sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Paralelo

Eu estou torcendo muito ultimamente pra que, em algum lugar além da nossa compreensão, exista um mundo paralelo. Um mundo no qual o impossível se torna real. O mundo de realizações das coisas que, aqui, ficaram empacadas. Imaginem como seria bom, para pessoas recalcadas como eu, saber que não tem importância as frustrações, pois que no mundo paralelo ninguém é de ninguém e a noite é uma criança.

Eu lá posso dizer tudo o que aqui reprimo. Posso sentir tudo que aqui reprimo. Muito pouco tenho a me envergonhar, do lado de lá. Posso, em contrapartida, ouvir palavras e ver coisas que me fariam enfim repousar em brancas nuvens. Esse mundo paralelo, se não existe, deveria existir.

Mas aí, pensando melhor, eu vejo que essas coisas não passam de bobagens que só um autista diria.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Feliz?

"Vamo lá, tá gravando..."
Bom gente, eu nem sei bem por onde começar. Outro dia estava me perguntando se eu, em algum momento da vida, fui realmente feliz. Quando era criança, era feliz? Fui feliz depois, na adolescência, na época do Senai, na época do cursinho? Fui feliz na faculdade? E finalmente: sou hoje um homem de quase 25 anos feliz?
A felicidade, afinal de contas, está em mim ou está nos outros? Está no meu irmão, na minha mãe, no meu amigo, na mulher que eu amo? Até que ponto a minha alegria só depende de mim?
Há pessoas que não se abalam com nada. Nem com uma enchente, com um câncer, com uma drástica queda na qualidade de vida. Mas eu... qualquer coisinha me tira do sério. Perdi a esportiva faz tempo.
Veja bem, não quero fazer disso um desabafo psicanalítico. Eu queria apenas tentar me expressar, fazer você entender o que se passa na minha cabeça. Coisas estranhas tem acontecido comigo nas últimas semanas. Cada dia uma coisa nova pra me fazer refletir. Será que já não passou da hora de eu largar pra trás esse menino ingênuo, que insiste em pensar com a minha cabeça? Eu tomei pedrada com a mesma pedra, e não aprendi a desviar. É como passar embaixo da árvore onde estão dando pauladas num vespeiro.
Não estou sendo suficientemente claro, essas malditas metáforas não estão ajudando. Vamos recomeçar então. Eu sou um sujeito apaixonado, bobo, inconstante e bem-intencionado além da conta. (Não preciso nem mencionar aquele ditado surrado sobre as boas intenções, vamos manter esse papo em alto nível). Por causa disso, eu não sou feliz como as outras pessoas. Ok, isso é um conceito relativo e ninguém é 100% feliz, e aliás, deve-se desconfiar sempre de quem alardeia a própria euforia por aí. Mas, sem dúvida nenhuma, eu tô me estranhando muito, achando que nasci com uma apatia patológica dentro de mim ante coisas que eu poderia tentar corrigir. É mais ou menos o seguinte: eu vejo o errado, não me conformo com o errado, mas quando vou mudar o errado, tenho uma preguiça, ou covardia, ou sei lá o quê, que me desanima e daí eu digo "ah, deixa pra lá", e fico remoendo aquilo e pensando que eu sou um bunda mole e que isso é uma vergonha pra um cara da minha idade, mais ou menos inteligente e que teve acesso à cultura e a todas as informações que uma pessoa precisa ter pra saber pleitear as coisas que são imprescindíveis ao exercício pleno da sua dignidade.
E esse meu lado inconformado sempre foi oprimido pelo meu lado pacato (ou cuzão mesmo, como você preferir). Foram raros os momentos de extravaso. Mesmo puto, não mandava ninguém tomar no cu. Aconteceu uma vez de me sacanearem no colégio e eu foder o filho da puta, enfiando a ponta de um esquadro na bochecha dele. Mas eu era criança, não tinha desenvolvido ainda esse meu lado politicamente correto, patético, bunda-mole, que agora há pouco eu defini como "pacato".
Mas um dia a gente estoura, né? Eu quero saber que dia eu vou estourar, que dia eu vou pegar alguém de porrada na rua, quebrar alguma coisa, sem pensar em consequência. Causa e consequência. Que dia?
Todo mundo acha que eu sou educadinho, bonzinho, incapaz de fazer mal a uma mosca. Só uma pessoa, ao longo de toda a minha vida, me disse que tinha medo de mim, que tinha medo do que eu poderia fazer no dia em que eu explodisse. Talvez tenha ela uma certa razão, porque nem eu mesmo sei se vai dar alguma bosta no dia que eu botar o pinto na mesa.
Ou talvez não, talvez eu sempre reprima meus impulsos irados tendo em vista um bom convívio social, não importando o quão boçal esteja o nível dessa sociedade. Não que eu seja um sujeito iluminado. Eu tenho meus momentos mesquinhos, como todo mundo. Mas o nível tá tão baixo, que eu ando sobrando. Mas voltando, talvez eu consiga ser assim a minha vida toda, e vire um daqueles velhos que são sacaneados pelos filhos, termine os dias num asilo com um ar alegre, irônico. E talvez até chegue a achar, algum dia, que não há nada de errado, que Jesus tava certo, que tem mais é que dar a outra face mesmo. E que é bonito a gente ser otário, que malandragem de verdade é viver.
Talvez eu entenda que perdi preciosos minutos da minha vida pensando bobagem. E que de pensar demais morreu um burro.
Puta merda, quanta bosta junta.
Desliga isso, vai.