Saber dançar
Já perdi grandes oportunidades por não saber dançar. Chances irrecuperáveis.
Olhava à minha volta e lá estavam todos: dançando. E eu parado, num canto do salão, olhando à socapa para as pernas das mulheres e os sorrisos dos pares. Eu era uma ilha paralisada num mar de movimentos. É certo que me acomodei na minha posição de observador. Mas o que fazer?, eu tinha receio. Eu tinha medo, é preciso confessar. Eu era... eu sou covarde. Eu não me permitia o ridículo.
E as coisas continuam na mesma. Mesmo quem não sabe dançar, dança. E eu, que a tenho a música me explodindo nas veias, na cabeça, saindo pelos poros, eu que ouço a música, que canto a música, que deixo a música ter significado, entrar e sair, rodar e voltar e me encher de alegria pueril... eu não tenho pernas para dançar. Vejo meu rival dançando com ela, com a Mulher de Vidro. Meu rival não sabe dançar. Mas a Mulher de Vidro o motiva, a Mulher de Vidro é uma ótima dançarina. A Mulher de Vidro, quando era apenas a Menina de Vidro, já dançava. Dançava quadrilha, lambada e forró na escola. Beijava seu namoradinho de quadrilha de festa junina no rosto, e ele retibuía-lhe dançando, ainda que desajeitadamente. A Mulher de Vidro cresceu e se tornou uma deliciosa dançarina latina. Caribenha.
Mas não foi pra falar da Mulher de Vidro que eu vim aqui. Tampouco pra falar de meu rival, que não sabe dançar, mas dança. Vim pra lamentar todas as danças que perdi por não saber dançar.
Vim estupidamente me lamentar, como uma carpideira, dos passos que não dei e mesmo dos pés que não pisei. Lamentar as cinturas que não enlacei. Os decotes que não vi de perto, os sussuros que perdi. Os roçares em pescoços, os cheiros de shampoo emanando de cabelos sedosos. Eu vim, como um velho à beira da morte, dizer que perdi minha vida. E vim me lamentar de ter escolhido chorar por dentro naquele baile vendo aquele casal abraçado, ao invés de aceitar o convite da amiga dela, para dançar.
Eu sei, lamentar é bobagem. Mas eu não sei dançar. E isso não é apenas uma metáfora.
Olhava à minha volta e lá estavam todos: dançando. E eu parado, num canto do salão, olhando à socapa para as pernas das mulheres e os sorrisos dos pares. Eu era uma ilha paralisada num mar de movimentos. É certo que me acomodei na minha posição de observador. Mas o que fazer?, eu tinha receio. Eu tinha medo, é preciso confessar. Eu era... eu sou covarde. Eu não me permitia o ridículo.
E as coisas continuam na mesma. Mesmo quem não sabe dançar, dança. E eu, que a tenho a música me explodindo nas veias, na cabeça, saindo pelos poros, eu que ouço a música, que canto a música, que deixo a música ter significado, entrar e sair, rodar e voltar e me encher de alegria pueril... eu não tenho pernas para dançar. Vejo meu rival dançando com ela, com a Mulher de Vidro. Meu rival não sabe dançar. Mas a Mulher de Vidro o motiva, a Mulher de Vidro é uma ótima dançarina. A Mulher de Vidro, quando era apenas a Menina de Vidro, já dançava. Dançava quadrilha, lambada e forró na escola. Beijava seu namoradinho de quadrilha de festa junina no rosto, e ele retibuía-lhe dançando, ainda que desajeitadamente. A Mulher de Vidro cresceu e se tornou uma deliciosa dançarina latina. Caribenha.
Mas não foi pra falar da Mulher de Vidro que eu vim aqui. Tampouco pra falar de meu rival, que não sabe dançar, mas dança. Vim pra lamentar todas as danças que perdi por não saber dançar.
Vim estupidamente me lamentar, como uma carpideira, dos passos que não dei e mesmo dos pés que não pisei. Lamentar as cinturas que não enlacei. Os decotes que não vi de perto, os sussuros que perdi. Os roçares em pescoços, os cheiros de shampoo emanando de cabelos sedosos. Eu vim, como um velho à beira da morte, dizer que perdi minha vida. E vim me lamentar de ter escolhido chorar por dentro naquele baile vendo aquele casal abraçado, ao invés de aceitar o convite da amiga dela, para dançar.
Eu sei, lamentar é bobagem. Mas eu não sei dançar. E isso não é apenas uma metáfora.