sábado, outubro 11, 2008

100 anos de Mestre Cartola

Em homenagem ao saudoso Cartola, que se estivesse vivo estaria fazendo hoje cem anos, republico (**) trecho de um livro muito bom, de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, "A Canção no Tempo: 85 Anos de Músicas Brasileiras", Vol. 2: 1958-1985. No livro os autores contam a história e o contexto das principais canções da Música Popular Brasileira ao longo das décadas e no trecho escolhido falam sobre "As Rosas Não Falam", canção mais conhecida de Cartola.







"As Rosas Não Falam", Cartola




A história de "As Rosas Não Falam" começou numa tarde de 1975 em que o compositor Nuno Veloso apanhou Cartola e sua mulher Zica para um passeio na Barra da Tijuca, onde pretendia visitar Baden Powell. Não tendo encontrado a casa do violonista, Nuno resolveu aproveitar a viagem para passar numa floricultura e comprar para Zica umas mudas de roseira que lhe havia prometido. Tempos depois, flores desabrochadas dessas roseiras provocariam a indagação entusiástica de Zica ("Como é possível, Cartola, tantas rosas assim?...") e a resposta desinteressada de Cartola ("Não sei. As rosas não falam..."), que ele acabaria aproveitando como mote para a canção: "Queixo-me às rosas/ Mas que bobagem, as rosas não falam/ simplesmente as rosas exalam/ o perfume que roubam de ti..." Composta quando o autor completava 67 anos, "As Rosas Não Falam" foi lançada em 1976, num elepê notável, produzido por Juarez Barroso, o segundo de Cartola na gravadora Marcus Pereira. Neste álbum ele apresentava outras inéditas como a também obra-prima "O Mundo É um Moinho". Além da delicadeza e do requinte, o que espanta nessas músicas é o fato de terem sido criadas pelo compositor numa idade em que a maioria das pessoas já se encontra aposentada, sem muita coisa a oferecer. Cartola é um caso especial em nossa música popular. Homem de origem e vida modestíssimas, era, ao mesmo tempo, o poeta/compositor sofisticado. Pena que somente nos últimos anos de vida tenha conseguido gravar a maior parte de sua obra.








** Publicado originalmente em Sonhos e Clichês (www.freud_aperta_um.weblogger.com.br), no dia 19 de outubro de 2005.