terça-feira, abril 18, 2006

Relato de um Sonho: Amor de Sogra

Engraçados os atos mecânicos da mente. Tenho tido sonhos recorrentes nos quais visito a casa de pessoas queridas. Num primeiro sonho eu passava um dia com o Carlitos Tevez. Tá, não o conheço pessoalmente. Tá, não sou gay e, ainda que fosse, jamais sentiria atração por aquele maquinista de trem-fantasma. Sequer entendo o que ele fala. O que motivou o sonho provavelmente foi toda a alegria que o sujeito me deu por meio do futebol. Uma espécie de homenagem onírica para alguém que admiro.

O sonho que realmente me deixou meio tenso foi outro. E venho vários dias depois falar dele aqui. Tem aquela menina por quem sou apaixonado. Poderia escrever seu nome aqui, pois duvido que ela leia o blog. Muitos dos leitores sabem de quem estou falando. É uma menina que não sai da minha cabeça e que volta sempre como um soluço mental.


O sonho foi muito bonito, muito bem engendrado por uma mente capaz de desenvolver ilusões deliciosas. Tudo com requintes de crueldade, é claro. Eu ligava para a casa dela e ME CONVIDAVA para lhe fazer uma visita. Contrariada, ela tentou me dissuadir. Mas viu que não havia jeito e, em algum tempo, eu estava na casa dela. Um sobrado meio estranho, como aquelas casas de filme ianque. O quarto dela uma espécie de sótão. Se eu pudesse andar dentro do meu próprio sonho, eu olharia direto para a mesinha de cabeceira para vislumbrar se a rosa artificial que lhe dei continuava lá. Contudo, sonhos são sonhos e o subconsciente é um roteirista xiita que não admite intromissões em seu trabalho. E ela não estava dormindo, como gosto de pensar nela. Estava muito bem acordada e sozinha em casa. E temia que alguém pudesse chegar. Mas parecia ter esquecido isso quando começamos a conversar e nessa parte o sonho me pareceu ao mesmo tempo real e surreal, porque o prazer que eu sentia ao ouvir sua voz e mais uma vez aceitar sua inteligência e sua personalidade era aquele prazer da vida vigilante de sempre. Mas sentia também um gosto de coisa proibida, de alegria quase sensual de saber que estava com ela ali, diante de mim, íntima e exposta e me dando o presente quase sempre negado e fugidio de sua companhia.

Ficamos assim e eu gozei esse sonho bom. Até que um arrepio sinistro e um fundo musical sombrio deram a deixa para a entrada em cena de uma personagem temida: a mãe dela. Minha pretensa sogrinha. Uma mulher que só conheço de ouvir falar. E de ouvir falar pela boquinha dela (o diminutivo de boca aqui me poupou de uma vergonhosa cacofonia) . Pois bem: a mulher caiu de amores por mim. Tenho que dizer, ainda que com frustração, que nem nos sonhos sou amado pela mulher que desejo. Ela continuava, como na vida real, fingindo ignorar o amor que lhe devoto. Mas a mãe, uma mulher astuta como realmente a imagino, percebeu o que partia de dentro de mim no instante em que me viu. E numa sincronia perfeita de pensamento, desejou o mesmo que eu desejava. E murmurou para minha querida a frase que me perseguiu durante todas essas semanas, que saiu do fundo de minha alma e que meu subconsciente tratou de cifrar numa personagem e numa situação - como se fosse uma lembrança de coisa real acontecida - para me martirizar (ou me fazer refletir) : "Filha, você vai beijá-lo ou não vai?"


E ela reprovou a sugestão da mãe. Com a mesma expressão de espanto que teria feito se eu mesmo tivesse pedido. Não adiantou nem mesmo os apelos de minha estimada sogra para amolecer aquele coração cascudo.

Freud me ensinou a complexidade dos sonhos, ainda que eu não tenha ido a fundo nesse estudo. Mas esses dias pensei numa coisa: a menina, sempre que me falava da mãe, discorria sobre as diferenças ideológicas das duas e sobre como era incompreendida. (Enfim, aquele clichê básico sobre discussões no seio da família de classe média) . E a impressão que eu devo ter tido disso, ainda que subliminarmente, é que uma gosta de contrariar a outra. E que se uma gosta do doce, a outra gosta do azedo. Que se uma quer ir pra praia, a outra quer a montanha. E que a mãe tentou educar a filha da melhor forma - ensinar a ela que o desprezo e a frieza machucam o coração das pessoas - mas que ela não tenha feito caso de todo o esforço empreendido. Como se a "sogra"me dissesse: "Desculpe minha filha! Ela não tem jeito!"

Eu desculpo sua filha e agradeço seus esforços, minha senhora. Bem sabemos que os pais às vezes enxergam as coisas que os filhos não vêem. Como a dor dos pobres coitados que estão apaixonados, por exemplo.

E nos últimos dias não sonhei mais nada. Enquanto isso Carlitos Tevez segue treinando e ganhando dinheiro. E a menina dos meus sonhos cuida de sua vida na qual não há espaço para bobocas lunáticos.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Bobocas lunáticos..
Acho que tô entrando pro grupo.
;/

abril 18, 2006 9:35 AM  
Anonymous Anônimo said...

Vc sempre com sonhos interessantes... Só discordo da parte que vc não é gay e que não quer dar pro feioso corinthiano!!!! rsrs
Beijos

abril 18, 2006 3:28 PM  
Blogger Gabriela said...

Eu particularmente sempre me dei bm com a minha ex-sogra... Minha perrenga era com a sogra dela... e meu sogro...
A verdade é que estou cansada de me iludir com amores desse nipe... Coração burro estúpido, neh? Pelo menos rende seus bons textos...
Bjss

abril 20, 2006 7:48 AM  
Anonymous Anônimo said...

acredita se eu disser q faz tempo q eu não me lembro de um sonho?! eh verdade... ou senão, eu não sonho msm... rs... então, sobre a "devon aoki", ela é uma modelo descendente de japoneses, como vc pôde perceber... mas atua nos cinemas d vez em qdo, como em "+ Velozes, + Furiosos" (interpretando Suki) e em "Sin City", como a maluca das espadas! rsrsrs... Bom, eh isso Rafa, se cuida! Beijos

abril 20, 2006 10:21 AM  
Anonymous Anônimo said...

Bom, odeio o fato de vc ainda estar na dor-de-cotovelo por causa dela [tom de repúdio nesse ´dela´], mas rendeu um ótimo texto!!!
Até suas desventuras são proveitosas, que sirva ao menos de consolo...
Bjuz

abril 22, 2006 11:31 PM  

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