sexta-feira, setembro 26, 2008

Uma reflexão incômoda

Sabe o que é tristeza?
É pensar que as pessoas são voláteis. Num dia, são parte essencial da tua vida e você não consegue imaginar como seria sem elas. No outro, simplesmente elas se foram. Por variados motivos, se vão. Muitas vezes, vão cuidar das próprias vidas e te viram as costas. Aí pensam consigo mesmas, como que para aliviar a consciência, que você também as deixou pra trás, confinadas nos recônditos gostosos da lembrança. Mas não, nem todo mundo deixa pra trás. Algumas pessoas carregam os amigos e os inimigos pra sempre, num fardo que acaba sendo muito pesado, posto que é doído.

E sabe o que é pior? É pensar que, durante a tua vida, somente uma pessoa te seguirá para sempre: você mesmo. Falo por mim: há 24 anos eu convivo com esse cara esquisito que sou eu mesmo. Estou realmente enjoado de mim. Cansado de mim. De o tempo todo ter que viver os meus problemas, às vezes me sentindo muito sozinho. E, mais do que isso, estou enjoado de manjar os meus defeitos. De saber onde eu vou acabar pisando na bola. De ter a certeza que não posso fazer como as outras pessoas e me despedir de mim mesmo. Eu estou condenado a me aturar, pelo resto da minha vida. É como um daqueles casamentos fracassados, como o casamento dos meus pais. Eu tenho que tentar ser feliz, só que comigo mesmo.

Estou sendo implacável na autocrítica? Talvez. Mas vocês não sabem como é conviver comigo o tempo todo. Não é um mar de rosas, um céu de brigadeiro. Não há amor próprio que compense tamanha encheção de saco. Mas é isso mesmo. Tenho que me conformar de saber que a roda viva vai carregar tudo pra lá. Só restarei eu mesmo. Eu comigo mesmo. E é assim que é.

domingo, setembro 21, 2008

Pelo amor de Deus

Pelo amor de Deus

Me deixe livre pra pensar

Veja o que me fez

Me fez sofrer, me fez chorar

Vá com quem quiser, se já que é isso o que quer

Pelo amor de Deus, me dê sossego para amar.



Sebastião Rodrigues Maia in "Pelo Amor de Deus", Tim Maia, 1972



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E é o que temos por hoje.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Não quero ver você triste assim

Se tem uma coisa que me deixa sem ação é ver uma mulher chorando. Acho que qualquer homem, por mais bruto que seja, acaba se comovendo com uma mulher que chora diante dele. A menos que ele já esteja muito acostumado a ver essa mulher chorar ou saiba que aquele pranto é meramente teatral. Mas, via de regra, mulher chorando deixa o homem besta.

E eu, que sou mais besta que a maioria dos homens, fico simplesmente aparvalhado quando vejo uma moça chorando. Ainda mais se for uma moça de quem eu goste muito.

Ontem aconteceu um lance assim. Não tinha responsabilidade nas lágrimas dela, mas me senti impotente por nada poder fazer. Acabei sendo cúmplice daquele choro e só não chorei junto porque em mim as lágrimas deixaram de rolar desde que era moleque e chorava por qualquer bobagem. Abracei-a e ficamos em silêncio. Foi melhor assim.

terça-feira, setembro 16, 2008

Metáforas

Um passarinho burro. Cai na arapuca, é libertado. Anda novamente pelo quintal e cai na mesma arapuca. É engaiolado por três dias, libertado de novo. Volta ao quintal, cisca a terra batida, vê o alpiste e, novamente, zás. Arapuca. Aquele que o libertou já não está mais por ali, as crianças o comem frito com farinha.


Um homem muito burro. Apaixona-se. Quebra a cara. Apaixona-se de novo. Quebra a cara de novo. Todos dizem pra ele: cuidado... Mas ele se apaixona, e vai se apaixonando e quando vê, está fodido. Irremediavelmente sem saída. A cada nova desilusão, requintes novos de crueldade. Dessa vez, há menos ainda o que fazer, exceto lutar contra sentimentos negativos. O amor, de uma forma geral, é um sentimento negativo. Não é. O que pode esse homem fazer? Mudar radicalmente de vida? Falta-lhe a coragem. Além disso, ele tende a se acomodar nas ilusões, em sorrisos e em coisas que não lhe dão futuro. Pobre rapaz! Ele tem medo de perder a cabeça, ele sabe que muitos homens de futuro deixaram suas vidas desandarem por causa de mulher, e tem medo que isso aconteça com ele. As mulheres são todas iguais. Não são.


O dia está muito frio e falar de solidão soaria como um surrado clichê.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Vicissitudes

Minha mãe fumava desde os doze anos de idade. Muitas de minhas lembranças da infância trazem sua imagem com um cigarro entre os dedos. Ela costumava dizer que uma vez foi pega fumando escondida na escola, junto com uma colega. Seu pai foi chamado pela diretora, levou-a para casa e virou-a do avesso na porrada. Mas não adiantou muito. Minha mãe ficou por muito tempo viciada em nicotina, como meu avô foi alcoolatra até o fim de sua vida.
Eu, por muito tempo, fui um filho chato. Desses que falam em câncer de pulmão a cada cigarro aceso. Ela, numa certa altura de nossas vidas, sequer demonstrava impaciência ante minhas críticas. Simplesmente ignorava-as, desanimada. Ela nunca demonstrou vontade de parar de fumar. Pelo contrário, fruía as sensações que a nicotina lhe propiciava, sem demonstrar culpa, medo, qualquer coisa assim. Conheci muitos fumantes que pelo menos mantinham um discurso - ainda que hipócrita - de que fumavam porque eram viciados, mas que sabiam dos males do cigarro e pretendiam parar. Minha mãe nunca foi assim. Ela falava: "Fumo mesmo, e daí? Quem paga essa merda sou eu". Eu detestava o fedor de cigarro da minha mãe e mesmo o péssimo hábito que ela tinha de fumar em qualquer ocasião, perto de não-fumantes, dentro do carro com as janelas ainda fechadas. Mas não deixava de admirar a resolução dela em praticar um ato condenado por moralistas babacas como eu. Minha mãe é e sempre foi teimosa, muito teimosa.
Eu não acreditava que ela pudesse um dia parar. Mas, ela parou. Surgiu um polipo em sua garganta e ela teve que fazer uma cirurgia para retirar. O médico pediu-lhe que se resguardasse e ficasse ao menos duas semanas sem fumar. Eu teria apostado que ela fumaria no primeiro dia. Mas ela não fumou. Agravava a situação o fato de ela ser uma pessoa naturalmente nervosa. A falta da nicotina iria torná-la, numa previsão coerente, simplesmente intratável. É certo que o humor dela oscilou muito e ela teve crises de nervos que nós sentimos na pele nas primeiras semanas sem cigarro. Ainda hoje, mais de um ano depois, noto-a mais deprimida, insatisfeita, brava. Um dia, ela teve um desgosto qualquer aqui em casa e disse-nos que iria voltar a fumar. Que precisava fazer isso. Eu disse, como é de praxe: "Volta. A saúde é sua". Ela respondeu que era isso mesmo. E que voltaria a fumar, porque assim morreria mais cedo.
Acho que ela falou da boca pra fora. Mas, como dizem, toda mentira tem um fundo de verdade.
O pai da minha mãe, segundo a mesma, devia se sentir oprimido numa vida de merda, e por isso buscava apoio na cachaça, que acabou levando-o mais cedo do que seria o natural. Não sei se minha mãe tem no sangue alguma tendência suicida e acho realmente que não. Mas sei que me soa tudo isso como uma espécie de sina, de pessoas infelizes, seus vícios infelizes e o vazio que a abstinência e a desintoxicação deixam. Eu tenho quase 25 anos e nenhum vício socialmente não-aceito. Mas tenho pensamentos viciados, negativistas, suicidas, que tenho vergonha de expor. Ultimamente, tenho tido vergonha de dizer que estou triste. A ditadura da felicidade a qualquer custo da sociedade atual me oprime, e eu tenho vergonha de assumir que, às vezes, eu tenho vontade de morrer.
Minha mãe sempre dizia "eu fumo e quero que se foda" ou "eu quero sumir dessa merda". Ainda que fosse da boca pra fora. Minha mãe não tem vergonha das suas frustrações. E, não obstante todas as nossas diferenças, eu a admiro também por isso.

quinta-feira, setembro 04, 2008

O gato que venceu o cão

Se alguém puder me explicar a simbologia desse aqui, eu agradeço:

Estava num churrasco na casa do compadre do meu pai e, lá pelas tantas, saí para dar uma volta. Ruas mais parecidas com as de Bauru do que com as daqui. Então aconteceu. Um cachorro imenso com dentes brilhantes lançou-se furibundo na minha direção. Eu podia simplesmente ter me conformado com uma morte cruel até que a solução apresentou-se aos meus olhos: um gato ia passando por perto. Prontamente agarrei o bichano pelo rabo e, com toda a força, bati com ele na cabeça do cão furioso. O cão encolheu-se todo, soltou um ganido e fugiu correndo. O gato obviamente morreu ainda nas minhas mãos.

Aline apareceu com o marido, Roberto, em seguida. Ela chocada, ele rindo e admirando-se do meu ato. Em seguida declarou que já fez a mesma coisa em situação semelhante.

Depois sonhei outras coisas, outros pesadelos. E fiquei aliviado ao acordar, não obstante seja uma quinta feira gorda de trabalho pela frente.

Alguém tem uma explicação junguiana pra esse sonho?