terça-feira, janeiro 31, 2006
sexta-feira, janeiro 27, 2006
São Paulo, Meu Lar, Minha Vida
São Paulo é uma cidade fascinante, a meu ver, porque sempre há algo novo pra se descobrir. Por mais que você ande por aí, sempre haverá uma esquina que você nunca dobrou ou uma ponte que nunca atravessou. Os mendigos nas ruas mudam de tempos em tempos. A sujeira, a poeira, tudo é de cárater cíclico e transitório. Cada assalto sofrido é uma emoção nova. Afinal, um ladrão não pode levar duas vezes o mesmo relógio.
Sou apaixonado pela Zona Norte. Aqui estão construções famosas. O Carandiru, implodido recentemente era uma atração pra quem passava de metrô, como dizem os Racionais naquela música. Muitos pagodeiros, que fizeram sucesso na década de 90 tinham seus barzinhos em Santana, Tucuruvi e seus casarões ali na Serra da Cantareira. Vez por outra você podia emparelhar seu humilde Fiat Uno com a BMW de algum deles num sinal de trânsito no Jardim Tremembé e receber um sorriso travesso da negritude, só pra contrariar. Dizem que eles - a maioria, pelo menos, salvos os que viraram cantores latinos de música brega - cheiraram as BMWs todas. Há ainda o simpático bairro do Jaçanã, onde morei por 7 anos e onde vou sempre, porque parte da minha família reside lá. Sinto um certo orgulho por, de certa forma, pertencer ao bairro da canção do Adoniran. Tucuruvi e seus sebos é um bairro especial também e que cresceu muito, principalmente depois que ganhou estação de metrô. Santana é o local para onde preciso rumar sempre que tenho que ir pra algum lugar. É onde, pode-se dizer, começa a "civilização".
E chegamos finalmente à Pedra Branca, o bairro onde vivo desde os 7 anos de idade. De um lado, o Horto Florestal. De outro, a Serra da Cantareira. E os bairros vizinhos, que são apenas extensões da PB - com um pouco mais de comércio e movimento, é verdade. Nos últimos anos, botaram um Corpo de Bombeiros na saída do bairro e um posto policial no centro dele. A construção mais imponente dessa cercania aprazível e pacata é um conjunto habitacional da Inocoop conhecido na região como "os predinhos". Trata-se de um grande buraco construído ao lado da estrada que leva a Mairiporã. Nesse buraco fincaram 10 blocos de apartamentos com algumas guaritas em volta, um pouco de mato em locais estratégicos, vagas para carros por toda parte e um playground ao centro. Muita escada pra se subir, o playground imundo e pessoas com o rei na barriga. Cresci ali, rodando todo o espaço murado, convivendo com seguranças e rumores de que crianças da favela vizinha queriam e podiam pular os muros. Conheci as injustiças sociais aos poucos e vi o que era a classe média falida. Pessoas que não pagam o condomínio pra trocar de carro todo ano. Crianças desrespeitando faxineiras e demais funcionários que estão sempre por aí tentando deixar as coisas em ordem, embora os garotos sempre urinassem nos elevadores (problema só sanado quando botaram câmeras em toda a parte), quebrassem fechaduras, sujassem paredes e promovessem balbúrdias.
Quem não sabe como é a merda por dentro inveja o local. O condomínio goza de enorme popularidade no bairro. Quem já morou aqui volta sempre. Quem não mora, dá um jeito de entrar, como se aqui fosse um paraíso. Eu invejo, por outro lado, essas pessoas que moram em casinhas humildes, sem status, mas pelo menos não tem que conviver com gente arrogante que come mosca e arrota frango assado. Classe média falida que não tem culhão pra comprar um apê na Voluntários da Pátria. Quando cresci, comecei a fazer amigos fora do buraco negro. O bairro é bom, contudo. As pessoas são pobres, porém limpinhas, como já diria aquele esquete de humor da Globo. Exceto no condomínio, é evidente.
Ralei meus joelhos no Horto tentando pular poças de água. Cantei no coral, abracei árvores, recolhi lixo que jogavam no meio-ambiente. Me matei em corridas, bebi água da bica, fiz pique-niques em épocas remotas. Pensei muito na vida. Vi os velhos correndo por ali e tentei dar saltos mentais no tempo. Chorei, humilhado por uma professora de educação física e suas corridas de revezamento. Fui um "Amigo do Horto".
Celebrei os primeiros amores. Ou pré-amores, uma vez que não sabia amar ainda. Construí lembranças. Assisti jogo na TV da padaria.
Me apaixonei (ou algo que o valha) por uma menina da Vila Mazzei.
Conheci bem também outros bairros, como Ipiranga, Vila Mariana, Brás, Paulista e centrão velho. Enfim, muita coisa pra falar e lembrar.
Eu amo São Paulo? Creio que amo. Mesmo descobrindo essa gente xenófoba, bairrista, burguesa, assassina de mendigos. Gente que bate palmas pra Geraldo Alckmin e que diz, o peito estufado: "a Locomotiva do País". Blargh... Essa classe média falida que domina tudo e controla o mundo de dentro de shoppings centers, com seus celulares pré-pagos. E a cidade segue com os favelados e nordestinos que eles tanto odeiam. E na Zachi Nachi aquele Cingapura que não engana ninguém. E temos ainda os malufistas.
Parabéns São Paulo, 452 anos. Um dia serei digno de escrever sobre ti.
segunda-feira, janeiro 23, 2006
Cidadão de bem (TFP)
Aos 12 anos de idade, você passará por um teste de sexualidade. Nessa idade quero que você já saiba fazer coisas engraçadinhas, como se masturbar, passar a mão na bunda da empregada e tratar as mulheres em geral como objetos, assim como eu trato sua mãe. É bom que você saiba, meu filho, que as mulheres só servem pra dar suporte prático aos homens e ajudá-los a gozar as coisas mundanas. Não dê muito atenção ao que elas dizem, pois isso nunca é útil.
Uma coisa importante que você deve saber é que existe um PADRÃO. Deus criou as coisas normais e o Diabo criou as anormais que existem no mundo. Pobres, bichas, pretos e nordestinos são as coisas anormais. São perigosos, tem temperamento agressivo e não gostam de nós, porque percebem a nossa superioridade. Aprendi isso com meu pai e agora passo esses importantes valores pra você. Contudo, você deve ser discreto nas suas posturas. Se não for assim, as pessoas que gostam de se passar por benignas vão te chamar de racista, neonazista, xenófobo e etc. Você deve renegar sempre essas palavras. Afinal de contas, você é um cidadão de bem, temente a Deus e não uma dessas bichas que desafiam a Lei Divina ou um desses baianos que sujam tudo, estupram e matam.
Se um nordestino sobe na vida, ele é oportunista. Se não sobe, é vagabundo, bebâdo e preguiçoso. Saiba isso sobre essa gente feia. Cariocas são pessoas que você também deve detestar, porque todo paulista que se preze odeia cariocas. Tenho pena daquele estado cheio de bandidos, maloqueiros, favelados e prostituição. Não é bairrismo, meu filho. É só bom-senso de saber que São Paulo é o coração do Brasil e que, não fôssemos nós, esse país jamais iria pra frente.
Em suma, meu filho: deteste todos aqueles que forem diferentes de você. Tire proveito em tudo. Pense sempre em você, pois cada um tem que cuidar de si. Não ligue para a pobreza pois, como eu já disse, a culpa é do próprio pobre, que não estudou e não trabalhou. Mendigos mijam e sujam tudo: devemos odiá-los. Ou apoiar medidas de higienismo por parte do governante (que deve ser, para nosso bem, de partido social-democarata ou liberal). Gays são aberrações. Esquerdistas são vagabundos oportunistas. Fique longe da maconha, mas beba uísque da melhor qualidade.
E lembre-se sempre: orgulhe-se de ser da CLASSE MÉDIA, que é quem movimenta a economia do país. E se papai falir, não fique triste: sempre poderemos fingir".
Dito isto o homem gordo sofreu um enfarte e caiu se estrebuchando no chão, o uísque molhando o tapete pseudo-chique.
sexta-feira, janeiro 20, 2006
Alistamento e Elis Regina
Bom, vamos por partes! - já diria Jack, O Estripador.
Primeiramente uma letrinha que posto aqui em homenagem ao meu irmão, Fábio. O moleque foi hoje fazer o alistamento para o Serviço Militar Obrigatório e me lembrei de quando eu próprio fiz o meu, em 2002. Na época eu já estava na Unesp e se fosse convocado, seria a desgraça da minha vida. Mas o médico que me examinou foi bastante gentil e democrático e aproveitou minha hipermetropia e meus problemas de coluna pra perguntar se eu fazia questão de servir. E eu disse que não. Então fui providencialmente incluído no excesso de contingente. Meu irmão agora vai passar por toda essa burocracia novamente até ser, provavelmente, dispensado no meio do ano. O que eu penso sobre essa praga de Serviço Militar está na letrinha de música abaixo, de um compositor que tanto eu quanto o Fábio curtimos.
Indecência Militar
(Gabriel O Pensador)
Na porta do local do alistamento militar (indecência)
Esperando pela hora de entrar
De saco cheio estava eu lá (paciência)
Sem nenhuma mulher pra agarrar e nenhum som pra escutar
E um monte de marmanjo do meu lado eu vi
Então pensei: "Porra. O quê que eu tô fazendo aqui?"
(Pergunta sem resposta) e raiva lá dentro
Foi assim que eu fiz o rap pra passar o tempo
Porque o serviço militar obrigatório é uma indecência
Um ano sem mulher batendo continência
Escravidão numa democracia é uma incoerência
Um ano sem mulher batendo continência
Um ano sem mulher
Só ralando
(E o salário...)
Não leve a mal mas isso é coisa pra otário
Alguns podem até gostar da brincadeira
Mas o serviço só é bom pra quem quer seguir carreira militar
Mas rapá... pro Pensador não dá
Servindo o Exército, Marinha, Aeronáutica ou qualquer porra dessa
Num interessa, eu ia ser um infeliz e ia ficar revoltado como eu nunca quis
Servindo quem montou a ditadura aqui no meu país!
Usando farda, lavando o chão
Sem reclamar de nada pra num ser jogado na prisão (Hum mas que situação!)
Batendo continência e fazendo flexão
Para os caras que prenderam meu pai e mataram tantos outros institucionalizando a repressão (Não!) Agora acorda e concorda com esse refrão (E porque não?)
Porque o serviço militar obrigatório é uma indecência
Um ano sem mulher batendo continência
Escravidão numa democracia é uma incoerência
Um ano sem mulher batendo continência
Nas mãos dos militares muito jovem já morreu
Num quero ser soldado
Quem manda em mim sou eu
Isso é o defeito da nossa sociedade
Exijo mais respeito pela minha liberdade
Um ano da minha vida não pode ser gasto assim
Escravizado por quem nunca fez nada de bom por mim
Essa contradição alguém me explique um dia
Serviço obrigatório não combina com democracia
A porta abre e todos entram
Torcendo pra sobrar
Enquanto isso dá vontade de cantar:
Porque o serviço militar obrigatório é uma indecência
Um ano sem mulher batendo continência
Escravidão numa democracia é uma incoerência
Um ano sem mulher batendo continência.
Aproveito pra recomendar as letras desse rapaz, que são muito boas. Especialmente as mais antigas, como "Lôraburra" e "Retrato de um Playboy", que fazem uma crítica ácida a certos segmentos da sociedade que o Pensador deve conhecer bem (afinal ele próprio pertence à classe média). Vale a pena ouvir.
24 anos sem Elis Regina
Atrás da porta
Francis Hime - Chico Buarque/1972
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei
Eu te estranhei
Me debrucei
Sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito (Nos teus pelos)*
Teu pijama
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que inda sou tua
Só pra provar que inda sou tua...
* verso original vetado pela censura
1972 © by Cara Nova Editora Musical Ltda. Av. Rebouças, 1700 CEP 057402-200 - São Paulo - SPTodos os direitos reservados. Copyright Internacional Assegurado. Impresso no Brasil
quinta-feira, janeiro 19, 2006
Tirinha, cancioneta e reminiscências
Uma pitada de sarcasmo dos bons, pra variar...
Letting The Cables Sleep - Bush
(Gavin Rossdale)
You in the dark
You in the pain
You on the run
Living a hell
Living your ghost
Living your end
Never seem to get in the place that I belong
Don't wanna lose the time
Lose the time to come
Whatever you say it's alright
Whatever you do it's all good
Whatever you say it's alright
Silence is not the way
We need to talk about it
If heaven is on the way
If heaven is on the way
You in the sea
On a decline
Breaking the waves
Watching the lights go down
Letting the cables sleep
Whatever you say it's alright
Whatever you do it's all good
Whatever you say it's alright
Silence is not the way
We need to talk about it
If heaven is on the way
We'll wrap the world around it
If heaven is on the way
If heaven is on the way
I'm a stranger in this town
I'm a stranger in this town
I'm a stranger in this town
If heaven is on the way
If heaven is on the way
I'm a stranger in this town
I'm a stranger in this town.
Marcela
Espero algo de você. Ainda que de tuas mãos só caiam migalhas que eu, ávido, recolho junto aos teus pés. Pés bonitos, muito pequenos e brancos, assim como as pernas. (Mas que pusilânime sou eu, que perco tempo descrevendo pernas, meu Deus) ! Principalmente as tuas pernas, que sempre descreveram um movimento angular acelerado, de prevísivel colisão do teu pé com minha bunda. Você me proporcionou indescritíveis momentos de romantismo - para não mencionar as poluções homéricas! - que eu soube engavetar em cada neurônio desocupado da minha cabeça. Escrevi, baseado nisso, as estorinhas para adormecer bovinos. Vaca! É isso que tu és, uma grandessíssima vaca. Uma vaca que jamais me ofereceu as tetas pontudas e novas para ordenha. Me frustra pensar em ti e me lembrar que há um longo caminho a percorrer para que eu possa enfim jogar nosso amor no ostracismo. Você sentirá sempre, no fundo do teu coraçãozinho confuso e primitivo, uma sensação de que deixou algo para trás, desemparado. Sim, minha querida, esse algo sou eu. Eu que te comi na minha mente e ao, mesmo tempo, soube reconhecer teu valor como SER HUMANO. Eu que me apaixonei por suas fraquezas. E pelo paradoxo que é tuas fraquezas serem tua maior força. E da tua feiúra tímida tirei beleza, como o desabrochar de uma flor pisada por mim num jardim de outrora. E do silêncio tirei o conforto, a ilusão, as palavras e a presença. Ainda hoje, e por muito tempo, não entendi completamente tudo o que aconteceu. E no dia que compreender, nada mais fará sentido. Você é um caminho que escolhi seguir e que vi que dava em lugar algum. Estou agora voltando para trás, mas não sem admirar as flores que você plantou no meu coração. Eu te amo. Vou dizer isso pra você com todas as letras em algum sonho.
Fim.
quarta-feira, janeiro 18, 2006
O Jeitinho Brasileiro
"Brasileiro é que nem papel higiênico: ou tá no rolo, ou tá na merda".
Deus quando criou o mundo, percebeu que deveria criar algumas dificuldades para os homens, para que eles aprendessem com os erros e amadurecessem. Assim, com o desenvolvimento da humanidade e o surgimento das nações, Deus mandou algumas pragas para cada região, a fim de testar os homens e ensinar-lhes algumas coisas.
Na Europa, Peste Negra. No Japão, vulcões, terremotos. Nos EUA, furacões, Georges W. Bushs e outras tragédias naturais. Faltava o Brasil.
Para o Brasil, não havia nenhum desastre ambiental para implementar. A localização do país é boa, privilegiada mesmo. Furacões passam longe, vulcões aqui não pipocam e nada de tremores de terra também. Bom, um pouquinho de seca ali no Nordeste, mas é um pedacinho pequeno se comparado ao resto do país. "Só para não dizerem que não fodi nem um pouquinho o Brasil", pensou. Mas ainda não era o bastante. Como o Brasil vai progredir sem sofrimento? Nenhuma nação pode viver em paz plena e total, isso não é saudável nem real. Então Ele teve a GRANDE SACADA. Criou logo uma ferramenta importante para jogar entre os homens e testar sua boa-fé. Essa ferramenta começou a ser empregada desde que os primeiros homens de além-mar pisaram aqui. Mas se fortaleceu e ganhou corpo quando os brancos transaram com os índios, quando os negros chegaram também e se juntaram ao carnaval e quando o nome BRASIL passou a ser conhecido no mundo. Aí a tal "ferramenta" maldita que Deus criou e os homens aceitaram e desenvolveram ganhou até nome: JEITINHO BRASILEIRO. Com algumas derivações como MALANDRAGEM BRASILEIRA ou JOGO DE CINTURA.
Essa ferramenta começou a ser usada para garantir a predominância de interesses pessoais e individuais em detrimento de interesses coletivos. Ou seja: "pra que pegar uma fila desse tamanho se posso molhar a mão do fiscal ali na frente?" ou "essa repartição vai fechar, eu vou ser mandado embora, mas desde já vou garantir o meu levando esse computador aqui pra casa".
Engraçado é que, no Japão e em países onde o povo segue à risca regras de civilidade e de correção social, isso seria motivo de vergonha. Mas nós, institucionalmente, nos orgulhamos do JEITINHO BRASILEIRO. Mais ainda: exportamos JEITINHO BRASILEIRO para o mundo. E não cobramos royalties por isso! O mundo conhece tão bem nosso Jeitinho que, todos os anos, turistas das mais diversas nacionalidades vem para o Rio de Janeiro comer a mulherada. Ora, no país do Jeitinho, dá-se um jeitinho pra tudo. "É muito imoral o sr. comer essa popuzada (que aliás é minha irmã) aqui na praia, gringo? Não esquenta, eu tiro minha mãe do barraco e o senhor passa a vara nela lá. E depois acertamos os 500 mangos que o Sr. trouxe da Irlanda". Welcome Copacabana. E Wel come as mulheres de Copacabana. Parabéns Wel, feliz consumidor do Jeitinho Brasileiro!
Reclamar dos políticos é sincero? Estamos na merda só por causa deles? Ou será que é por que nos achamos muito espertos?
Apesar de tudo, ainda me orgulho de ser brasileiro. Mas precisamos erradicar o Jeitinho Brasileiro, antes que ele erradique com a gente. ("Muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são!", Macunaíma). Ou fazemos as coisas de forma direita nesse país, ou seremos sempre Terceiro Mundo, República de Bananas e etc.
"Ah, Rafael, vá tomar no cu com seu discurso e sua lição de moral".
Está bem. Como não dou Jeitinho pra nada, porque sou um desajeitado por natureza, seguirei tomando no cu - no bom sentido, é claro! Mas não deixarei de sonhar por um país melhor, com oportunidades iguais pra todos, distribuição de renda e o fim do QI (Quem Indica) obrigatório para tudo e todos. Sou brasileiro e não desisto nunca, como já diria aquela propaganda hipócrita.
Ah sim: esse blá-blá-blá todo é só resultado da raiva gerada pela palhaçada que virou o show do U2 no Brasil. Só isso. Logo mais passa.
segunda-feira, janeiro 16, 2006
Lágrimas de Medo
Regina gostava dos caras. E tinha qualidades também além disso, para que eu possa me lembrar dela. Uma vez me deu um livro do Gil Vicente: "O auto da barca do Inferno" e "A farsa de Inês Pereira". Obviamente não era o melhor presente pra um moleque de 11/12 anos de idade que só lia Turma da Mônica. No entanto por esses dias encontrei o livro perdido aqui em casa e senti uma certa ternura ao ler a dedicatória. O livro ficou, porque Regina passou pela minha vida e não nos dissemos adeus.
Quando fui pra Bauru, porém, aconteceu uma coisa engraçada. As "Lágrimas de Medo" invadiram minha vida justamente quando eu mais ansiava chorar lágrimas de alegria. Peguei emprestado com o Wiiliam aquele CD coletânea que só viria a devolver, por questões de consciência pesada, no último ano de faculdade. Todos os clássicos do 'Tears' estavam lá. Estava lá uma das minhas músicas preferidas, que embalavam minhas caminhadas matutinas pelo Viaduto do Chá, no ano de cursinho: "Head Over Heels", com aquele solinho de teclado que tanto gosto. Mas calhou de eu me apaixonar pela C. justamente quando o som que ouvia era "Woman In Chains". Essa música acabou me deprimindo, talvez por já ser naturalmente depressiva, talvez por eu tê-la associada a um amor impossível (ou ambas as coisas) . Mas o pior estaria por vir. MS é fã de Tears For Fears. E me fez saber, cruelmente, que sua música preferida é "Advice For The Young At Heart". Típico dela, gostar dessas músicas excessivamente românticas e cafonas. E o pior é que eu mesmo acho essa música bonita. Porém, quando a ouço, sinto meu coração se apertar e uma vontade imensa de bater as botas. Algo que canção nenhuma provocou em mim antes. E todas as músicas da banda adquiriram um tom sombrio. Os videoclipes medonhos martelando de madrugada na MTV, apenas contribuindo para que eu sinta saudade de uma coisa que nunca aconteceu. E mesmo gostando das músicas, sinto-me incapacitado para ouví-las. E algumas vezes, quando cedo e as ouço e me lembro de tudo o que aconteceu e de como meu coração não estava/está preparado, sinto vontade de chorar. E o nome da banda, nessas horas em que o pânico me toma, me parece mais do que apropriado.
Advice for the young at heart
Advice for the young at heart
Soon we will be older
When we gonna make it work ?
Too many people living in a secret world
While they play mothers and fathers
We play little boys and girls
When we gonna make it work ?
I could be happy
I could be quite naive
It's only me and my shadows
Happy in our make believe
Soon...
And with the hounds at bay
I'll call your bluff
Cos it would be okay
To walk on tiptoes everyday
And when I think of you and all the love that's due
I'll make a promise, I'll make a stand
Cos to these big brown eyes, this comes as no surprise
We've got the whole wide world in our hands
Advice for the young at heart
Soon we will be older
When we gonna make it work ?
Love is promise
Love is a souvenir
Once given
Never forgotten, never let it disappear
This could be our last chance
When we gonna make it work ?
Working hour is over
And how it makes me weep
Cos someone sent my soul to sleep
And when I think of you and all the love that's due
I'll make a promise, I'll make a stand
Cos to these big brown eyes, this comes as no surprise
We've got the whole wide world in our hands
Advice for the young at heart
Soon we will be older
When we gonna make it work ?
Working hour is over
We can do anyhting that we want
Anything that we feel like doing
Advice...
quarta-feira, janeiro 11, 2006
Vou à Globo protestar contra o sistema. Deixe meu champagne do gelo!
Enfim, falo aqui de um álbum que considero - não só eu, mas muitos - o melhor da longa carreira dos Titãs. Cabeça Dinossauro. Letras ácidas falando da truculência da polícia (com a clássica frase "Polícia para quem precisa/ Polícia para quem precisa de polícia"), da Igreja, da Família ("Janta junto todo dia, nunca perde essa mania!"), enfim, de todos os valores "cristãos-burgueses-familiares-TFP". Um disco meio punk, em essência. O verdadeiro protesto dos rapazes do Equipe. Feito numa época em que protestar NÃO era sinônimo de SER OPORTUNISTA. Pelo menos não na forma em que isso se dá hoje, com tucanos posando de paladinos da justiça e Malufs sendo considerados bodes expiatórios.
Porrada (1986)
Arnaldo Antunes / Sérgio Britto
Nota dez para as meninas da torcida adversária
Parabéns aos acadêmicos da associação
Saudações para os formandos da cadeira de direito
A todas as senhoras muita consideração.
Porrada
Nos caras que não fazem nada.
Medalinhas para o presidente
Condecorações aos veteranos
Bonificações para os bancários
Congratulações para os banqueiros
Porrada
Nos caras que não fazem nada.
Distribuição de panfletos
Reivindicação dos direitos
Associação de pais e mestres
Proliferação das pestes
Porrada
Nos caras que não fazem nada.
Ciclope / Warner Chappell
quinta-feira, janeiro 05, 2006
Dois contos frescos (ui!)
Decidi que atiraria sempre a primeira pedra. E antes que alguém me ferisse, eu machucaria primeiro. Nada de dar brecha para que me atacassem, para que localizassem meu ponto fraco. Não! Eu pleiteei ser invulnerável. Sabia que a intenção deles era, mais cedo ou mais tarde, subir nas minhas costas para enxergar além do muro. Como o quadro que meu (falecido) tio pintou: "o negrinho vê o sol por trás do muro". Mas eu não seria o negrinho. Eu seria o senhor de mim mesmo e dos outros. No fundo, eu sempre quis o poder.
Para ofender o pobre, diga-lhe que ele é ladrão.
Para ofender o rico, diga-lhe que ele é pobre.
Para ofender o vaidoso, diga-lhe que ele é feio, ou burro, ou bobo, ou dispensável.
Para ofender o desgraçado não basta dizer algo. É preciso bater nele com um porrete.
domingo, janeiro 01, 2006
Uma canção pra abrir 2006
Essa é pra quem tomou todas na Virada. Eu não tomei nada. Nem para desinfetar.
Alcohol
(Jorge Benjor)
O mago mandou avisar:
Água de beber, água de benzer
Água de banhar
Alcohol só para desinfetar
Eu quero água
Água de beber, água de benzer
Água de banhar
Alcohol só para desinfetar
Eu quero água
Porque o céu é água marinha
Porque o sol é ouro
Porque a lua é prata
Porque a chuva é cristalina
Porque o mar é esmeralda
Porque somos seres terrestres
Porque São Jorge mora na lua
Porque você não vem me dar um beijo
Um beijo de amor e de desejo
Porque eu gosto tanto de você
Eu gosto tanto de você
Eu gosto tanto de você
Na hora do espanto
Não precisa ter olho clínico para saber
Para saber
Que o melhor é ficar tudo em família
Um controle ambiental
Pois contra uma lingua atômica
Nem mesmo um para-raio digital
Cada palavra caçada
É um compasso de um passado
Que foi enterrado
A caça ao fantasma continua porque
O fogo é mais antigo que o fogão
Em busca de uma nova identidade
Na fila dos aposentados
Um radical chic espera a sua vez
Jogando xadrez
Água de beber, água de benzer
Água de banhar
Alcohol só para desinfetar
Eu quero água
Água de beber, água de benzer
Água de banhar
Alcohol só para desinfetar
Em vez de uma nova trombada
Uma marcha ré com dignidade
É melhor do que ficar com pesadelos
Tédio, calça arriada, queda de audiência
Filme queimado
Aquele homem groover
Aquele santo homem
Só porque gostava
De andar de terno branco,
Camisa de seda, cardão de ouro,
Tênis, chinelo ou tamancos
Era chamado de marginal
Subir, descer, entrar, sair
Faz parte do talento individual de cada um
Porque você não vem me dar um beijo
Um beijo de amor e de desejo
Porque eu gosto tanto de você
Eu gosto tanto de você
Eu gosto tanto de você
O mago mandou avisar...
Água de beber, água de benzer
Água de banhar
Alcohol só para desinfetar
Eu quero água
Água de beber, água de benzer
Água de banhar
Alcohol só para desinfetar.
E com a cara de pinguço que ele tem, eu duvido que o Mestre Jorge Benjor usasse o alcohol só pra desinfetar mesmo.
E 2006 está inaugurado oficialmente!