terça-feira, maio 09, 2006

Neimis

Conversava hoje com a Carol sobre o fato de ela não ser a primeira Carolina/Carol a participar da minha vida. Com efeito ela não é. Isso me soou interessante porque, no jogo de idas e vindas que é a vida, existem várias repetições, coincidências, provocações do destino.

Um livro do qual gosto muito é o Cem Anos de Solidão, do García Márquez. Ali existe uma linha temporal muito abrangente (os tais cem anos do título) na qual se sucedem inúmeros personagens masculinos que se chamam, invariavelmente, José Arcadio ou Aureliano. E o autor cria dois temperamentos básicos para os personagens: se um é frio, acomodado e preocupado com tradições familiares, o outro é o oposto, aventureiro. E a matriarca da Família Buendía vê passar por sua longa vida várias gerações de Aurelianos e Joses Arcadios, sempre nessa alternância de personalidades.

Eu dizia para a Carol que me lembro de ter gostado, quando era muito pequeno - na época que brincava no prédio de minha avó - de uma menina chamada Aline. Aquela coisa da primeira paixão platônica. E nessa mesma época, fazia parte da turma uma menina com quem eu vivia às turras, chamada Carolina. Nada disso tem grande importância, na verdade. Nem mesmo o fato de meu primeiro beijo ter sido nessa época, mas não com a Aline de quem eu gostava, e sim com uma guria chamada Michelle (e onze anos depois eu viria a gostar de outra Michelle). Não tem importância também o fato dessa primeira Carolina, a menina chata que me denunciava à mãe dela, hoje ser uma moça com atrativos, sendo que a Aline eu não sei que fim levou (ou não me lembro, pelo menos). Realmente nada disso tem grande importância, pois são reminiscências de um passado muito remoto, no qual eu não respondia criticamente pelos meus atos.

Mesmo assim, o tempo foi passando. Dou um salto agora para o fim da década de 90. Conheci a prima de uns vizinhos meus. Uma das meninas mais lindas que já vi até hoje. Fiquei tomado novamente de paixão juvenil. A criatura se chama Aline. Tudo bem, agora eu já estava lá com meus 13, 14 anos. Já respondia criticamente pelos meus atos, embora essa capacidade crítica ainda fosse muito incipiente. Ela nunca pareceu me dar muita bola, exceto pelo fato de ter ficado olhando para mim durante o tempo que passamos juntos na chácara dos primos dela. Dizem que depois ela fez perguntas sobre mim para a minha vizinha, tia dela. Isso me deixou meio puto. Eu nunca soube paquerar. Sempre fui muito tímido e lamento que a Aline não tenha procedido comigo como fez a Michelle (a menina do primeiro beijo) quando eu tinha seis anos: me arrastasse para um canto e mandasse ver. Eu estava impossibilitado de tomar iniciativas. Deixei a chance passar. Era moleque, mas não esqueço das pernas dela debaixo daquele shortinho curto. Não sei se o shortinho era proposital ou não.

Pouco tempo depois entrei no cursinho. Foi a época em que as paixões começaram a se tornar intensas, assim como as voltas que minha libido dava. No cursinho tinha uma guria que impressionava: morena, pele branquinha, cara de menininha, seios fartos, jeito cool, despojado. Uma puxadora de fumo sapeca de primeira grandeza, cara de safadinha. E chamava-se Carolina. Carol para os íntimos e não-íntimos. Não preciso dizer que, pelo menos no começo desse ano, dei umas viajadas pensando nela. Nalgum dia ela passou por mim e amigos e comentou alguma coisa sobre o fato de estarmos vestindo preto, tentando puxar assunto, já que fazia parte do jeito dela ser simpática com todo mundo. Minha dificuldade de me comunicar com mulheres - especialmente mulheres que me despertam interesse (ler Teoria Pedestáltica) - novamente se manifestou e, sem ter nenhuma sacada boa para lhe responder, disse idiotamente que "estava de luto". "Luto por quê?" - ela indagou e meu amigo punk anarquista que estava junto conosco completou: "Luto pelo sistema". OK, não havia grande possibilidade de eu me relacionar com essa Carol, mas esses diálogos patéticos com meninas interessantes foram construindo em mim uma identidade totalmente loser, na qual sempre vigorou a baixa auto-estima. (Mas não me aprofundarei nisso porque os leitores não merecem aguentar um blog-divã).

Claro que gostei de meninas com outros nomes ao longo da vida também. E isso aconteceu na época de faculdade. Aí as paixões já estavam num grau de intensidade que beirava o insuportável. E, como não poderia deixar de ser, entraram em cena duas novas personalidades para nomes conhecidos: Carolina, uma menina simpática de Santo André que conheci logo nos primeiros dias de Unesp e que - a exemplo do que fez a Michelle no caso do beijo - tomou a iniciativa e me puxou pelo braço para longos anos de cumplicidade e amor fraternal e a Aline de Agudos (Santo André de nascimento), que logo no primeiro dia em que nos vimos começou a fuçar minha intimidade, perguntando detalhes da minha vida amorosa. Tive a compania das duas durante todo esse tempo e certamente a relação que tive com ambas me marcou muito mais do que as paixões platônicas homônimas.

Todo esse pensamento que me veio à mente enquanto conversava com a Carol soava interessante e intrigante. Até que eu mesmo mandei tudo por água abaixo quando pensei numa outra coisa óbvia: mais do que destino, coincidência, ou romance de García Marquez, os pais da minha geração é que não foram muito criativos para nomes, com suas Carolinas, Alines, Michelles, Vivianes, Rafaéis, etc... O intrigante vira banal num piscar de olhos.

8 Comments:

Anonymous Anônimo said...

É, realmente nossa geração não é muito criativa pra nomes... Mas ainda assim prefiro meu nome comum a uma das barbaridades que vejo aqui na escola...
Enfim... Fico contente por (pelo menos) ser a mais importante, já que não sou a única Carolina da sua vida... É... eu sou possessiva... rsrsrs Mas vc também não é o único Rafael da minha vida :P
Beijos

maio 09, 2006 3:38 PM  
Blogger Pedro Henrique said...

DUBAGALHO!!!!!!! Melhor post que já li aqui, em todos os tempos! (e contando com o antigo blog!) E me fez pensar tbm, algo que colocarei em prática no meu blog... rs...
Aquele abraço!! E, ah, o traquejo com as mulheres realmente não nasce da noite pro dia. Sentimo-nos idiotas por algumas atitudes, mas é preciso passar por isso mesmo, faz parte do ciclo da vida, onde contaremos essas aventuras e desventuras para nossas futuras gerações.
Aquele abraço!!!!!!

maio 09, 2006 8:11 PM  
Anonymous Anônimo said...

Gostei da parte que me citou... rs.... Apesar de vc sempre me ilustrar como uma futriqueira / leitora de capricho... Continue nesse ritmo e escreverá suas "memórias póstumas"!!!
Pra variar, ótimo texto, Rafa... Sempre criativo e auto-piedoso... rs...
Bjão, ridículo!!!

maio 10, 2006 1:25 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ótimo texto Rafa.
Meu pai também não foi criativo e isso me resultou numa longa caminhada no dia de ontem. É que cheguei em casa e minha mãe havia deixado um bilhete dizendo que foi à padaria e voltava rápido. Passou uns 30 minutos e, como ela não voltou, fui encontrar com ela. Só que ela não estava nem no caminho, nem na padaria e o celular dela estava em casa. Voltei pra casa e li novamente o bilhete, que na verdade era pra minha irmã LILIAN, que tinha ido em casa a tarde. Me fodi... hehehehe
Eu gosto muito do seu nome, inclusive teve uma época que meu karma era rafaéis, mas isso passou.

Bjus lindo!

maio 10, 2006 9:36 AM  
Blogger A. Diniz said...

O que é um nome? < / citação de Shakespeare > Realmente os nomes são a Bolsa de Valores da vida.

Tanto é que quantitativamente os nomes que mais apareceram foram "Amanda" e "Ana" no meu caso. Não que não tenha havido espaço para nomes estrambólicos no meio do caminho (quem sabe da história, sabe).

Mas a vida é assim, não tem outro jeito de pensar nas coisas.

E concordo com o comentário do pH. Melhor post dos últimos tempos.

maio 10, 2006 9:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nomes.. tu acha o meu esdruxulo? Ia ser Raio de Sol.. deus me livre! Aquele doido puxador de fumo... ainda bem que minha mãe não deixou! Sobre nome de amores comigo também é engracado. Já namorei um Ademir, um Ari, um André, Alvaro.. aaaaa.....

maio 12, 2006 10:34 AM  
Anonymous Anônimo said...

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maio 18, 2006 4:58 PM  
Anonymous Anônimo said...

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maio 19, 2006 3:25 AM  

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