou pública em uma reportagem da Revista Playboy que foi publicada em 1991, um ano antes de sua morte.
Autodidata no desenho e concluinte do curso de segundo grau somente quando tinha 58 anos, manteve o anonimato sobre sua verdadeira identidade por temer ter seu nome envolvido em escândalo o que lhe traria problemas por se tratar de funcionário público submetido a Lei 1.711 de 1952 que poderia punir com a demissão o funcionário público por "incontinência pública escandalosa" e retirar os proventos com os quais mantinha a família.

Os "catecismos" eram desenhados diretamente sobre papel vegetal, eliminando assim a necessidade do fotolito, e impresso em diferentes gráficas em diferentes Estados, gerando, inclusive, diversos imitadores. Em 1970, durante a ditadura militar, foi realizada em Brasília uma investigação para descobrir o autor daquelas obras pornográficas que chegou a prender por três dias o editor Hélio Brandão, amigo do artista, mas que terminou inconclusa.
Além de seus trabalhos como ilustrador Alcides Caminha foi compositor, inscrito na Ordem dos Músicos do Brasil e parceiro de Guilherme de Brito e
Nelson do Cavaquinho, com quem compôs quatro sambas para a Mangueira, entre eles os sucessos: Notícia, gravado por Roberto Silva na década de 50, e A Flor e o Espinho.

Em 1992 recebeu o prêmio HQMix, pela importância de sua obra. Após sua morte teve um trabalho publicado como homenagem póstuma em 1997 na capa e no encarte do cd "Barulhinho Bom" da cantora Marisa Monte.

Fonte: Wikipédia




Quadrinho tirado da estória "Aventuras de João Cavalo", um dos "catecismos" mais famosos de Zéfiro

Capa do CD "Barulhinho Bom", de Marisa Monte

"Despedida", também marcado pela linguagem erótica direta e reta do autor, como se pode ver no texto do quadrinho

Para saber mais e até mesmo ler estórias completas do autor e entrevista com o mesmo, acesse: http://www.ludmira.hpg.ig.com.br/galeriazefiro/ZefiroP01.htm

E é só. Agora me dá licença que eu vou no banheiro tirar um pigarro do pulmão.

7 Comments:

Blogger Pedro Henrique said...

Culturalmente interessante!!!
E viva o Wikipedia! rsrsrs
Aquele abraço!!!

maio 20, 2006 6:44 PM  
Anonymous Anônimo said...

Seu blog deveria se chamar Guia da Putaria... Mas a informação é interessante rsrs
Bjs

maio 21, 2006 1:45 AM  
Blogger Mila said...

Apelando hein Rafael.
A primeira gravura está bem estranha... nem comento haauaha

maio 22, 2006 4:13 AM  
Anonymous Anônimo said...

Taí, gostei!!
É muito diferente!! Nada de tranzas com ETs..
;/

maio 22, 2006 10:47 AM  
Anonymous Anônimo said...

Taí, gostei!!
É muito diferente!! Nada de tranzas com ETs..
;/

maio 22, 2006 10:47 AM  
Anonymous Anônimo said...

Putaria também é cultura! Esse é um dos álbuns da Marisa Monte que éu mais gosto. Achei que fosse ela na capa, aquela perva... hehehe.
Me lembrei da piada do superman, mulher maravilha e homem invisível, mas contarei numa próxima oportunidade ou em comunidades relacionadas ao assunto.

Bjus lindo!

maio 23, 2006 9:51 AM  
Blogger A. Diniz said...

Putaria é relativo. Putaria é o Kibeloco fazer sucesso como redator das piadas pasteurizadas do Luciano Ceni Huck.

Uma pena que não comecei com esse tipo de arte, fui batizado em fgo mesmo, na base da "revistinha pequena das japinhas", visto que eu tive um fetiche por orientais por bastante tempo.

No mais, estamos bem mais produtivos nessa época... Keep it up!

maio 23, 2006 9:36 PM  

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