quarta-feira, novembro 30, 2005

Da série: discos essenciais da MPB

Eu descobri o suíngue do senhor Jorge Ben (Jor) recentemente, quando resolvi adquirir sua coletânea da série Millenium, por mera curiosidade. Claro que já o conhecia, de forma fracionária e imprecisa, de outros carnavais. Porém, foi a partir da primeira audição do citado CD que se iniciou um caso de amor. "A banda do Zé Pretinho", "Ive Brussel", "O telefone tocou novamente", "Xica da Silva" e "Santa Clara clareou" imediamente me inseriram num caminho que agora me trouxe até dois CDs do Mestre que considero obras primas da MPB. Um é o África Brasil, do qual falei certa vez no meu antigo e finado blog (freud_aperta_um.weblogger.com.br). Um álbum sensacional que inaugura a guitarra elétrica de Ben - depois de ele ter revolucionado a música tocando violão - e que tem como forte marca a cultura negra.
Bom, anterior ao África, temos um CD que tem tocado ininterruptamente no som aqui de casa. Como não sei definir direito porque ele me fascina, eis aqui comentários de alguém que sabe:

A Fantástica Tábua do Senhor Jorge Ben





Julgar aquele ou este disco como o melhor da carreira de Jorge Ben (para muitos vai ser sempre chamado assim) será considerado um absurdo por algumas pessoas que gostam de sua obra. Uns preferem seu primeiro disco (Samba Esquema Novo), de 1963, que revolucionou a música com aquela batida diferente. Tem também aqueles que preferem 'África Brasil' (1976), marcado pela exaltação das raízes afro da música brasileira, além do futebol e do esoterismo. Fica difícil escolher o melhor. É que na verdade não existe o melhor, mas sim aquele que é o melhor enquanto (no momento) escuta. Nada mais que isso. É um melhor temporário.
Sendo assim, 'A Tábua de Esmeraldas', lançado em 1974, exatamente 11 anos depois do primeiro registro por uma gravadora, aparece como um disco mágico, daqueles que não se consegue pular uma faixa sequer. Ele não enjoa nunca. Fascina, você não consegue parar de ouvir enquanto não acabar. São 12 músicas da melhor qualidade, todas elas escritas de maneira solo, não divide as composições.

Muito influenciado pela leitura da obra do alquimista Hermes Trimegistos, Jorge Ben consegue transformar isso em ótimas músicas, caso de 'Os Alquimistas Estão Chegando', 'Errare Humanun Est' e 'Hermes Trimegistos e Sua Celeste Tábua de Esmeralda'. Esta última é composta, além de tudo, também com frases geniais, como as encontradas na 'Tábua de Esmeraldas' escritas por Hermes em tempos remotos: "O Sol é seu pai; a Lua é sua mãe; o Vento carregou-o no ventre; a Terra é sua nutriz", que representa os 4 elementos é um ótimo exemplo. Bom demais. Provoca uma certa sensação de paz.
Sensação boa também provoca a canção 'Eu vou torcer'. Na sucessão de palavras agradáveis (paz, alegria, amor, sorriso...) Jorge Ben exalta as coisas gostosas da vida, e dá uma lição de otimismo e alto-astral. A letra diz que "vou torcer pelas moças bonitas". Assim, o carioca de swingue especial não deixa as mulheres de lado neste disco. 'Magnólia' e 'Menina Mulher da Pele Preta' representam a capacidade que JB tem de tratar as mulheres com carinho, com doçura e certo respeito. Em 'Minha Teimosia é Uma Arma pra Te Conquistar', o poeta bombardeia uma certa 'mulher' com todo o seu poder de persuasão, seu repertório de agrados. Sempre de maneira descontraída e muito direta.
A marca das raízes africanas gravadas na 'Tábua' é, sem dúvida, 'Zumbi'. Com o violão que só ele sabe tocar, JB faz sua referência a Zumbi dos Palmares, e todo o universo dos escravos que viveram no Brasil na época da Casa Grande & Senzala. A música 'Brother' segue a veia negra. O violão bem marcado, um delicioso coro acompanhando e a letra escrita em inglês mostra uma forte influência da música gospel negra norte-americana. A passagem "Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend" entrega isso.
Jorge Ben também aproveita para falar da vida dos outros, conta história em duas canções: 'O Namorado da Viúva' e 'O Homem da Gravata Florida (A Gravata Florida de Paracelso)'. Novamente com bom humor e sacadas fantásticas, JB conta a história do cidadão Paracelso, que usava uma "gravata sensacional" com detalhes na gravata -- novamente o alto-astral e a sensação de paz e prazer encontradas em várias de suas letras. Já em 'O Namorado...', o enredo é sobre um uma viúva que deixa todos loucos para ficar com ela. É um barato.
A música 'Cinco Minutos (5 Minutos)' é um lamento de Jorge Ben. De novo encarnando o poeta que tem uma relação bem sincera com as mulheres, JB mostra uma afetiva em que se deu mal, foi rejeitado. Com aperto no coração (nítido em sua interpretação), o poeta tenta justificar o valor do tempo. Perder a mulher -- como na canção 'Que Pena', do disco Jorge Ben (1969), é fato recorrente em sua letra. Encerra-se 'A Tábua' com uma música reflexiva e intrigante.
'A Tábua de Esmeraldas', no mínimo, ocupa um lugar entre os melhores discos da carreira do compositor carioca, torcedor do Flamengo e apaixonado pelas mulheres e pelas coisas boas da vida -- o disco está entre os melhores da música brasileira. Vale a pena ouvir 'A Tábua'. É garantia de boa música, de um cara que conseguiu o sucesso por seus próprios méritos. Isso é muito legal na obra de JB.

Melhor mesmo é ouvir 'A Tábua' em vinil, se possível, lógico. Isso pelo simples fato de poder ficar pirando nos desenhos da capa, que em CD se restringe a uma cópia reduzida -- na contra-capa do vinil é possível ver uma gravura de Hermes Trimegistos sobreposta a uma foto de Jorge Bem em que não aparece seu rosto. Aparecem apenas seus braços segurando um violão elétrico para baixo, como quem descansa para falar ao microfone entre uma música e outra.
Fantástico!


Fabrício Lima é jornalista, editor da Revista Latitude, e coleciona discos de vinil do Jorge Ben

Fonte: http://clubedobalanco.uol.com.br/novo_paginas/textos/ben3.htm

terça-feira, novembro 29, 2005

Deus e o Rock

Achei sem querer o texto abaixo na net. Pra quem se liga em música e religião, achei que seria legal ler. Por isso tô postando.

Orações e ironias rock and roll
Uns reverenciam, outros duvidam, mas volta e meia Deus é tema na música popular

Se o Diabo é realmente o Pai do Rock, tem muito filho bastardo profanando o Cara em nome de Deus, ou somente de Jesus mesmo. E olha que a lista é abrangente... Assim como na edição anterior evitamos falar obviedades como o Diabo na música segundo as bandas de metal, dessa vez vamos deixar de lado (pelo mesmo motivo) as bandas gospel.
Então vamos lá. Deus e seu filho são temas se não recorrentes, ao menos bastante populares na obra de trovadores como Nick Cave e Bob Dylan (nessa ordem de obsessão, para ser mais exato). De tanto falar de divindades, Cave parece ter mesmo se convertido. Seu último disco, No More Shall We Part é o mais reverente de todos e explora o tema em quase todas as 12 faixas. Ele, egresso do infernal The Birthday Party, vem se aprofundando no cristianismo há mais de década em sua carreira solo. Vai desde "The Mercy Seat" (na qual um condenado à morte acredita que a cadeira elétrica é o trono de Deus) e "Foi Na Cruz" (com versos em português) até gravações mais recentes como "There is a Kingdom" e "God is in The House".
Quanto à Dylan, basta dizer que não é todo o dia que se vê um judeu convertido ao cristianismo. Não bastasse, ainda cita Pai e Filho em algumas de suas melhores canções, como "With God On Our Side": "Eu estive pensando nisso / que Jesus Cristo foi traído por um beijo / mas eu não posso pensar por você / Você terá que decidir / se Judas Iscariotes tinha ou não Deus ao seu lado". Nem a santa morada foi esquecida por ele, como atestam "Knockin' On Heaven's Door" e "Trying to Get to Heaven".
E até ex-louvadores do Tinhoso se renderam ao Criador. Um ano depois de exultar o Príncipe das Trevas em seu primeiro disco, o Black Sabbath aparecia com "After Forever", com versos estranhamente clericais. Os Rolling Stones deixaram de lado a simpatia pelo Dianho para escrever "Shine A Light", uma bela canção gospel incluída no pervertido álbum duplo Exile on Main Street. O Velvet Underground, que de santo não tem nem a sombra, clamou salvação em "Jesus": "Jesus, me ajude a encontrar o meu lugar / me ajude na fraqueza pois estou perdendo a fé", e por aí vai.


Anti reverência - É fato que das diversas aparições divinas nas letras do rock, boa parte delas não são reverentes. Tem muito cantor aí que fica pedindo pra Ele mostrar a cara, ou comprovar sua existência, como se isso fosse um grande sinal de rebeldia. Como tentou certa vez a poetisa punk Patti Smith. Na primeira frase da primeira canção ("Gloria") de seu primeiro disco (Horses), ela desafiava os crédulos dizendo que "Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não pelos meus". Patti fazia tanta questão de mostrar que não tava nem aí pro Todo-Poderoso que durante um show ela o invocou querendo provas de sua existência. Resultado: ela caiu do palco, quebrou o pescoço e ficou uns bons anos andando numa cadeira de rodas. E nunca mais tocou essa música em seus shows.
Outros preferem não se expor tanto quanto Patti, mas sem deixar o cinismo de lado. Como o Depeche Mode em "Blasphemous Rumours", um dos refrãos mais controversos da música pop: "...não quero começar nenhum rumor blasfemo / mas acho que Deus tem um senso de humor doentio / e quando eu morrer, espero encontrá-lo rindo", escreveu o não menos doentio letrista Martin L. Gore.
Mas nessa seara a canção mais emblemática de todas é, sem dúvida, "God", gravada por John Lennon no disco de estréia da Plastic Ono Band. Nela, o ex-Beatle desanca toda e qualquer crença e religião, além de ídolos dele e de muito gente (Dylan, Elvis e os próprios Beatles, por exemplo), só pra dizer o quanto ama Yoko. Já que citamos o antigo grupo de Lennon, fica aqui uma singela homenagem a George Harrison, morto no início do mês e que, ao contrário dos últimos exemplos, era bastante reverente. "My Sweet Lord", um de seus maiores hits, é a prova cabal disso: "meu doce senhor, eu quero realmente conhecê-lo...".


E no maior país católico do mundo... - Pra não descontentar cento e poucos milhões de pessoas que afirmaram, pelo menos em quatro momentos da história do país (leia-se em 58, 62, 70 e 94), que Deus é brasileiro, vamos lembrar do que foi feito em nome do Cidadão na música nacional. E por enquanto, pularemos Raulzito, um dos nomes mais óbvios nessa área. Quem sabe começar, paradoxalmente, por A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, o segundo disco de Zé Ramalho. De divino, porém, só o tema da faixa-título, pois a capa é das mais pagãs da música brasileira, com Zé do Caixão e a atriz Xuxa Lopes "atentando" o cantador, entre desenhos de um tridente se degladiando com uma cruz. E claro, "Brother", de Jorge Ben, com refrão cantado num inglês de segunda: "Jesus Christ is my lord, Jesus Christ is my friend..."
Marcelo Nova aproveitou o oportuno momento do Plano Cruzado (1986) para escrever "Deus Me Dê Grana", faixa de Correndo o Risco, do Camisa de Vênus. No ano seguinte, os então ainda confiáveis Titãs lançariam Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas, um pouco menos revoltadinho do que o antecessor Cabeça Dinossauro que, lembrem-se, tinha entre suas faixas a célebre "Igreja": "Eu não gosto de bispo / Eu não gosto de Cristo / Eu não digo amém". Mas se você tiver medo d'Ele e preferir não cantar esse tipo de música, fique tranqüilo. Rock pode ser negação, revolta, essas coisas aí que falam quando a gente é pirralho e acredita, mas depois Deus perdoa. Afinal de contas, essa é a função d'Ele.

Fabrício Rodrigues

Fonte: http://www.omalaco.hpg.ig.com.br/sete/musica_deus.htm

Comentário pessoal: essa música do Jorge Ben (eu a cada dia mais fã) citada na matéria é mesmo sensacional. Quando eu achar a letra na net - tá difícil - eu posto aqui. "Jesus Christ is my Lord/ Jesus Christ is my friend..."

segunda-feira, novembro 28, 2005

Rentería e Desenteria

Na sexta passada acordei muito bem - obrigado! - e fui à seção de digitalização do Arquivo do DEOPS retirar meu CD com os poucos documentos que lá encontrei sobre o Gonzaguinha, mesmo sabendo que agora não há mais urgência, pois o TCC está mesmo adiado pra mim (chega desse assunto porque já fiquei mal o suficiente com isso). Tudo aconteceu normalmente, exceto pela chuva que caía sobre São Paulo. Fui da Pedra Branca até Santana e de Santana até o Tietê. Fiz o que tinha que fazer e, por prudência, resolvi não tomar uma casquinha no Mc Donald's. Pois bem, como ia até a casa dos meus avós (onde ia passar o final de semana), peguei o Jaçanã em frente ao Terminal Rodoviário. Ao contrário do que eu pensava, o ônibus não estava vazio. Também ao contrário do que eu pensava, o trajeto não era "rapidinho": a porcaria do ônibus deu uma volta tremenda por boa parte da Zona Norte antes de chegar ao destino. E ainda ao contrário do que pensava, o ponto final do ônibus, apesar de se chamar "Jaçanã", não era propriamente no Jaçanã: era no córrego Cabuçu, quase em Guarulhos, praticamente.
E dentro do ônibus, estranhamente, comecei a me sentir mal. No início julguei que era cansaço, por estar de pé naquele ônibus cheio, com um tagarela do meu lado falando um monte de bobagem e uma menina chorando desde que o ônibus passou por Santana. Mas só na casa da minha avó é que diagnostiquei em mim o mal que aflige a humanidade nesse momento: GRIPE DO FRANGO. Isso mesmo. Os sintomas: dores no corpo, cansaço, dor-de-cabeça e dor de estômago. Isso na sexta e no sábado. No domingo, tive de mudar meu diagnóstico mental, quando comecei a defecar água: era DENGUE! Voltei pra casa ontem, meio abatido, e justo no dia que o Corinthians podia ser campeão brasileiro. Ia passar Corinthians x Ponte Preta. Sentei-me aqui para assistir, mas tive de sair no meio do primeiro tempo, por causa de uma caganeira súbita. Resultado: enquanto eu vomitava pelo rabo, a Ponte Preta fez o gol.
Depois voltei, muito confiante e feliz - "calma, o Timão vai virar!" - até porque parecia que agora eu ter uma trégua, afinal não havia mais nada para cagar (já tinha ido ao banheiro umas cinco vezes até esse momento e me borrado ainda mais uma vez na casa da minha vó). Acompanhei o jogo, o gol de empate do Gustavo Nery, o penalti perdido pelo Carlitos (Carlitos, Carlitos!) e os lances do jogo dos porcos com o Inter. Quando saiu o gol da virada do Corinthians, marcado por um garoto saído das categorias de base do time, um jovem que provavelmente teve uma origem humilde - e que hoje cata uma peituda divina, vi a foto no Orkut - juro que me sensibilizei. Meus olhos lacrimejaram e por um momento me esqueci das minhas misérias. Fiquei intrigado com essa ironia da vida: o ídolo dos milhões perde o penalti decisivo e o prata-da-casa zombado e desprezado marca o gol do título.
Mas não foi o gol do título. Lá no sul, um gringo chamado Rentería chutou para o gol e o São Marcos não pôde fazer nada. 2x1 Internacional. Melou nossa festa, que agora vai ser domingo que vem. O Corinthians como sempre, sofrendo até o último minuto. E eu, engasgado com essa vida de desenterias e Renterías.

E como estou agora?

Melhor. Não é gripe do frango nem dengue - até porque minha mãe não deixa acumular água em pneus e vasos de plantas (mesmo porque moramos em apartamento e não temos quintal). Também não é sífilis, nem qualquer outra DST.
Hoje acordei só de mau-humor. E com uma estranha dor no ombro esquerdo. Parece que as dores do corpo todo migraram pra lá. Deve ter sido um mal-jeito. Para os maliciosos que certamente me dirão que é excesso de bronha, quero lembrar que sou destro e a dor é no ombro ESQUERDO. Enfim, a verdade é que tenho muito pouco tempo de vida e decidi ficar aqui guardando leito. Peço apenas que orem por mim e por um repouso em nuvens brandas.

Uma nova fase

Bom, eu prezava muito meu antigo blog. Mesmo assim, por mais de uma vez, pensei em mudar de provedor, porque o Weblogger estava me deixando muito na mão. Porém desistia sempre em cima da hora, apegado que estava ao modelo antigo. Mas o último fim de semana foi a gota d'água para mim: o Weblogger saiu do ar, deixou de reconhecer minha senha e tudo o mais. Enfim, o Sonhos e Clichês acabou falecendo. E eu não tive paciência de esperar ele ressucitar, ainda mais agora, que tenho coisas a escrever. Eis que surge o Sonhos e Clichês 2, uma continuação do que já estava sendo feito. A gente aqui é como o Corinthians: se o Pacaembu tá muito zoado, jogamos no Morumbi, no Canindé, onde for. Não importa. O importante é prosseguir.

Como ainda não estou familiarizado com o Blogger, peço aos leitores (os imaginários, pelo menos), que tenham um bocadinho de paciência, que logo eu vou fazendo uns ajustes e botando ordem na casa.

Aproveito para agradecer a todas as pessoas que me liam no Weblogger. E aos que pretendem continuar me lendo.

Bom, chega de bla-bla-blá. O blog está oficialmente inaugurado. Que dure bastante, como durou o primeiro no Weblogger.