sábado, março 31, 2007

Vai, teu trem chegou...

Sei que deve ser bobagem da minha cabeça, mas às vezes eu tenho a impressão de que nasci pra ficar sozinho.

Passei toda a minha adolescência sendo um cretino que me dedicava à paixões vãs enquanto as pessoas em geral saíam por aí passando a rôla em todo mundo. Ainda se eu fosse um horroroso, um disforme, um imbecil incapacitado, tudo bem. Mas não. Muito feinho por aí curtiu a vida e foi mais feliz amorosamente do que eu.

Aí saio dessa fase, supero minhas angústias e meus platonismos e enfim sinto-me pronto para ter uma relação madura com alguém, pra deixar de ser apenas o "amiguinho", "o bonzinho", etc.

Essa tal relação não dura nem o tempo suficiente para que se diga que foi realmente um namoro. Aliás, foi o "namoro" mais curto da vida da outra parte. Vai ver foi legal pra ela passar o tempo. Vai ver ela curtiu no começo ter um pouco de atenção. Todo mundo precisa de um pouco de atenção.

A merda é que eu fui me envolvendo. Quando estava bem, um belo dia, lá pelas tantas, tive que ouvir que me tornei um "pegajoso". Tive que ouvir que não sou bom o suficiente. Que sirvo pra ser o amiguinho bocó, mas não sirvo pra ser um namorado, com responsabilidades, etiqueta e trato. Ah, descobri também que não tenho etiqueta de namorado! Descobri que a tal da "namorada" tinha mais vergonha que orgulho de mim. Que eu a constrangia diante dos pais dela. Engraçado isso, aliás: ela aprontou o diabo comigo, me destratou na frente de amigos meus mais de uma vez, mandou e-mails pra terceiros se passando por mim pra falar bobagem e, nem por isso, tive vergonha dela. Ao contrário, ultimamente ela só vinha me enchendo de orgulho.

Me senti feliz pelas conquistas de outra pessoa como se fossem minhas próprias conquistas. Isso havia me sucedido pouquíssimas vezes antes. Era um deleite ouví-la contar sobre sua nova faculdade, sobre os amigos que fazia, sobre como estava (ou parecia estar) feliz. Na verdade, sentia também uma pontinha de tristeza, porque comecei a perceber justamente por esse tempo que eu já era dispensável, que eu estava ali como um mero acompanhamento de uma situação cômoda.

Mas eu confiei no amor. Eu achei que existia amor. O amor não existe.

O fato é que agora estou sem rumo. Acordei hoje (sábado) e me dei conta de que não tenho mais namorada (embora nossa foto esteja aqui na minha frente, num porta-retrato). Aí me bateu uma angústia, uma coisa que já senti antes em outras situações, mas dessa vez era uma angústia desanimada, pusilânime. Uma angústia cansada, uma figurinha repetida que ninguém agüenta mais.

Ela me disse que "a dor é pedagógica e necessária, mas o sofrimento é totalmente opcional". Eu já sei disso desde muito tempo. E cogitei mesmo nem sofrer por semelhantes coisas, porque não existiria justiça nesse meu sofrimento. Durante a semana dediquei-me às outras coisas.

Mas chega o momento em que o vazio parece uma água-viva no meio do mar. Vai te queimando a pele e você se arrepende de ter entrado n'água. Porém você sabe que faria tudo novamente, que "começaria tudo outra vez, se preciso fosse, meu amor".

Mas em todo caso, talvez eu tenha nascido pra ficar sozinho.


***

Tente passar pelo que estou passando
Tente apagar este teu novo engano
Tente me amar pois estou te amando
Baby te amo, nem sei se te amo

Tente usar a roupa que estou usando
Tente esquecer em que ano estamos
Arranje algum sangue, escreva num pano
Pérola negra, te amo, te amo

Rasgue a camisa, enxugue meu pranto
Como prova de amor
Mostre teu novo canto
Escreva num quadro em palavras gigantes
Pérola negra, te amo, te amo

Tente aprender tudo mais sobre o sexo
Peça meu livro, querendo te empresto
Se inteire da coisa sem haver engano
Baby te amo, nem sei se te amo.

("Pérola Negra", de Luiz Melodia)

sexta-feira, março 23, 2007

Crash!

850 mangos.

Uma batidinha de nada na traseira de um Volvo estacionado na rua e lá se vão meus dois primeiros meses de trabalho assalariado. Avarias: um buraquinho de nada no pára-choque, coisa pouca, uma mimosidade. Amassados na lataria da lateral, ali perto da entrada do tanque de gasolina. Uns arranhões aqui e acolá. (A lanterna, por pouco, permaneceu intacta. Uma sorte, o prejuízo poderia ser maior).

Já fiz cagadas grandes na minha curta vida, mas a sensação de colidir um carro com outro é realmente uma coisa diferente e assombrosa. E olha que eu não sou como muitas dessas pessoas que vêem o veículo não como um bem material, mas quase como um ente querido, um membro da família, uma namoradinha legal que não fica discutindo relação desde que o tanque esteja provido.

Vai fazer uma semana do acontecido. Nos dias subseqüentes saí sorumbático pra trabalhar pela manhã e o importado estava estacionado poucos metros adiante do local onde se deu a batida. Eu olhei pra ele, ele olhou pra mim. Quis tirar uma foto pra mostrar pros meus netos. Mas a coisa ficará só na lembrança mesmo.

Bob, o Uno regueiro de minha mãe, lesado pela erva, não obedeceu meus comandos. Encontra-se agora parado na vaga, com uma das lanternas (seu olhinho vermelho) destruída. Ele e eu precisamos nos entender, mas devo confessar que ele me mete um pouco de medo. A bem da verdade, acho que esse carro me sabotou. E ainda por cima é metido a besta o traquitana! Com tanto carro nacional por aí, ele me vai latir pra um importado! Comprou a briga e até que aguentou bem. É raça forte, cabeçada na testa e vambora.

Bah! Não adianta chorar sobre o metal amassado.

terça-feira, março 06, 2007

Paraíso Zodiacal

É diferente quando a gente não está mais apenas no banco do carona.

Eu hoje dirigi pela primeira vez no trânsito. Terceira aula dentro de um Fiesta com um instrutor parabaiano de uns quase sessenta anos. Não sei dizer se ele me põe nervoso ou se sou eu mesmo que me desnorteio. O carro - essa máquina fantástica e misteriosa! - morreu umas 4 ou 5 vezes. Saí cantando pneu apenas uma vez. Esqueci de passar da primeira pra segunda marcha em quase todas as vezes. E acertei a guia (uma raspadinhas de leve, vai!) na hora de parar apenas uma vez. Números razoáveis pra quem sempre andou por aí a pé.

Estou ganhando confiança. Mas por via das dúvidas, evitem circular pelos lados da Vila Nova Cachoeirinha (Zona Norte de São Paulo) nos próximos dias.



***

E, depois de 23 anos de férias permanentes não-remuneradas, o VAGABUNDO do Rafael enfim arrumou um emprego: estagiário-júnior de uma revista voltada à construção civil e arquitetura.

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É isso, meus amigos. Depois de um começo de ano difícil, de inferno astral, fiz 23 anos e tudo melhorou. As coisas entraram nos eixos e daqui por diante é muita reta e pouca ladeira. Mas se vier ladeira, a gente vai metendo o pé no freio e descendo. Abraços a todos!