Reflexões de fim de ano
Mais uma vez me sinto envolvido por aquela sensação de que o mundo está se movimentando enquanto eu estou parado. E o pior é que, ao invés de ambicionar sair desta inércia em que me encontro, sinto-me, ao contrário, desanimado e impelido por alguma força interna a permanecer estático. Fim de ano é sempre esquisito, mas eu esperava encontrar alívio no fim de 2005. Estou encontrando apenas vazio e solidão.
É engraçado a gente pensar no futuro. Eu acho que a ação de imaginar como serão as coisas - ou como queremos que elas sejam - gasta mais energia do que fazer abdominais pela manhã. Quando eu era criança achava que queria ser escritor. Os adultos me perguntavam: "E aí, guri, o que você quer ser quando crescer?", esperando ouvir respostas como "jogador de futebol" ou "bombeiro". E eu respondia: "Quero ser escritor". As pessoas olhavam admiradas. No fim das contas, descobri que não existe a profissão de escritor. Quero dizer, não existe de forma regulamentada, etc. Escrever literatura é um hobbie, como jogar pólo, por exemplo. A diferença é que o pólo existe como profissão. (Pólo. Que merda de exemplo elitista esse!). Aí percebi que maioria das pessoas que tem como hobbie a literatura, geralmente trabalha com jornalismo. Claro que há exceções, Carlos Drummond de Andrade era formado em Farmacêutica. Mas enfim... Então acabei indo atrás do jornalismo. Que pese que comprei pra mim uma glória a mais: realizar a meu pai também, uma vez que o velho aspirou a ser jornalista, mas não passou das provas vestibulares. Então decidi ser jornalista por nós dois.
Tirando uma coisa ou outra, vi a merda que era. Gente egocêntrica, vazia, fútil. Claro que conheci muita gente boa na faculdade também, boas cabeças. Mas sei lá, o pau deu uma murchada. Não dava mesmo pra gozar de lambrecar a alma num curso desses. Eu devia ter treinado mais futebol quando era moleque.
Eu não gosto muito quando me criticam, mas nem sempre aceito bem os elogios. Alguns me surpreendem até. Outro dia, num churrasco desses de família, encontrei uma parente de minha prima. A mulher me conhece desde gurizinho, e deu pra ficar elogiando-me na confraternização. OK, obrigado. Então ela disse que eu deveria me embrenhar na vida pública pois, segundo ela, eu impressionava desde pequeno pela mentalidade política. Não lembro bem, mas devia ser um desses moleques pentelhos metidos a dar pitaco em tudo, reproduzindo algum discurso esquerdista ouvido em algum círculo adulto. Eu era, desde moleque, anti-malufista. Até por influência familiar. E nunca vou perdoar o Maluf. Meu ódio por ele não é pelos milhões de cruzeiros, mil-réis, dólares e reais desviados para a Suíça. Não é pelo populismo escroto e pelo favorecimento familiar. Não é pela merda do Minhocão ou pelo "estupra mas não mata". Meu ódio provém de uma propaganda política dele na qual bandidos saíam de celas escuras cujas portas estavam escancaradamente abertas. Num tom muito sombrio, uma locução anunciava algo como "sem Paulo Maluf, a segurança de São Paulo será desse jeito". Eu tinha uns seis, sete anos, e aquilo me marcou por muito tempo. Bandidos malvadões abrindo a cela do Carandiru e tomando o ônibus na Cruzeiro do Sul, a fim de invadirem a minha casa e me matarem. O pior é que eu era uma criança suscetível e hoje vejo que grande parte dos eleitores de Maluf (e Serra, e Alckmin, e Quércia, etc) são crianças suscetíveis também. Acho que o Brasil é um país de crianças suscetíveis.
Tava assistindo televisão, nessa vida vegetativa e degenerativa que venho levando, e vi um comercial de celular no qual é feita uma paródia à famosa canção natalina "Noite Feliz". Diz a letra: "Noite infeliz/ Noite infeliz/ ó Walmor/ (...)/ Pobrezinho ganhou um pijama/ Queria um celular e agora só reclama/ Dorme em paz ó Walmor..."
Pensei: "Puta que o pariu". Faz tempo que o natal se tornou uma data puramente comercial, mas ainda assim senti um remelexo no estômago. Me deu vontade de ligar pra esse filho da puta desse Walmor e dizer: A) Você não é mais criança. Pára de fazer pirraça e vai trabalhar pra comprar a porra do celular. B) A gente não pode ter tudo o que quer na vida. Você não poderá ter seu celular assim como muitas pessoas gostariam de jantar na noite de natal e não vão poder também. C) Se você não fosse tão tapado e fútil, veria que teu filho mais velho não tem dinheiro pra te dar o celular porque gasta toda a grana que ganha como garoto de programa em cocaína. Tua filha mais nova está às voltas com uma gravidez recém adquirida e provavelmente quem vai bancar a criança é você, Walmor! Tua mulher não te dá o celular porque te considera um fracassado e acha que o que você realmente precisa é de um pijama, já que cama pra você ultimamente só tem servido pra dormir mesmo. (Além do fato de você estar muito velho pra ficar ridiculamente pagando de gatinho no Shopping com um celular que tira foto. Se enxerga!) Mas pro vizinho da frente tua mulher deu uma sunga de oncinha.
Enfim, pensei tudo isso e depois desencanei. Até porque acho que também não vou ganhar nada nesse natal, e falar com o Walmor só me deprimiria mais.
***
É engraçado a gente pensar no futuro. Eu acho que a ação de imaginar como serão as coisas - ou como queremos que elas sejam - gasta mais energia do que fazer abdominais pela manhã. Quando eu era criança achava que queria ser escritor. Os adultos me perguntavam: "E aí, guri, o que você quer ser quando crescer?", esperando ouvir respostas como "jogador de futebol" ou "bombeiro". E eu respondia: "Quero ser escritor". As pessoas olhavam admiradas. No fim das contas, descobri que não existe a profissão de escritor. Quero dizer, não existe de forma regulamentada, etc. Escrever literatura é um hobbie, como jogar pólo, por exemplo. A diferença é que o pólo existe como profissão. (Pólo. Que merda de exemplo elitista esse!). Aí percebi que maioria das pessoas que tem como hobbie a literatura, geralmente trabalha com jornalismo. Claro que há exceções, Carlos Drummond de Andrade era formado em Farmacêutica. Mas enfim... Então acabei indo atrás do jornalismo. Que pese que comprei pra mim uma glória a mais: realizar a meu pai também, uma vez que o velho aspirou a ser jornalista, mas não passou das provas vestibulares. Então decidi ser jornalista por nós dois.
Tirando uma coisa ou outra, vi a merda que era. Gente egocêntrica, vazia, fútil. Claro que conheci muita gente boa na faculdade também, boas cabeças. Mas sei lá, o pau deu uma murchada. Não dava mesmo pra gozar de lambrecar a alma num curso desses. Eu devia ter treinado mais futebol quando era moleque.
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Eu não gosto muito quando me criticam, mas nem sempre aceito bem os elogios. Alguns me surpreendem até. Outro dia, num churrasco desses de família, encontrei uma parente de minha prima. A mulher me conhece desde gurizinho, e deu pra ficar elogiando-me na confraternização. OK, obrigado. Então ela disse que eu deveria me embrenhar na vida pública pois, segundo ela, eu impressionava desde pequeno pela mentalidade política. Não lembro bem, mas devia ser um desses moleques pentelhos metidos a dar pitaco em tudo, reproduzindo algum discurso esquerdista ouvido em algum círculo adulto. Eu era, desde moleque, anti-malufista. Até por influência familiar. E nunca vou perdoar o Maluf. Meu ódio por ele não é pelos milhões de cruzeiros, mil-réis, dólares e reais desviados para a Suíça. Não é pelo populismo escroto e pelo favorecimento familiar. Não é pela merda do Minhocão ou pelo "estupra mas não mata". Meu ódio provém de uma propaganda política dele na qual bandidos saíam de celas escuras cujas portas estavam escancaradamente abertas. Num tom muito sombrio, uma locução anunciava algo como "sem Paulo Maluf, a segurança de São Paulo será desse jeito". Eu tinha uns seis, sete anos, e aquilo me marcou por muito tempo. Bandidos malvadões abrindo a cela do Carandiru e tomando o ônibus na Cruzeiro do Sul, a fim de invadirem a minha casa e me matarem. O pior é que eu era uma criança suscetível e hoje vejo que grande parte dos eleitores de Maluf (e Serra, e Alckmin, e Quércia, etc) são crianças suscetíveis também. Acho que o Brasil é um país de crianças suscetíveis.
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Tava assistindo televisão, nessa vida vegetativa e degenerativa que venho levando, e vi um comercial de celular no qual é feita uma paródia à famosa canção natalina "Noite Feliz". Diz a letra: "Noite infeliz/ Noite infeliz/ ó Walmor/ (...)/ Pobrezinho ganhou um pijama/ Queria um celular e agora só reclama/ Dorme em paz ó Walmor..."
Pensei: "Puta que o pariu". Faz tempo que o natal se tornou uma data puramente comercial, mas ainda assim senti um remelexo no estômago. Me deu vontade de ligar pra esse filho da puta desse Walmor e dizer: A) Você não é mais criança. Pára de fazer pirraça e vai trabalhar pra comprar a porra do celular. B) A gente não pode ter tudo o que quer na vida. Você não poderá ter seu celular assim como muitas pessoas gostariam de jantar na noite de natal e não vão poder também. C) Se você não fosse tão tapado e fútil, veria que teu filho mais velho não tem dinheiro pra te dar o celular porque gasta toda a grana que ganha como garoto de programa em cocaína. Tua filha mais nova está às voltas com uma gravidez recém adquirida e provavelmente quem vai bancar a criança é você, Walmor! Tua mulher não te dá o celular porque te considera um fracassado e acha que o que você realmente precisa é de um pijama, já que cama pra você ultimamente só tem servido pra dormir mesmo. (Além do fato de você estar muito velho pra ficar ridiculamente pagando de gatinho no Shopping com um celular que tira foto. Se enxerga!) Mas pro vizinho da frente tua mulher deu uma sunga de oncinha.
Enfim, pensei tudo isso e depois desencanei. Até porque acho que também não vou ganhar nada nesse natal, e falar com o Walmor só me deprimiria mais.
7 Comments:
atendendo aos seus pedidos tao suplicantes, cah estou. li seu post e me identifico com ele em algumas partes... acho q soh posso dizer q isso eh uma fase msm, somos todos jovens e temos mto tempo pela frente para descobrir, viver, presenciar e aprender novas coisas. Fim de ano ultimamente não foi uma coisa boa pra mim tb. na verdade, era deprimente. fico mais velha, mais um ano se passa, e tantas outras coisas... mas, toca pra frente, rafa. continue dizendo oq acha das coisas, extravaze seus sentimentos tão bem como sempre fez. e vc é um ótimo escritor!
Bjos
nossa, esse meu comment ficou com um tom mto serio! rsrsrsrs!!! mas era mais ou menos isso msm q eu queria dizer!!!!
Cá estou Rafinha, lendo seu blog e comentando. Desculpe a ausencia, ainda estou com problemas técnicos.
Fim de ano é um saco mesmo, ainda bem que ainda nos restam alguns amigos pra beber com a gente e nos animar.
Se cuide lindo, bjus!
Bom, fim de ano só serve para ver filme velho-novo na televisão. E só. E também para comer, coisa que bauruense faz e muito mal. Quando vier para SJC, um dia, recomendarei uma carne-de-primeira que conheci uma noite dessas. Coisa fina.
Que dramalhão hein?? (tô falando do e-mail ao grupo). Pois bem, tô aqui pra dizer que vc não tá sozinho e nem nunca vai ficar. Também quero dizer que vc é o magrinho mais lindo (assim como o Mercinho) que eu já conheci. E que além de ser muito inteligente, vc também é muuito legal, muuuito engracado e muito amigo. Teu blog é lindo apesar de ser atualizado demaiiiiisssss. E eu digo mais, se cada postagem constasse apenas 30 linhas eu até iria ler e comentar, mas como sempre ultrapassa as 350 o jeito é eu só comentar e um dia imprimir td e levar pra ler em casa de ressaca deitada no quintal. PRONTO! Vou voltar pro trabalho agora...
BJOS!!!!!
Só vim aqui pq vc colocou seu endereço de blog na assinatura de e-mail, depois leio o que vc postou, ok? rsrsrssrsrsrs... cara-de-pau existe em tudo quanto é lugar!! Huahuahua!!!
"Acho que o Brasil é um país de crianças suscetíveis.".
É rafa... novamente, no coments no coments...
Qto ao mail pra te lerem.... Menos,amigo, estamos aih...
Qto às dúvidas futuristas? Infelizmente sentidas no presente, acho q todos as têm de alguma maneira.... Seja por planos q se modificam, e perdemos o rumo do q realmente queremos atingir, seja por realmente não saber o q fazer.... A inércia eh importante.... Deixa-a te enclausurar.... Afinal, por trás de um casulo existe uma borboleta....
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