Por um maço de cigarros menos ordinário
Recibo do motel no meio daquele livro. Pontada cruel de lembrança.
Decidi que era hora de parar com a limpeza das velhas tralhas. O pó já tinha deixado minha rinite à toda. Vesti o casaco e saí, com pouco dinheiro no bolso. Pedi um pingado na padaria, na TV passava um jogo de futebol. O cara deu um carrinho violento no adversário e foi expulso. Um velho ficou puto, começou a gritar no bar. De repente outro se levantou do balcão, partiu pra cima dele, estourou-lhe uma garrafa de cerveja na cabeça. Tudo aconteceu diante dos meus olhos, mas eu sentia os acontecimentos como se estivesse vendo um filme. Os amigos do agredido partiram pra cima do agressor. De repente, percebi que estava no meio da coisa, de pé no centro da padaria, no olho do furacão. Alguém chegou furioso e me deu um soco na boca do estômago. Depois um pontapé nos fundilhos. Finalmente um soco na cabeça. Senti a iluminação diminuindo, três, dois, um. Preto.
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Deixei de acreditar em qualquer coisa. Ceticismo contra a parede de sujeira que é a mente humana. Esvaziei uma garrafa de vodca com sprite pra tomar coragem de fazer o que era necessário. Mas como ia ser? Barulhento? Com sangue por todos os lados? Ou uma morte limpa e sem ruídos?
Pensei em enforcamento. Mas daria muito trabalho. Primeiro porque não teria uma corda à mão e seria necessário improvisar. Além disso, aquele lustre não ia aguentar o peso do corpo, ia ceder e eu ia me ralar todo.
Fui à cozinha. Abri a gaveta de talheres. Peguei a faca mais afiada, olhei-a por alguns instantes. Logo desisti da idéia. "Com faca vai doer pra caralho".
Podia pular pela janela, mas sempre achei escrotos suicidas que causam transtornos à rotina dos outros. Ninguém tem que se foder com as minhas decisões.
O que fazer? O que fazer? Sentei-me no chão e olhei para o relógio. Não queria pensar muito. Tinha medo de fraquejar.
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O sol trespassou o vidro da janela e veio direto na minha cara, me acordando. Era domingo e eu estava puto da vida. O hematoma na minha cabeça latejava. Levantei-me, joguei uma água no rosto. Dor de cabeça homérica de ressaca. Tocou a campainha. Era ela.
"Vim te devolver suas coisas".
Entrou. Botou reparo na zona em que estava o apartamento.
"Não tive tempo de arrumar", respondi.
Foi à cozinha, disse que ia fazer um almoço. Ia me opor, mas não tinha ânimo mais. Comemos.
"Ainda podemos ser amigos".
"Amigo de cu é rola".
"Então é assim que vai ser? Você não vai aceitar numa boa?"
Olhei bem pra cara dela. A vaca queria minha amizade pra que? Pra me contar as transas que ia ter com outros caras? Imaginei-a pagando um boquete pro dono da padaria. Um sorriso maldoso passou pela minha expressão. Ia pedir pra ela me chupar de novo, pela última vez. Achei indigno. Resolvi fazer outra coisa.
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A vizinha ouviu os gritos e chamou a polícia. Eles me levaram às três da tarde do domingo. Um dos policiais me deu um soco exatamente no mesmo lugar do abdôme onde eu tinha sido ferido na briga da padaria. Doeu pra porra.
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Decidi que era hora de parar com a limpeza das velhas tralhas. O pó já tinha deixado minha rinite à toda. Vesti o casaco e saí, com pouco dinheiro no bolso. Pedi um pingado na padaria, na TV passava um jogo de futebol. O cara deu um carrinho violento no adversário e foi expulso. Um velho ficou puto, começou a gritar no bar. De repente outro se levantou do balcão, partiu pra cima dele, estourou-lhe uma garrafa de cerveja na cabeça. Tudo aconteceu diante dos meus olhos, mas eu sentia os acontecimentos como se estivesse vendo um filme. Os amigos do agredido partiram pra cima do agressor. De repente, percebi que estava no meio da coisa, de pé no centro da padaria, no olho do furacão. Alguém chegou furioso e me deu um soco na boca do estômago. Depois um pontapé nos fundilhos. Finalmente um soco na cabeça. Senti a iluminação diminuindo, três, dois, um. Preto.
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Deixei de acreditar em qualquer coisa. Ceticismo contra a parede de sujeira que é a mente humana. Esvaziei uma garrafa de vodca com sprite pra tomar coragem de fazer o que era necessário. Mas como ia ser? Barulhento? Com sangue por todos os lados? Ou uma morte limpa e sem ruídos?
Pensei em enforcamento. Mas daria muito trabalho. Primeiro porque não teria uma corda à mão e seria necessário improvisar. Além disso, aquele lustre não ia aguentar o peso do corpo, ia ceder e eu ia me ralar todo.
Fui à cozinha. Abri a gaveta de talheres. Peguei a faca mais afiada, olhei-a por alguns instantes. Logo desisti da idéia. "Com faca vai doer pra caralho".
Podia pular pela janela, mas sempre achei escrotos suicidas que causam transtornos à rotina dos outros. Ninguém tem que se foder com as minhas decisões.
O que fazer? O que fazer? Sentei-me no chão e olhei para o relógio. Não queria pensar muito. Tinha medo de fraquejar.
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O sol trespassou o vidro da janela e veio direto na minha cara, me acordando. Era domingo e eu estava puto da vida. O hematoma na minha cabeça latejava. Levantei-me, joguei uma água no rosto. Dor de cabeça homérica de ressaca. Tocou a campainha. Era ela.
"Vim te devolver suas coisas".
Entrou. Botou reparo na zona em que estava o apartamento.
"Não tive tempo de arrumar", respondi.
Foi à cozinha, disse que ia fazer um almoço. Ia me opor, mas não tinha ânimo mais. Comemos.
"Ainda podemos ser amigos".
"Amigo de cu é rola".
"Então é assim que vai ser? Você não vai aceitar numa boa?"
Olhei bem pra cara dela. A vaca queria minha amizade pra que? Pra me contar as transas que ia ter com outros caras? Imaginei-a pagando um boquete pro dono da padaria. Um sorriso maldoso passou pela minha expressão. Ia pedir pra ela me chupar de novo, pela última vez. Achei indigno. Resolvi fazer outra coisa.
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A vizinha ouviu os gritos e chamou a polícia. Eles me levaram às três da tarde do domingo. Um dos policiais me deu um soco exatamente no mesmo lugar do abdôme onde eu tinha sido ferido na briga da padaria. Doeu pra porra.
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