quinta-feira, agosto 10, 2006

Envolvido numa corrente de pensamentos enquanto assistia tevê, de repente comecei a sonhar acordado. Imaginei-me um dia andando por Paris, fotografando paisagens, quando cruzo com ela. Uma coincidência hedionda. Assim eu classificaria um encontro desses.

Mas tudo bem, não seria mesmo a primeira vez que nossas vidas batem como um bolo feito na mesma forma. O mundo, tanto pra mim quanto pra ela, jamais se restringiria à Zona Norte de São Paulo ou a uma cidade quente do interior. E por essa razão a possibilidade de reencontro se clareou e pude vê-la pasma quando avancei em direção a ela. Relutou em demonstrar que me havia reconhecido. Nós dois mais velhos. Eu mais seguro de mim, de certo.

Depois das exclamações espantadas de praxe, que duas pessoas que se conhecem (mas não se conhecem de fato) trocariam ao se encontrar num lugar tão improvável, eu a convido para um café. Convido com segurança, com insistência, convido de forma infalível. Desta vez nem mesmo ela poderia me dizer não.

- Estou cansado de conversar apenas em francês. Só tenho contato com o português quando ligo pra minha mãe. Além do mais, quero saber o que você anda fazendo.

Ela não se casou. Eu sou divorciado, tenho um filho. (Pensando bem, soa um pouco egoísta a idéia de que ela jamais tenha se casado, mas enfim, isso é um relato sincero e foi mesmo assim que imaginei tudo). Falamos sobre nossas vidas profissionais, embora eu não tenha muito interesse em discorrer sobre isso. Eu tenho vontade de dizer pra ela o quanto seu sorriso continua lindo. E como sempre achei isso, desde a primeira vez em que reparei nele sem querer. Mas não lembro se disse ou não. Ela se realiza estando em Paris. Era o sonho da vida dela. Bem, na verdade o sonho da vida dela seria encontrar o Chico Buarque num café em Paris. O fato de eu não ser o Chico Buarque, neste caso, é de se lastimar, portanto.

Ela olha pra mim. Não sei o que vê. O fato é que estou diferente. Torço para que ela possa ver beleza em mim. A luz da esperança: eu demorei para ver a beleza que havia nela. A beleza daquele sorriso, por exemplo, que se exibia, cortês e grato, aos meus esforçados gracejos, que o tempo não tornou mais hábeis.

Preparo para continuar sonhando, para evoluir a história enfim para um final feliz.

Bobagem. A tevê grita alguma bobagem e eu volto aos pensamentos práticos. Paris é muito longe e o Tucuruvi é mais ainda.

5 Comments:

Blogger Gabriela said...

ai... nao... mas td bem...
continue a escrever assim...
os meus textos soh são uma desculpa para a existencia do freud....
os seus sao um legado...
bjss

agosto 10, 2006 2:23 PM  
Blogger A. Diniz said...

pelo menos vc ainda sonha, veja essa vantagem sua. Deixei de sonhar há muito.

E ah, eu atualizei o blog tambem, certo?

agosto 11, 2006 11:07 PM  
Blogger Mila said...

Rafa, comecei ler o texto e achei que era porque vc estava assistindo Cobra e Lagartos com a Cléo Pires... continuo achando que é a Cléo!
Porém, tem uma semelhança comigo!
Paris? Chico Buarque? Seria eu a moça?
Rafa, VC ESTÁ APAIXONADO POR MIM? AHUAhuaHAu
Fiz uma história parecida uma vez, mas era um encontro no metrô que ninguém fala com ninguém.. qualquer dia posto no blog.

agosto 12, 2006 5:20 AM  
Anonymous Anônimo said...

Não Cami, a moça em questão não é vc, tampouco a Cléo Pires.

E esse relato todo não surgiu bem de um sonho, mas de uns devaneios da minha cabeça.

Ass: Rafa

agosto 12, 2006 4:58 PM  
Anonymous Anônimo said...

Rafa.. continue com esses devaneios que logo logo vc tira o lugar no Manoel Carlos!!!! =P
Enfim... Muito bom o texto! Mas concordo sobre os comentários do meu blog, um pouquinho de novidade faz bem.

agosto 13, 2006 9:00 PM  

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