terça-feira, outubro 31, 2006

Sambando

Show de bambas do samba mal divulgado no Clube de Campo Associação Atlética Guapira. Sexta-feira, estávamos lá com meia dúzia de gatos pingados, prestigiando atrações como Exaltasamba, Mauro Diniz, Arlindo Cruz e Monarco da Portela. Curti bastante o evento, dancei um pouco e devo tirar o chapéu para o Arlindo Cruz, que é realmente um cara que sabe animar a galera (e que já subiu ao palco animado, munido de um copo de uísque).

De quebra, retornei ao Guapira (http://www.ccaaguapira.com.br/) depois de muito tempo. Com o achatamento do padrão de vida da classe média paulistana, causado pelos 12 anos de governo FHC/Lula, taxas de manutenção de títulos de sócio de clubes de campo são coisas superadas, fora do orçamento familiar. Então nunca mais nadei naquelas piscinas nem pisei na areia cheia de cascalho da quadra de futebol, nem comemos mais naquelas churrasqueiras na parte de baixo do terreno. Uma lástima, muitas saudades. Mas nem tenho mais paciência pra pegar fila do exame médico mesmo...

Voltando ao show: atrasos no início da apresentação, cansaço de minha mãe (que me acompanhava) e um ar de coisa micada que adensava o salão - por mais que a gente odeie lugares lotados, é estranho também curtir lugares vazios - fizeram com que fôssemos embora às 4 da matina, logo depois de Arlindo Cruz ter mandado subir ao palco um monstro sagrado do samba brasileiro, o Monarco da Velha Guarda da Portela.


Exaltasamba, com Thiaguinho (ex-participante do "Fama") e Péricles dividindo os vocais.




Arlindo Cruz se apresentando sem Sombrinha, que não apareceu porque era de noite (Pedro Henrique-que-que!)



Arlindo Cruz e Monarco (à direita da foto)



Mas por uma questão de justiça psicológica, fui com a Camila ver o mesmo Monarco se apresentar no SESC Consolation hoje, acompanhado pelo excelente grupo Samba Raro. E foi sensacional. Entre uma música e outra, o Mestre fez críticas ácidas à baixa qualidade das letras dos sambas de hoje e disse que só não é expulso do meio do samba porque, a exemplo de Jamelão, se considera um "aposentado". Cantou várias músicas conhecidas dele e de outros autores, como Cartola, Paulinho da Viola e etc. Mas ressalto "Coração em desalinho", uma letra que me comove:


Coração em desalinho
(Mauro Diniz/Ratinho)

Numa estrada dessa vida
Eu te conheci, oh! flor
Vinhas tão desiludida
Mal sucedida por um falso amor
Dei afeto e carinho
Como retribuição
Procuraste um novo ninho
Em desalinho ficou o meu coração
Meu peito agora é só paixão
Meu peito agora é só paixão
Tamanha desilusão
Me deste, oh! flor
Me enganei redondamente
Pensando em te fazer o bem
Eu me apaixonei
Foi meu mal
Agora
Uma enorme paixão me devora
Alegria partiu, foi embora
Não sei viver sem teu amor
Sozinho curto a minha dor.



Êta vida...

quinta-feira, outubro 19, 2006

MPB para crianças

Outro dia fui com um amigo comprar o presente de aniversário de 13 anos da sobrinha dele. O pedido: um DVD dos "Rebeldes".

Bom, eu sou um jovem velho que passou a infância mais tenra entre o final da década de 80 e o começo da de 90. Se considerarmos que o dia da primeira ereção/masturbação marca o fim da infância na vida do menino, podemos dizer que até por volta de 14 anos eu era potencial consumidor de programação infantil na tevê e de produtos juvenis nas lojas e supermercados.

Tá, tá bom, mas e daí? Oras, num surto de saudosismo que tive esses dias, comecei a rememorar a que tipo de coisas a gente da minha geração estava exposta na infância. E vale fazer aqui menção de um tempo bom que passou e não volta nunca mais.

Primeiro as coisas mais remotas, como as tevês sem controle remoto. Programa da Xuxa toda manhã. Eu assistia todo santo dia e hoje me pergunto: "Como conseguia?"

LPs diversos: Fofão, Trem da Alegria, Balão Mágico, Jairzinho e Simony (na época em que não saía por aí engravidando de detentos e jogadores de futebol), Serginho Mallandro e Xuxa. Os famigerados "Xou da Xuxa" que, constatei estupefato, foram lançados em CD e estão à venda nas Americanas.

Mas, em especial, minha infância foi marcada por dois disquinhos (o "inhos" aqui não se trata mimosidade de linguagem não, eram disquinhos mesmo, daqueles pequenos): "A história da Cigarra e da Formiga cantada", num disquinho verde. E o sensacional LP do Topo Gigio. E aí vem a genialidade da coisa toda: Topo Gigio cantava, com voz arrastada, numa levada meio bossa-novista - como se a versão nacional desse simpático ratinho fosse natural da Boa Terra - dois clássicos da MPB. Muito famosa na voz de Wilson Simonal, "Meu Limão, Meu Limoeiro" - de domínio público e adaptada por Renato Teixeira - arrancava risos meus, de minha avó, de minha mãe e de quem mais parasse pra ouvir. E "Chove Chuva" do Mestre Jorge Ben que, na época, em nem sabia de quem se tratava, era outra música que o Topo cantava. Olhando hoje em dia, eu acho isso de uma sofisticação incrível! Porque as músicas para crianças tem que ser sempre aquelas coisas idiotizantes como "meus dedinhos/ onde estão?/aqui estão!" e outras músicas sobre cores e partes do corpo?

Poxa vida!, eu tinha uns 4, 5 anos de idade, mas entendia perfeitamente o dilema de um roedor que não queria que chovesse porque senão iria molhar a amada dele. Entendia também seu apreço pelo pé-de-limão: sim, eu era criança que brincava perto de árvores.

Depois cresci mais e aí veio o Rá-Tim-Bum, programa infantil hiper-premiado da TV Cultura e precursor de uma linha sensacional de programas educativos que essa emissora desenvolveria a seguir. Claro que, assistindo hoje, às vezes ele me soa educativo até demais. (Mas não importa, porque mesclávamos o educativo caga-regras com os politicamente-incorretos de entretenimento: Chaves, Trapalhões, Pica-Pau, Tom e Jerry, etc). O que realmente chama a atenção é a trilha sonora:


1 Rá-tim-bum [Abertura]

(Edu Lobo)
Interpretação: Boca Livre

2 Acalanto

(Edu Lobo - Paulo César Pinheiro)
Interpretação: Caetano Veloso

3 Preguiçosa

(Edu Lobo - Paulo César Pinheiro)
Interpretação: Joyce

4 Bandeira do Brasil

(Edu Lobo)
Interpretação: Orquestra / Coro Infantil

5 Eu fui no Tororó - Atirei o pau no gato

(Folclore)
Interpretação: Coro Infantil

6 Salabim

(Edu Lobo - Paulo César Pinheiro)
Interpretação: Maira

7 Bate boca

(Edu Lobo - Paulo César Pinheiro)
Interpretação: Quarteto do Edgar

8 A família

(Abel Silva - Edu Lobo)
Interpretação: Zé Renato

9 Minha sereia

(Edu Lobo - Joyce)
Interpretação: Edu Lobo

10 Sete cores

(Edu Lobo - Paulo César Pinheiro)
Interpretação: Jane Duboc

11 A refrescante sensação

(Cláudia Dalla Verde - Flávio Souza - Edu Lobo)
Interpretação: Coro

12 Sexy Sylvia

(Edu Lobo - Joyce)
Interpretação: Rosa Marya Colin




"Acalanto" é uma música linda que embalava um quadro que nunca saiu da minha cabeça, em que um menino dormia e a cama dele então flutuava pelo espaço sideral ao som da canção. Desde aquela época eu já gostava da voz do Caetano Veloso.

"Minha Sereia" era de um quadro em que o pai ia com o filho à praia e então contava para o menino a estória do dia em que ele viu uma sereia. E, evidentemente, se apaixonou por ela.

Mas o destaque mesmo, a coisa que eu mais curtia, era o trava-língua que era cantado num quadro do programa freneticamente por quatro tiozinhos que - hoje descobri - formam o Quarteto Quatro Por Quatro. A música que cantavam era essa aqui:


Bate boca
(Edu Lobo - Paulo César Pinheiro)

Boróbodo papará papará
Papará papará papará
Papará já...
Papo sopapo sapato
Sopapo papão pão pão pão
Olha aí gente!
Todo mundo
Abrindo a boca pra cantar o bate-boca
mla-mle-mli-mlo-mlu
Bra-bre-bri-bro-bru
bla-ble-bli-blo-blu
Agora tomando fôlego:pra-pre-pri-pro-pru
Pra quem é bom de bate-boca
Pessoal vamos brincar o nome
Dessa brincadeira é trava-língua!
Quem for errando sai da roda
Vamos lá que a confusão vai começar
O peito do pé do pobre padre padre Pedro é preto
Tem um tigre, tem dois tigres
Tem três tigres tristes
Num ninho de mafagafo
Cheio de mafagafinhos
Desmafagador será quem os desmafagar.

E na grade da gruta um grupo grande
De gringo gripado
Grande gruta grade grega gringo grogue

Olha eu quero ver qual de vocês
Consegue agora repetir tudo outra vez (BIS)

Isso é bate boca
É bate beiço
É quebra queixo
É trinca dente
É troca-tudo
É trava-língua
Pessoal vamos brincar
Vamos ver quem pode falar tudo que eu mandar
Vamos tomar fôlego que é pra recomeçar
Vamos ver quem pode falar tudo que eu mandar
Vamos tomar fôlego...

O rato roeu roupa real do rei Raul de Roma
Sapo seco e sapo safam num saco de sapo
Quando a paca empaca, capa a pacae faz paca capada
Traga o prato, apronta o prato
Que esse prato atrai
Velha da bochecha murcha
Moça da bochecha inchada
Toco podre, toco cru pegando fogo

Olha eu quero ver qual de vocês
Consegue agora repetir tudo outra vez (BIS)

Isso é bate boca
É bate beiço
É quebra queixo
É trinca dente
É troca-tudo
É trava-língua
Pessoal vamos brincar
Vamos ver quem pode falar tudo que eu mandar
Vamos tomar fôlego que é pra recomeçar
Vamos ver quem pode falar tudo que eu mandar
Vamos tomar fôlego...

Boróbodo papará papará
Papapá papará papará
Papará já...
Papapa papapa papapa
Papapa papá

O gringo grogue
Troca tudo
O sapo seco
Morde beiço
O mafagafo
Capa a paca
O padre Pedro
Trava língua
O pé do tigre ficou preto
O rato safo rói o toco
E o rei Raul mordeu a veia
E o cochicho deu bochecho
E a veinha bochechou
Um chá de bucho
E a bochecha desinchou
É morde beiço
É quebra queixo
É trinca dente
É troca tudo
É trava língua
É bate boca!
Nhé nhé nhé nhé nhé (paramranrã)

Pois é. Agora comparem:
Antigamente: Edu Lobo, Paulo César Pinheiro, Jorge Benjor, Jane Duboc, Joyce, Caetano Veloso, Abel Silva.
Atualmente: Rebeldes.
Essa geração atual está fodida.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Andie

Tevê ligada. Modo mudo. Em lugar de saber o que dizem no filme, prefiro ouvir música nos fones de ouvido. Porém, a comédia boba oferece aos meus olhos a Andie McDowell. E nesse filme, especificamente, ele faz par romântico com o Michael Keaton, um "Tom Hanks" que não prosperou (apesar de ter sido o primeiro Batman do cinema). Vem uma cena em que Keaton está na cama e Andie começa a beijá-lo, aos golinhos, inúmeras vezes. Beija o pescoço, beija o nariz, os olhos, beija desenfreadamente. Meu coração está aos pulos. Ela segue beijando, vence a resistência do beijado que enfim se entrega. A cena corta pros dois deitados na cama, nus e cobertos por lençóis. Eu me sinto retorcido por dentro.

Andie McDowell tem uma beleza que eu classificaria como "aristocrática". Uma beleza dúbia, que pode se esconder dentro de si mesma às vezes. A cútis branca e bonita - onde agora já começa a aparecer algumas rugas, é bem verdade - já lhe deve ter rendido um belo cachê pelo posto de garota-propaganda vitalícia de uma marca de cosméticos.

Se veste bem, caminha bem, tem gestos elegantes.

Dentro da minha cabeça a imagem dela se mistura à de alguém que conheci em circustâncias afetivas um tanto quanto cruéis. A pessoa pública de Andie McDowell me lembra uma pessoa particular que estou tentando esquecer. E que estava quase conseguindo.






***

Maria Sílvia II

Frio mármore
Teu rosto
Tua boca
Portal das rosas
Você mente
Você sente
Você sente..
"Sinto muito!"
Ledo engano
Quem sente sempre
Como a navalha cortando
Sou eu.

(Extraído de "Amor Só de Mãe", terceiro caderno de poesia de Rafael Gimenez)

Voltamos em breve se o feedback dos leitores nos estimular e/ou impelir a tanto. Saudações!

quarta-feira, outubro 11, 2006

O pensamento parece uma coisa à toa...

Quem percorre as esquinas nebulosas da dor-de-corno no Reino da Música Popular Brasileira desemboca logo no Beco do Brega. O Beco do Brega abriga um bar, no qual estão todos os mal-amados, substituídos e dispensados desse mundão de Deus. Os mendigos, os chifrudos, os beberrões. Ali há um palco onde se apresentam os cantores da noite. O cantor que mais aplausos (ou vaias) conseguir arrancar do desanimado, apático e fleumático público, ganha uma estatueta carinhosamente denominada "Prêmio Reginaldo Rossi de música". Por ali já passaram diversas duplas sertanejas, cantores de músicas mela-cuecas e até mesmo alguns figurões da MPB. Vinicius de Morais já se sentou mais de uma vez pra tomar uma cangibrina. Chico Buarque passou na porta mas, apressado (ou, quem sabe?, envergonhado), limitou-se a enfiar a cabeça pra dentro e olhar de esguelha o movimento. Roberto Carlos e seus amigos de fé também já pintaram no pedaço. Rola sempre uma sinergia muito bacana entre os sentimentalóides de ontem e os de hoje. Os pagodeiros aprendem harmonias novas para seus cavaquinhos nas velhas violas de sertanejos despojados de seus amores e de seu gado doente. Há sempre um faxineiro limpando a cachaça derramada no chão e afastando os indivíduos que choram sobre ela.
Mas o grande acontecimento do Beco do Brega se dá quando um dos fundadores do pedaço aparece para dar a sua palhinha. Ele sobe ao palco e canta "Nervos de Aço". Se estiver de bom humor, canta trechos do belo hino que compôs para o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense: "Até a pé nós iremos/Para o que der e vier/ Mas o certo é que nós estaremos/ Com o Grêmio onde o Grêmio estiver...", para em seguida voltar ao seu respertório de singela e lírica amargura.
Eu que estou sempre sentado a um canto escuro e despercebido do bar, me emociono quando ele canta que a "felicidade foi-se embora/ e a saudade no meu peito 'inda' mora/ e é por isso que eu gosto lá de fora/ porque sei que a falsidade não vigora".
Lupicínio inventou o termo "dor-de-cotovelo" que, ao contrário da alusão que lhe dão, não tem a ver com inveja. Dor-de-cotovelo é a dor de quem enterra os cotovelos num balcão de bar enquanto faz bolhas no fundo de seu copo de uísque, pensando no seu amor perdido.
Cair de bêbado e de amores com este fundo musical torna a vida bem mais suportável. E por essas e outras que o Beco do Brega é sempre tão freqüentado.
(Lupicínio Rodrigues nasceu em Porto Alegre, em 19 de setembro de 1914. Faleceu na mesma cidade, em 27 de agosto de 1974).

Felicidade
(Lupicínio Rodrigues)

Felicidade foi-se embora
E a saudade no meu peito inda mora
E é por isso que eu gosto lá de fora
Porque eu sei que a falsidade não vigora
A minha casa fica lá detrás do mundo
Onde eu vou em um segundo
Quando começo a cantar
O pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa
Quando começa a pensar


***

Angústia

Mesmo nos dias felizes
A única composição
Venal e insignificante
Que de meus dedos brota
É a metáfora injusta
Da pata do medo
Sobre meu ombro.


(17/03/2005)

Poema extraído de "Amor Só de Mãe", terceiro caderno de poesia de Rafael Gimenez.

***

"Garçom, tem uma mosca no meu blog!"
"Errado, senhor! Tem VÁRIAS moscas no seu blog. Ele está às moscas!"

OK. Até amanhã, moscaiada!

terça-feira, outubro 03, 2006

Alô Você! Chegaaaaando...

"A África do Sul também não é assim tão longe. É logo ali".

E o prêmio "Fernando Vanucci" de frases surreais da semana vai para a seguinte pérola:


"Meu filme não é pornô. É erótico".

Gretchen, dançarina e agora atriz pornô... ops... atriz ERÓTICA, explicando que o filme de sacanagem em que contracena com o atual marido é de sexo sim, mas muito família!

Ah bom, Gretchen! Então assim sim!



***

Pequeno relato sobre mim mesmo enquanto ser existente na esfera existencial da vida terrena e terrestre:
Rafael da Cunha Gimenez Garcia, cútis branca (pelo menos na certidão de nascimento), 22 anos, 1.80 m, 68 quilos. Goza de boa saúde física e mental. Não cultiva plantas nem inimizades. Não sobe escadas no breu. Não abre mão de seu direito à privacidade e à livre expressão. Mas tem ciência de uma série de características que carecem ser corrigidas e/ou adaptadas em si mesmo a fim de proporcionar ao indíviduo um convívio social adequado.


***


Tivemos eleições domingo passado e bom seria eu dar minha opinião (ainda que pessoal e dispensável) sobre o tema. Porém encontro-me tão agastado com esse assunto, que limitarei-me a recomendar um texto muito bom escrito pela minha amiga Carol no blog dela:


Ademais, as pessoas já conhecem minha postura política. Mas apenas para constar um "apoio" deste blog:


Agora é...


Lula de novo, ainda que isso me doa no ovo.


***


Voltamos em breve. Beijo nos corações.