sexta-feira, março 24, 2006

Loser F.C. (Reflexões sobre caminhadas a pé e ao relento)

Abrindo o post com uma letrinha singela da tranqueira que foram os anos 80:

A Vida Não Presta
(Leo Jaime/ Leandro/ Selvagem Big Abreu)

Você vai de carro pra escola
E eu só vou a pé
Você tem amigos à beça
E eu só tenho o Zé
Pra consolar, as tardes de domingo
Que eu passo a sofrer
Sonhando em ter
Um carro conversível
Pra você me querer
Quantas noites em claro eu passei
Tentando te esquecer
Quando à noite eu consigo dormir
Eu sonho é com você
A me dizer
Pra não ter ilusões
Que entre nós não pode ser
E é mesmo assim
Nem mesmo no meu sonho
Eu posso ter você pra mim
Eu tentei naquela festa
Você fugiu de mim
E eu pensei:
A vida não presta, ela não gosta de mim
Eu pensei:
A vida não presta, ela não gosta de mim.


Pois é, amigos do Sonhos e Clichês. A vida é feita também de grandes relatos sobre coisas pequenas e grotescas. Nem tudo que a gente faz e sente pode ser epopéico. Aliás, poucas coisas o são. Na maioria das vezes nos vemos envolvidos em situações ridículas, medos descabidos e nos sentimos de tal forma diminuídos perante o mundo, que necessária se faz uma forma de exteriorizar isso. Eu, que nunca fui um poço de auto-estima e confiança em mim mesmo ("Eu que sempre sonhei, mas não acreditei muito em mim" - Você, Tim Maia) venho progredindo bastante nesse sentido nos últimos tempos. Na verdade, passei a me achar um cara bacana. E fui, assim, deixando pra trás aquele rancor e aquele cagaço que eu tinha diante das coisas da vida. Em outras palavras, eu fui me desvencilhando do meu passado, das minhas frustrações, das minhas lembranças ruins. Ainda que fizesse isso me apoiando em amigos e nunca num amor verdadeiro. Ainda que me sinta solitário e um pouco "loser" às vezes. Ainda que tenha lá minhas recaídas e fique perguntando a mim mesmo se não sou um bosta. Ainda que, como disse o rapaz na canção, eu só ande a pé enquanto ela prefere um cara "bobo, bonzinho e que tenha carro" - e, no meu caso, só faltaria ter carro mesmo.


Mas o negócio é que no mundo não existem só pessoas motorizadas. Eu já tive grande raiva de certas futilidades femininas, até porque fui criado com valores bem específicos. Hoje em dia, eu vejo que a mentalidade das pessoas pode mudar e que por isso não devo mais questionar certas coisas. Que, afinal de contas, a gente sempre pode descobrir uma nova faceta dentro de cada pessoa e uma forma de quebrar a auto-confiança dela, se isso for necessário. O que quero dizer é que todo mundo tem seu lado "loser". Mesmo a líder de torcida do filme americano clichê pode ser uma maria-ninguém aos olhos de alguém, como efetivamente acontece no "Beleza Americana". E, porra, mesmo não sendo um cara muito popular, eu sempre pude cativar uma ou outra pessoa e construir amizades sinceras e desinteressadas. Isso conta um bocado.


"Estou cansado de bater/ E ninguém abrir/ Você me deixou sentindo tanto/ Frio/ Não sei mais o que dizer..."


E por falar em músicas loser, lembro-me da Legião. Nesses dias em Bauru, tive a chance de ouvir novamente o "As Quatro Estações", pertencente ao André Diniz e que embalou meus primeiros dias na terra do sanduíche. Quatro anos depois, algumas coisas ainda ecoam na minha cabeça, alguns versos das músicas que poderiam muito bem ser versos meus dos primeiros poemas escritos na época das descobertas. Impressionante mesmo o poder de identificação que as músicas do Renato Russo exerce sobre as pessoas.

Eu era um lobisomem juvenil

(Letra: Renato Russo - Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá)


Luz e sentido e palavra
Palavra é que o coração não pensa
Ontem faltou água
Anteontem faltou luz
Teve torcida gritando quando a luz voltou
Não falo como você fala
Mas vejo bem o que você me diz
Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo
Prefiro acreditar no mundo do meu jeito
E você estava esperando voar
Mas como chegar até as nuvens com os pés no chão?
O que sinto muitas vezes faz sentido
E outras vezes não descubro o motivo
Que me explique porque é que não consigo
Ver sentido no que sinto, o que procuro
O que desejo e o que faz parte do meu mundo
O arco-íris tem sete cores
E fui juiz supremo
Vai, vem embora
Volta
Todos tem, todos tem suas próprias razões
Qual foi a semente que você plantou?
Tudo acontece ao mesmo tempo
Nem eu mesmo sei direito o que está acontecendo
E daí, de hoje em diante
Todo dia vai ser o dia mais importante
Se você quiser alguém pra ser só seu
É só não se esquecer: estarei aqui
Se você quiser alguém pra ser só seu
É só não se esquecer: estarei aqui
Não digo nada, espero o vendaval passar
Por enquanto eu não sei
O que você me falou me fez rir e pensar
Porque estou tão preocupado por estar tão preocupado assim?
Mesmo se eu cantasse todas as canções
Todas as canções, todas as canções
Todas as canções do mundo
Sou bicho do mato mas...
Se você quiser alguém pra ser só seu
É só não se esquecer: estarei aqui
Ou então não terá jamais a chave do meu coração.
Do regresso a Bauru trago a sensação de que a coisa realmente passou. Me senti, apesar de rever os amigos que ainda estão por lá, muito perdido dentro do tempo e do espaço. Além de remexer em feridas antigas, senti que não faço mais parte daquele universo. E a placa em homenagem aos fomandos de Jornalismo 2005, na qual está meu nome, junto ao Departamento de Comunicação, indica realmente que eu efetivamente faço parte do passado da Unesp. É um pouco doloroso pensar nisso tudo, ainda mais eu, que sou um saudosista filho da puta. Bom, o tempo passou mesmo e agora é partir pra outras. Embora a gente sempre dê uma olhadinha pra trás.
E bem ou mal, ainda tenho vínculos com Bauru e com meu passado.
Post longo do caraio. Estou de volta.

2 Comments:

Blogger Gabriela said...

Mas, nem pra visitar Outros Amigos??? Ahh... to de mal...
Vê se da próxima vez dê o ar da graça!

março 27, 2006 8:08 AM  
Anonymous Anônimo said...

Oi Rafa!!! Imagino como esteja se sentindo... deve ser duro deixar uma coisa à qual vc estava habituado, mas q, ao msm tempo, vc gostaria d uma certa forma q acabasse logo... qdo esse dia finalmente chega, vc percebe q deixará mtas coisas para trás (contudo, algumas permanecerão, pq de tudo a gnt leva um pouco), mas infelizmente (ou felizmente) as coisas são assim, deixar uma vida para trás para começar uma vida nova, com novos amigos, novo espaço e novo tempo! E isso q faz a nossa vida não ser tão entediante!! hehehehe! Beijos e se cuida! =)

março 27, 2006 10:06 AM  

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