quarta-feira, setembro 01, 2010

Vai, Corinthians!

Naquele longínquo domingo de dezembro de 2007, eu estava sentado no sofá de casa, olhar perdido no nada, nada nos meus pensamentos. Não acreditava no que estava acontecendo. Via na tevê as expressões desesperadas nos rostos dos corintianos e me sentia menos corintiano do que eles, porque eu não tinha lágrimas para chorar. Queria, mas não podia chorar. E não porque seja insensível ao futebol: havia chorado em 99, quando o Corinthians foi injustamente eliminado da Taça Libertadores pelo nosso arquirrival. Havia chorado quando o medíocre lateral Coelho marcou contra a Ponte Preta o gol que seria o do título brasileiro de 2005 - até que outros resultados adiaram o mesmo para dali a algumas rodadas. Havia chorado vendo o VT do histórico gol do título de 77. Havia chorado até por coisas que nada tinham a ver com o Corinthians, como a derrota na final da Copa de 98. Mas ali, vendo o meu grande amor caindo de divisão, a sensação era diferente do que eu esperava. A ficha não caía de jeito nenhum. Imagina, o Corinthians na Série B? De jeito maneira! Mais fácil o mundo acabar antes!

Se já me parecia impossível e ridícula aquela hipótese que se realizava ante meus olhos, seria mais risível ainda outra: imaginar que, menos de três anos depois, a alegria estaria estampada no rosto de quem chorava ali. E a raiva invejosa nos dos que riam ditosos do nosso infortúnio. Se naquele domingo um astronauta do futuro aparecesse para me dizer que, dali dois anos e pouco, o Corinthians estaria anunciando um estádio moderno, de primeiro mundo, preparado para abrir um Mundial de Futebol, eu diria: Ah vá! Se o mesmo me dissesse que eu gritaria gol do Ronaldo Fenômeno, comemoria títulos maravilhosos logo depois de voltar da Série B, veria a construção de um dos melhores Centros de Treinamento do mundo, lojas com produtos oficiais e o marketing explorando toda a força da marca CORINTHIANS... Eu não creria, pois as gestões anteriores tornaram descrentes todos os corintianos, fizeram-nos esquecer que o Corinthians com sua mística e torcida é a marca esportiva mais forte do Brasil. Apanhamos tanto daqueles pilantras que foi preciso um rebaixamento e uma diretoria com ideias novas pra resgatar a nossa autoestima. E quando isso acontece, amigo... O Corinthians se torna INSUPORTÁVEL.

Que o diga os anticorintianos que, após 23 anos de "zoações", tiveram que engolir a festa permanente que começou depois daquele "paulistinha" de 77. Ter que aguentar a exibição ad infinitum do gol do pé-de-anjo Basílio, um gol mais visto do que o milésimo do Rei Pelé e os do São Paulo nos intercontinentais que ganharam na década de 90. Os "anti" também tiveram que aguentar, valentemente, a festa da nação depois do gol do Tupãzinho em 90: só o Corinthians não tinha um título nacional até então. "Timinho regional", diziam. Com o timaço do final de década de 90 - o qual tive o prazer de ver e que descreverei em detalhes para os meus netos - veio a supremacia do Corinthians, um dos grandes papões de títulos do Brasil. Ah, mas não tem Libertadores! Os antis não desistem, não se cansam de serem "ownados". O que vão dizer quando a bendita Libertadores vier? Talvez o mesmo que dizem do nosso Mundial Fifa: não vale. Não passou na Globo, não foi disputado no Japão, o Corinthians jogou com 11, a bola era redonda. Não vale! Foi roubado, não vale. Não tem estádio. Não temos estádio? Ah, mas o estádio vai ser em Itaquera! Vai ser com dinheiro roubado, o Lula mandou fazer, as Farcs, o bin Laden. É do Corinthians. Não vale.

E de "não vale" em "não vale", tamos aí. Uma história gloriosa que completa cem anos, do time que nasceu lá atrás, sob a luz dos lampiões, time de barbeiros, operários, sapateiros, alfaiates. Time que popularizou o futebol em São Paulo, que despontou rápido como uma força nacional, mundial. Qualquer coisa que eu aqui disser vai cair na mesmice: todo mundo conhece o Corinthians, sua força, sua história, sua grandeza. Quem não é corintiano, nega da boca para a fora aquilo que sente no coração: o Corinthians é fonte constante de admiração. Quando está por baixo, admira-se sua capacidade de reerguer-se, a força de sua torcida que nunca o abandona, sua superação em cada partida, em cada campeonato. Quando está por cima, é difícil a vida de quem não é corintiano: o Corinthians é o assunto de todos os veículos de mídia, de todos os taxistas, padeiros, balconistas, ascensoristas, zeladores de prédio, dentistas, engraxates. Talvez a solução fosse sair de circulação por uns dias, mas palmeirense, são-paulino e santista também precisa trabalhar. Hoje, dia 1º de setembro, é um dia assim: festa do povo. Orgulho renovado em ser corintiano. Aliás, o orgulho de ser corintiano carregamos no peito todos os dias. Só que hoje esse orgulho foi elevado à enésima potência: o Corinthians é lindo, é centenário, é coberto de glórias dentro e fora dos campos.

Como é impossível descrever de forma adequada todo esse sentimento, vou encerrar por aqui. Primeiro agradecendo à minha família corintiana, notadamente minha mãe e meus avós, que me ensinaram a beleza de torcer pra esse time. Ensinaram os primeiros passos, porque o amor eu aprendi sozinho. Ao vô Nicola, corintiano que não assiste jogo do Timão porque tem medo de ter um enfarte. Ao vô Fábio, que teve a alegria de vivenciar 77, para ao menos ter o alívio da quebra do jejum antes de partir em 82.

E a Marcelinho, Vampeta, Rincón, Gamarra, Dida, Ricardinho, Dinei, Edílson, Tevez, Luizão, Ronaldo... Craques que acompanhei consciente e que me fizeram vibrar e sentir a magia de ser corintiano.

Parabéns, meu Corinthians! Que você seja ainda mais forte no seu bicentenário. Se é que isso seja possível.