quarta-feira, abril 02, 2008

De um diálogo entre a Mulher de Vidro e o Homem-Pedra

Pensando que necessita tomar uma providência para tirar de cima de si a ziquezira, o Homem-Pedra ostenta, nessa nublada quarta-feira, um olhar triste pregado sobre a mesa de trabalho. Ele espera que a Mulher de Vidro note sua tristeza e pressuponha o motivo de tê-lo assim macambúzio. Mas, qual o quê? A Mulher de Vidro sequer imagina - será mesmo? - que ela é a razão da angústia do Homem-Pedra. Ela aproxima-se então com um sorriso de derreter calota polar e puxa um assunto banal qualquer. O Homem-Pedra, que não é de ferro, esquece-se da sua tentativa de comovê-la e cai no jogo, abre a guarda. Em pouco tempo, ele está falando animadamente com a criatura que mudou a sua vida. Diz uma besteira qualquer e ela solta um daqueles risos desbragados que o deixa com uma vontade de não sei o quê.

Então ele pula pela janela do oitavo andar e cai lá embaixo apoiado nas quatro patas, como um gato selvagem. E, como um gato selvagem, ganha a rua, a despeito dos transeuntes observadores que circulam na tarde vadia.