quarta-feira, dezembro 23, 2009

Do amor e outras bobagens

É loucura, ou talvez a carência mais uma vez me impedindo de usar a razão.



Mas eu queria estar frente-a-frente com ela de novo. Dizer que nunca cheguei a esquecê-la. Que sinto falta de abraçá-la, daquele jeito que só eu sei, e de fazer amor com ela, daquele jeito que fazíamos e que ela me dizia - eu acreditei - que era maravilhoso, inesquecível, o melhor que ela já tivera.



Sinto falta do cheirinho dela, do corpinho branquinho, esguio, que tão bem se encaixava no meu. E dos sussurros, e das palavras, e do cabelo dela caindo na minha cara e me sufocando.



Sinto falta das bobagens que a gente falava e dela dizendo que estava sentindo a nossa filha imaginária na barriga dela. E eu achando lindo aquele absurdo.



Sinto falta de toda aquela loucura e de saber que mesmo com todos os perrengues, paranoias, ciúmes, dramas, mesmo com tudo isso tudo era mais simples.



Sinto falta de me sacrificar por ela.



Sinto falta de não olhar tanto para qualquer mulher na rua, porque ela me bastava. Ela era a minha gostosinha, só minha, não precisava de outras.



Sinto falta dela admirando minha inteligência, mesmo com um pinguinho de inveja nessa admiração.



Sinto falta de vê-la chorando, lágrimas de crocodilo na maioria das vezes. E de sentir um aperto no peito mesmo sabendo que era fingimento.



Sinto falta da impaciência dela. Com a mãe, com os amigos, comigo, com o cachorro para o qual ela não dava mais atenção. Sinto falta da menina que enjoa muito rápido dos brinquedos.



Sinto falta das mãos dela, tão pequeninas. E tão nervosas, agitadas, inquietas. Sinto falta dos pezinhos, nus ou calçados em meias finas.



Sinto falta do ventre dela, que eu toquei marotamente num dia de novembro e que proporcionou nosso primeiro contato sensual. E a partir daí foi aquela loucura toda.



Sinto falta também da boca pequena e imperfeita, mas de onde saíram grandes beijos.



Sinto falta, acima de tudo, da inteligência dela. Inteligência até nas opiniões furadas, retrógradas, polêmicas, equivocadas. Aprendi a aceitar, a considerar e a interagir com os disparates que aquela cabecinha produzia. E num mundo equilibrado onde me penduro atualmente, sinto falta delas.



Sinto falta dela causando o tempo todo na minha vida. E me chamando de cagão, implicando com a minha suposta apatia.



Sinto falta de sair do sério, de pegá-la pela cintura e apertá-la, chacoalhá-la, perguntar se ela queria me deixar louco. E da cara de espanto dela com essa situação, misturado com tesão, com outras coisas. Uma química doida, mistura de ácido e base gerando um êxtase, uma explosão, uma vontade maluca de se entregar e de gozar.



Sinto falta dela ao telefone, contando prosaicamente, do jeito que só ela sabe, fatos banais do seu dia.



E sinto falta da amiga que perdi, além da amante.



Se eu deveria ter me casado com ela? Provavelmente não. Mas que papel ela poderia ter assumido na minha vida?



O fato é que ela partiu e deve ter me esquecido. Eu também a deveria ter esquecido. Mas por que não esqueci?



Isso tudo é loucura, ou apenas a merda da carência. Mas eu queria vê-la de novo.