segunda-feira, maio 29, 2006

Da série: Coisas que me fazem ter vontade de enfiar uma bala nos cornos

Segue abaixo a lista de livros mais vendidos da semana, segundo a Folha de S. Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u59853.shtml):



Ficção

1 - O Caçador de Pipas - Khaled Hosseini - ed. Nova Fronteira - R$ 34,90 (368 págs.)
2 - Mentiras no Divã - Irvin D. Yalom - ed. Ediouro - R$ 49,90 (404 págs.)
3 - O Código Da Vinci - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 39,90 (480 págs.)
4 - Ponto de Impacto - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 39,90 (448 págs.)
5 - Memória de Minhas Putas Tristes - Gabriel García Márquez - ed. Record - R$ 24,90 (128 págs.)

6 - Quando Nietzsche Chorou - Irvin D. Yalom - ed. Ediouro - R$ 44 (412 págs.)
7 - Anjos e Demônios - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 39,90 (464 págs.)
8 - Harry Potter e o Enigma do Príncipe - J.K. Rowling - ed. Rocco - R$ 54,50 (512 págs.)
9 - Os Crimes do Mosaico - Giulio Leoni - ed. Planeta - R$ 39,90 (382 págs.)
10 - Fortaleza Digital - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 29,90 (336 págs.)



Não-Ficção

1 - A Arte da Política - Fernando Henrique Cardoso - ed. Civilização Brasileira - R$ 70 (700 págs.)
2 - Falcão - Meninos Do Tráfico - Mv Bill E Celso Athayde - ed. Objetiva - R$ 33,90 (252 págs).
3 - O Doce Veneno do Escorpião - Bruna Surfistinha - ed. Panda - R$ 23,90 (172 págs.)
4 - Quase Tudo - Danuza Leão - ed. Companhia das Letras - R$ 38 (224 págs.)
5 - O Mundo É Plano - Thomas L. Friedman - ed. Objetiva - R$ 57,90 (472 págs.)
6 - O Pasquim - Antologia 1969-1971 - Vários - ed. Desiderata - R$ 69 (352 págs.)
7 - O Retorno do Chef Sem Mistérios - Jamie Oliver - ed. Globo - R$ 69 (288 págs.)
8 - Stálin - A Corte Do Czar Vermelho - Simon Sebag Montefiore - ed. Companhia das Letras - R$ 69 (912 págs.)
9 - Juscelino Kubitschek, O Presidente Bossa Nova - Marleine Cohen - ed. Globo - R$ 42 (312 págs.)
10 - A Mosca Azul - Frei Betto - ed. Rocco - R$ 32 (320 págs.)


A lista é feita com base na soma do número de exemplares vendidos entre 4/4 e 10/4, divulgado pelas seguintes livrarias: Siciliano (todo o país), Saraiva (todo o país), Laselva (todo o país), Sodiler (Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Maceió, Natal), Cultura (São Paulo, Porto Alegre e Recife), Fnac (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília), Livraria da Vila (São Paulo) e Livrarias Curitiba (Curitiba, Londrina, Florianópolis, Joinville, Porto Alegre).


Eu estava refletindo há pouco sobre umas coisinhas que estão acontecendo no âmbito "cultural" do Brasil. Na verdade, é uma reflexão antiga e que qualquer mente sensata pode ter. Já estava pensando nisso desde que estive na Bienal do Livro em São Paulo, várias semanas atrás.


Pesa sobre o brasileiro a fama de não ser um leitor assíduo. Uma fama bem justificada por estatísticas, diga-se de passagem. Aí a gente observa essa lista de livros mais vendidos pra saber o que desperta interesse nessas poucas pessoas que ainda lêem no Brasil. E eis aí a razão do meu emputecimento:

- Bruna Surfistinha, uma provável semi-analfabeta, escreve um livro cujo título mais apropriado seria "Como dar o cu sem vaselina e outras futilidades", contando detalhes de sua vida de putarias com o intuito de "escandalizar" a classe média e polemizar e, por mais absurdo que isso seja, vende mais do que autores sérios que dedicaram suas vidas à literatura. Quero deixar bem claro aqui, para juízo, que não tenho nada contra a classe das profissionais do sexo e acho até que é um desprestígio para elas ter uma moça como a Surfistinha como sua representante midiática. A classe das putas é muito mais heterogênea e complexa do que o esteriótipo criado em cima da Bruna, da garotinha riquinha e deslumbrada que quer ganhar dinheiro e posar de subversiva. Uma pessoa que, preconceitos à parte, não tem mesmo nada de relevante pra dizer. E muito menos algo que valesse a vendagem expressiva que ela teve. Qual mensagem ela transmite em seu livro?


- Dan Brown: sucesso arrebatador com seus livrinhos de especulação histórica e lendas de almanaque pretensamente "históricos". Fui assistir o filme inspirado no seu "Código Da Vinci" no último sábado e saí da sala meio desgostoso da vida. Parece que basta polemizar em cima de religião ou de costumes pra se fazer sucesso. A impressão que se tem é essa. Pessoas cada vez mais preocupadas com a vida pessoal de Jesus Cristo (que se voltasse nos dias de hoje, seria perseguido por paparazzis e não mais por judeus ou soldados romanos) do que com seus ensinamentos. Tudo bem, é uma visão moralista, religiosa e pessoal minha. Mas mais moralistas são as pessoas que se "escandalizaram" ou se interessaram com demasiado furor pelo filme (e pelo livro). Eu achei tudo uma grande balela caça-níqueis. Além de desprestígio para os historiadores de verdade, que devem estar passando fome nesse momento, enquanto o Dan enche o rabo de prata.


- FHC ensinando política (!!!) no seu livro oportunista. Afinal de contas, até tucano tá achando que pode dar lição de moral no país em que o Lula não sabe de nada. Não preciso dizer mais nada.


- Edílson Pereira de Carvalho: apesar de não figurar nessas listas, ouvi dizer que seu livro - no qual se gaba das falcatruas que cometeu nos tempos em que era arbitro de futebol (cuja história todos conhecem devido ao escândalo de manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro de 2005) - está vendendo bem. Ou seja, um cara comprovadamente filho-da-puta parece estar ganhando fãs por sua "honestidade em assumir que errou". Perdoa-se o criminoso e quase se aplaude seus crimes. Brincadeira isso né? Inversão de valores? Imagina...


Ou seja, parece que o que atrai as pessoas são os livros escritos por putas e putos, ou que falem de putas e putos. Um dos poucos livros excelentes que figuram na lista de ficção é o "Memória de minhas putas tristes", que só deve tá lá por causa do título. O mar de futilidade banha a praia cultural brasileira. E eu, que sequer sou um leitor assíduo - admito! - me sinto um peixe fora d'água e vejo que há pouca luz no fim do túnel. Muita gente acha um absurdo o fato do Paulo Coelho pertencer agora à Academia Brasileira de Letras. Eu nem acho mais isso. Cada um tem o fardão que merece.


E, pra finalizar, peço licença ao Cazuza (rezando pra que ele não se remexa no túmulo) pra modificar um pouquinho aquela música dele. Porque, "enquanto houver classe média, não vai haver poesia".


Dedico esse post cheio de rancor e preconceito a todos os escritores fracassados e a também as pessoas de bom senso como o Bóris Casoy, que diria que "isso é uma vergonha!"

10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Heheheh...você nervoso é engraçado...mas é, queridão, putaria interessa tanto que seu post sobre a Emanuelle foi um dos mais comentados, segundo você mesmo.
Tá lá, mas tá aqui também. São eles e somos nós. Tudo uns puto.

maio 30, 2006 12:33 AM  
Anonymous Anônimo said...

Calma Rafa... O que vc chama de futilidades, interessa a todo mundo, afinal quem não gosta de uma putariazinha ou uma leitura despretenciosa só pra passar o tempo. O problema está em SÓ isso ser importante. Em garotas de programa metidas a besta serem celebridade e grandes autores serem desconhecidos.
Eu sei que vc ainda está na faculdade de jornalismo, mas por favor não faça como nossos colegas que nos envergonham... Falando mal da cultura de massa, disso e daquilo e é só tomar uma cerveja que saem recitando os "versos" de um funk ou pagode qualquer, mexendo a bunda como qualquer surfistinha da vida!
Ainda assim muito válida sua indignação!

maio 30, 2006 2:06 AM  
Anonymous Anônimo said...

Carol e Stu disseram tudo. Era isso que eu queria passar. A questão que me aborrece é a valozização de algumas coisas e a desvalorização de outras. não proponho que se queime os livros da Surfistinha no melhor estilo "Inquisição", mas que se saiba sempre que aquilo é sub-leitura e sub-cultura. E que essa "autora" não pode ser levada a sério por ninguém.

Deco.

maio 30, 2006 3:33 AM  
Blogger Pedro Henrique said...

Falou tudo, meu velho, post perfeito. Nem tenho palavras à acrescentar. Só digo que partilho da mesma opinião. Abraço!

maio 30, 2006 7:44 PM  
Blogger Mila said...

Olha Rafa, vc tb não pode dizer muito já que há tempos, e nem tanto tempo assim, vc também resolveu apelar para a putaria hauahuaua.... brincadeirinha!
O que vc escreveu é o que todo mundo pensa... eu tb já abri a lista de mais lidos da veja procurando algo pra ler e não vi nada de bom.. conclusão: não li nada!
Quanto gostar de texto pra se descontrair tudo bem, eu concordo, vc sabe como eu curto coisas populares, tanto que adoro assistir novela, mas esse livro da Sufistinha é uma porcaria até no quesito poracaria... Eu já tentei ler para me divertir, mas é muito mal escrito, acho que tem escritoras que fariam melhor e mais atraente um livro como o dela de putaria mesmo que nunca tenha sido puta.

maio 31, 2006 2:49 AM  
Anonymous Anônimo said...

E ae meu caro?!
e voce ainda se questona quanto a ser um bom fomrador de opinião?

maio 31, 2006 11:11 AM  
Anonymous Anônimo said...

Cirio não...eh Sirio! rs

maio 31, 2006 11:12 AM  
Anonymous Anônimo said...

É engraçado como tudo que é mais vendido, mais tocado e campeão de bilheteria (salvo O Senhor dos Anéis) é uma bosta.
E viva a sociedade alternativa!

Bjus lindo

maio 31, 2006 12:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

Existem milhões de motivos para as pessoas lerem esses livros "banais".
Um deles, pense comigo, e provavelmente o maior deles, é CULPA DA IMPRENSA que só divulga essas merdas, não é verdade? Não estou dizendo que eles estão errados, pq todo mundo nesse mundo só olha para o próprio umbigo, e eles visam LUCRO.
E também tem um outro lado, que é o PREÇO. Livros bons geralmente não são baratos. Vc gastaria uma grana num livro sem uma indicação?
E também as pessoas querem algo para distrair, e não uma leitura pesada que leve a reflexão. Isso devido a vários motivos, falta de tempo, falta de costume, falta de conhecimento, etc...

Cada um tem (ou não) um motivo pra ler o "lixo cultural". Mas pense, se não fosse o lixo, como vc poderia classificar algo de "bom"?

maio 31, 2006 12:55 PM  
Blogger A. Diniz said...

Agruras da vida. Resigna-se e aceita-se. Dan Brown é fast-food, o que impressiona é como as pessoas levam tudo a sério. Por isso ainda se vota no Enéas Carneiro nesse país.

E Senhor dos Anéis é legal. Fantasia é legal, oras bolas!

Porque todo mundo gosta de comer no McDonald's, até mesmo os comunistas e os emos. Né não Lili?

maio 31, 2006 8:11 PM  

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