quarta-feira, agosto 20, 2008

Campo Minado Sentimental

Personagem A diz: Por quê você está assim tão abatido?
Personagem B diz: Porque minha mulher vai voltar...
Personagem A diz: Mas não é isso que você mais espera e deseja há seis meses?
Personagem B diz: Espera eu concluir a frase, cacete! Minha mulher vai voltar... a fazer filme pornô.
Personagem A diz: Bondage e dupla penetração anal. Com um currículo desses, quem precisa de DRT?

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Sonho. Que você quer voltar.
Sonho. Que você não quer voltar.
Meu subsconciente tem dois finais para a estória. Só um com verossimilhança. E é aquele em que você não está idealizada, aquele em que você não é doce, não me ama e não se arrepende do que me fez. Ainda se mostra pronta para pisar de novo e quantas vezes for necessário. Convenhamos: esse final, embora menos poético e bonito, é bem mais divertido. Me agrada a tragicomédia.

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Amanhã de manhã
Vou pedir o café pra nós dois
Te fazer um carinho e depois
Te envolver nos meus braços

E em meus abraços
Na desordem do quarto, esperar
Lentamente você despertar
E te amar na manhã

(...)

Amanhã nosso amor não tem hora
Vou ficar por aqui

Pensando bem
Amanhã eu nem vou trabalhar
E, além do mais
Temos tantas razões pra ficar

(...)

Desfrutemos de tudo

Quando mais tarde
Nos lembrarmos de abrir a cortina
Já é noite, o dia termina
Vou pedir o jantar.


Vou pedir o café pra nós dois. Frutas, leite mel.
O jejum apenas nos fortalece, aumenta a virulência de nossos corpos, permite que eu te devore com ganância, com vontade, com verdadeiro desapego. Eu gosto e sinto enorme desejo pelo teu corpo alvo, pelo modo como você me olha, por coisas características da nossa dança, como a maneira que você tem de demonstrar o prazer, mordendo o lábio inferior, sussurrando palavras gostosas. Se eu pudesse, te trancaria num chalé e sua única tarefa na vida seria ficar à minha disposição, para eu te agarrar na hora em que bem entendesse. Nossa química é e sempre será transcendente a tudo mais que permeia nossa relação. Pouco importam os desacertos, as brigas, a incompatibilidade de gênios. A incompatibilidade de pensamentos, de idéia, de ideais, de planos. Só o que me dá vivacidade é pensar na nossa compatibilidade de corpos. Admita, algum alarme soou.
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Canção incidental: Café da manha (Roberto Carlos/Erasmo Carlos)
O texto é mera ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou sentimentos reais é mera coincidência.

terça-feira, agosto 19, 2008

Cinco Minutos

Daqui cinco minutos eu vou desligar o computador, fechar as janelas, desligar a cafeteira, tirar o lixo da cozinha e do banheiro. Vou checar pela última vez o e-mail da revista, para ver se chegou algo relevante. E não me surpreender ao perceber que não.

Daqui cinco minutos, eu vou trancar a porta e conversar com a Thaís no corredor. A gente vai esperar o elevador, falar sobre o dia estressante, descer e ela vai ficar com medo quando o elevador ameaçar travar. Vou rir de leve. Na porta do prédio, vou dar um beijinho no rosto dela e dizer "até amanhã". Vou atravessar a rua. Contornar a pracinha, passar em frente à banca de jornais e sair na Nove de Julho.

Na Nove de Julho, daqui cinco minutos e alguma coisa, talvez 6, 7 ou 8 minutos, vou ver o Santana-Itaim passando ao longe e vou correr feito um louco, atravessar a avenida correndo riscos, atropelar pessoas no corredor de ônibus. Vou chegar esbaforido à plataforma certa para ver o ônibus arrancando sem conseguir pará-lo. Vou ter que esperar o próximo por infindáveis minutos.

Daqui cinco minutos eu vou embora com a cabeça cheia de sonhos, o peito cheio de amores bobocas e músicas tolas entrando por meus ouvidos e me dando uma sensação de desânimo, de tédio, de uma rotina difícil de escapar.

Vou me apertar contra o povo dentro do ônibus.

Daqui a cinco muinutos, eu saio daqui.

Os cinco minutos se passaram, é hora de ir.

domingo, agosto 17, 2008

Circula na Internet...

Recebi outro dia o seguinte e-mail:


Flor de Lis (verdadeira história)


Djavan teve uma mulher chamada Maria. Os dois teriam uma filha que se chamaria Margarida, mas sua mulher teve um problema na hora do parto e ele teria que optar por sua mulher ou por sua filha... Ele pediu ao médico que fizesse tudo que pudesse para salvar as duas, mas o destino foi duro e a mulher e a filha faleceram no parto. Agora é possível 'sentir' a letra da música. Conhecendo esta breve história passamos a ouvir a música sob novo contexto, entendendo como a dor pode ser transformada em poema e arte.


Flor de Liz
Valei-me, Deus!
É o fim do nosso amor
Perdoa, por favor, eu sei que o erro aconteceu
Mas não sei o que fez tudo mudar de vez
Onde foi que eu errei?
Eu só sei que amei, que amei, que amei, que amei...
Será, talvez, que a minha ilusão, foi dar meu coração
Com toda força, pra essa moça me fazer feliz
E o destino não quis me ver como raiz de uma flôr de liz
E foi assim que eu vi nosso amor na poeira, poeira
Morto na beleza fria de Maria
E o meu jardim da vida ressecou, morreu
Do pé que brotou Maria, nem Margarida nasceu
E o meu jardim da vida ressecou, morreu
Do pé que brotou Maria, nem Margarida nasceu...

É sabido que 90% das coisas que a gente recebe por e-mail são um apanhado de inutilidades, informações de procedência duvidosa, correntes bestas, propagandas políticas "assinadas por Joelmir Betting", piadinhas babacas de "autoria de Luís Fernando Veríssimo" ou crônicas imbecis "assinadas pelo Arnaldo Jabor". Muito embora as crônicas do Jabor sejam efetivamente imbecis, a gente sabe muito bem que o que nos chega por e-mail não foi feito por ele, nem pelo Veríssimo, nem por qualquer intelectual ou pseudo. Quer dizer... deveríamos saber. Ao ler esse e-mail sobre a música "Flor de Lis" (obra-prima do Djavan, na minha modesta opinião), eu não consegui sequer qualificar o autor como "criativo". O lance parece enredo de novela da pior categoria. O Djavan é obrigado a optar pela vida de uma suposta filha ou da suposta esposa e, no fim das contas, morrem ambas! Nem em Maria do Bairro eu vi uma estória tão trágica e comovente! Ou melhor, eu vi sim, em algum lugar. Clichezão batido.
Eu li a coisa e achei evidente que se tratava de uma história fajuta e muito mal elaborada, que nem em redação de escola eu fazia.
Mas qual não foi minha surpresa, entrei na comunidade do cantor no Orkut e li comentários como estes:


- será?!!!se for é uma canção mto profunda...

- po eu acho q é verdade sim, já ouvi esse papo!!se isso for mesmo verdade, eu sou mais fan ainda do q já sou do djavan... porque alem de ter conseguido descrever tudo oq passou numa poesia linda, tem a força ainda de cantar essas palavras como se a historia tivesse acontecido com outra pessoa e não com ele...ele é muito poeta msm, linda a letra da musica.. com esse significado então, tudo parece ter um sentido maior ainda!


Foram vários comentários como esses, e ficaremos apenas nesses dois. Surpreendente saber que o povo anda caindo em qualquer estorinha que circula por e-mail e isso me leva a um pensamento meio paranóico de que a internet seja um adequado método de controle de mentes e subjugo de multidões. Ok, menos, bem menos. Mas pô, broxei, estragaram Flor de Lis...