segunda-feira, maio 29, 2006

Da série: Coisas que me fazem ter vontade de enfiar uma bala nos cornos

Segue abaixo a lista de livros mais vendidos da semana, segundo a Folha de S. Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u59853.shtml):



Ficção

1 - O Caçador de Pipas - Khaled Hosseini - ed. Nova Fronteira - R$ 34,90 (368 págs.)
2 - Mentiras no Divã - Irvin D. Yalom - ed. Ediouro - R$ 49,90 (404 págs.)
3 - O Código Da Vinci - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 39,90 (480 págs.)
4 - Ponto de Impacto - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 39,90 (448 págs.)
5 - Memória de Minhas Putas Tristes - Gabriel García Márquez - ed. Record - R$ 24,90 (128 págs.)

6 - Quando Nietzsche Chorou - Irvin D. Yalom - ed. Ediouro - R$ 44 (412 págs.)
7 - Anjos e Demônios - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 39,90 (464 págs.)
8 - Harry Potter e o Enigma do Príncipe - J.K. Rowling - ed. Rocco - R$ 54,50 (512 págs.)
9 - Os Crimes do Mosaico - Giulio Leoni - ed. Planeta - R$ 39,90 (382 págs.)
10 - Fortaleza Digital - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 29,90 (336 págs.)



Não-Ficção

1 - A Arte da Política - Fernando Henrique Cardoso - ed. Civilização Brasileira - R$ 70 (700 págs.)
2 - Falcão - Meninos Do Tráfico - Mv Bill E Celso Athayde - ed. Objetiva - R$ 33,90 (252 págs).
3 - O Doce Veneno do Escorpião - Bruna Surfistinha - ed. Panda - R$ 23,90 (172 págs.)
4 - Quase Tudo - Danuza Leão - ed. Companhia das Letras - R$ 38 (224 págs.)
5 - O Mundo É Plano - Thomas L. Friedman - ed. Objetiva - R$ 57,90 (472 págs.)
6 - O Pasquim - Antologia 1969-1971 - Vários - ed. Desiderata - R$ 69 (352 págs.)
7 - O Retorno do Chef Sem Mistérios - Jamie Oliver - ed. Globo - R$ 69 (288 págs.)
8 - Stálin - A Corte Do Czar Vermelho - Simon Sebag Montefiore - ed. Companhia das Letras - R$ 69 (912 págs.)
9 - Juscelino Kubitschek, O Presidente Bossa Nova - Marleine Cohen - ed. Globo - R$ 42 (312 págs.)
10 - A Mosca Azul - Frei Betto - ed. Rocco - R$ 32 (320 págs.)


A lista é feita com base na soma do número de exemplares vendidos entre 4/4 e 10/4, divulgado pelas seguintes livrarias: Siciliano (todo o país), Saraiva (todo o país), Laselva (todo o país), Sodiler (Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Maceió, Natal), Cultura (São Paulo, Porto Alegre e Recife), Fnac (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília), Livraria da Vila (São Paulo) e Livrarias Curitiba (Curitiba, Londrina, Florianópolis, Joinville, Porto Alegre).


Eu estava refletindo há pouco sobre umas coisinhas que estão acontecendo no âmbito "cultural" do Brasil. Na verdade, é uma reflexão antiga e que qualquer mente sensata pode ter. Já estava pensando nisso desde que estive na Bienal do Livro em São Paulo, várias semanas atrás.


Pesa sobre o brasileiro a fama de não ser um leitor assíduo. Uma fama bem justificada por estatísticas, diga-se de passagem. Aí a gente observa essa lista de livros mais vendidos pra saber o que desperta interesse nessas poucas pessoas que ainda lêem no Brasil. E eis aí a razão do meu emputecimento:

- Bruna Surfistinha, uma provável semi-analfabeta, escreve um livro cujo título mais apropriado seria "Como dar o cu sem vaselina e outras futilidades", contando detalhes de sua vida de putarias com o intuito de "escandalizar" a classe média e polemizar e, por mais absurdo que isso seja, vende mais do que autores sérios que dedicaram suas vidas à literatura. Quero deixar bem claro aqui, para juízo, que não tenho nada contra a classe das profissionais do sexo e acho até que é um desprestígio para elas ter uma moça como a Surfistinha como sua representante midiática. A classe das putas é muito mais heterogênea e complexa do que o esteriótipo criado em cima da Bruna, da garotinha riquinha e deslumbrada que quer ganhar dinheiro e posar de subversiva. Uma pessoa que, preconceitos à parte, não tem mesmo nada de relevante pra dizer. E muito menos algo que valesse a vendagem expressiva que ela teve. Qual mensagem ela transmite em seu livro?


- Dan Brown: sucesso arrebatador com seus livrinhos de especulação histórica e lendas de almanaque pretensamente "históricos". Fui assistir o filme inspirado no seu "Código Da Vinci" no último sábado e saí da sala meio desgostoso da vida. Parece que basta polemizar em cima de religião ou de costumes pra se fazer sucesso. A impressão que se tem é essa. Pessoas cada vez mais preocupadas com a vida pessoal de Jesus Cristo (que se voltasse nos dias de hoje, seria perseguido por paparazzis e não mais por judeus ou soldados romanos) do que com seus ensinamentos. Tudo bem, é uma visão moralista, religiosa e pessoal minha. Mas mais moralistas são as pessoas que se "escandalizaram" ou se interessaram com demasiado furor pelo filme (e pelo livro). Eu achei tudo uma grande balela caça-níqueis. Além de desprestígio para os historiadores de verdade, que devem estar passando fome nesse momento, enquanto o Dan enche o rabo de prata.


- FHC ensinando política (!!!) no seu livro oportunista. Afinal de contas, até tucano tá achando que pode dar lição de moral no país em que o Lula não sabe de nada. Não preciso dizer mais nada.


- Edílson Pereira de Carvalho: apesar de não figurar nessas listas, ouvi dizer que seu livro - no qual se gaba das falcatruas que cometeu nos tempos em que era arbitro de futebol (cuja história todos conhecem devido ao escândalo de manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro de 2005) - está vendendo bem. Ou seja, um cara comprovadamente filho-da-puta parece estar ganhando fãs por sua "honestidade em assumir que errou". Perdoa-se o criminoso e quase se aplaude seus crimes. Brincadeira isso né? Inversão de valores? Imagina...


Ou seja, parece que o que atrai as pessoas são os livros escritos por putas e putos, ou que falem de putas e putos. Um dos poucos livros excelentes que figuram na lista de ficção é o "Memória de minhas putas tristes", que só deve tá lá por causa do título. O mar de futilidade banha a praia cultural brasileira. E eu, que sequer sou um leitor assíduo - admito! - me sinto um peixe fora d'água e vejo que há pouca luz no fim do túnel. Muita gente acha um absurdo o fato do Paulo Coelho pertencer agora à Academia Brasileira de Letras. Eu nem acho mais isso. Cada um tem o fardão que merece.


E, pra finalizar, peço licença ao Cazuza (rezando pra que ele não se remexa no túmulo) pra modificar um pouquinho aquela música dele. Porque, "enquanto houver classe média, não vai haver poesia".


Dedico esse post cheio de rancor e preconceito a todos os escritores fracassados e a também as pessoas de bom senso como o Bóris Casoy, que diria que "isso é uma vergonha!"

quinta-feira, maio 25, 2006

O Horóscopo nosso de cada dia

Cansado (a) de horóscopos chinfrins? De astrólogos que, preocupados em dar bola fora, colocam tudo o que vai acontecer com você de forma cifrada no jornal e nas revistinhas? Cansado dos velhos clichês e de nunca entender que porra quer dizer quando ele diz que "a Lua em Virgem trará harmonia para o seu dia"? Pois seus problemas acabaram! O Sonhos e Clichês interpretou de forma simples, clara e direta aquilo que os astros quiseram dizer sobre você nesse dia. Com a gente "é no popular!" Leia e saiba como ser feliz no dia de hoje!


Quinta-Feira , 25 de Maio de 2006 *


Áries (21/03 a 20/04): Vênus em seu signo faz aspecto com Plutão indicando oportunidade de mudar os conceitos sobre amor, valores pessoais, finanças e relacionamentos, nativo de Áries. Sensação de que você está recuperando algo que é muito importante. Regeneração.

Interpretação: Você provavelmente tomará um pé-na-bunda ou descobrirá um chifre, perderá dinheiro ou a moral na firma. Daí a autora da previsão tenta sublimar tudo isso dizendo que "você está recuperando algo muito importante". Isso só quer dizer que você passará mal à tarde e regurgitará em seguida, recuperando assim aquilo que comeu no almoço.
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Touro (21/04 a 20/05): Reconhecer e aceitar as emoções e os desejos que possui é o desafio, nativo de Touro. Não reprima os sentimentos, eles apenas estão mostrando possibilidades que antes você não cogitava. Conhecer-se é sempre o melhor caminho para transformar-se.

Interpretação: Saia do armário e escolha um nome de guerra.

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Gêmeos (21/05 a 20/06): Contatos que podem estimular renovação de idéias, atitudes e sentimentos. A iniciativa cabe a você, que pode assumir dentro de um grupo o papel de precursor. Mas deve contar com apoios e parcerias, para realizar os propósitos mais relevantes.

Interpretação: Procure alguém para dar uma boa transada e tudo ficará bem.

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Câncer (21/06 a 21/07): Momento profissionalmente estimulante, onde os cancerianos podem transformar a sua atuação, ou utilizar algo antigo com nova função. Carisma, iniciativa, recursos e habilidades para realizar seus objetivos. Renovação que atinge também a vida afetiva.

Interpretação: Continue puxando o saco do seu chefe e será alguém dentro da firma. Em casa, apenas concorde com o que o (a) parceiro (a) disser.

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Leão (22/07 a 22/08): Percepção das mudanças necessárias para evoluir emocionalmente, nativo de Leão. Intensidade de sentimentos e desejos. Novos conceitos devem ser aceitos como parte do seu processo de transformação afetiva, e de aceitação de novas possibilidades.
Interpretação: Deixe de ser egocêntrica e não perturbe o maridão quando ele estiver vendo futebol na TV. Aceite novas possibilidades: sexo anal, por exemplo. Ou uma toalha molhada em cima da cama. Faça concessões e verás como a vida é mais bonita sem um olho roxo.
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Virgem (23/08 a 22/09): Reconstrução da identidade emocional dos virginianos. Experiências transformadoras, a partir do contato com sentimentos e desejos que você não percebia ou aceitava em si. Situações importantes envolvendo afeto, intimidade e finanças.
Interpretação: Uma bolinada marota daquele seu vizinho sacana no elevador do prédio ou um xaveco vindo do seu chefe "despertarão" coisas em você. Importante: deixe que ele pague o motel depois.
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Libra (23/09 a 22/10): Transformações nos relacionamentos. Oportunidade de abrir-se a novos conceitos, revitalizando suas relações. Antigos parâmetros não funcionam mais, e você precisa encontrar um novo acordo entre a individualidade e as demandas que as relações solicitam.
Interpretação: Só dê para quem tiver muita grana ou muito "talento", pois você não tem mais saco para aturar qualquer tipo de mala.
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Escorpião 23/10 a 21/11): Potenciais e recursos para realizar seus intentos, escorpiano. Momento estimulante para o trabalho e as finanças, onde podem ocorrer mudanças. Recuperação de algo que tem muito valor para você. Conhecimento e iniciativa, as bases da realização.
Interpretação: Aproveite para dar um belo desfalque na firma. (Sabemos que o "conhecimento e iniciativa" para roubar e enganar fazem parte da natureza do escorpiano).
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Sagitário (22/11 a 21/12): Intensidade emocional. Percepção de sentimentos antes reprimidos. Desejo de expressar espontaneamente o que você sente e pensa. Importantes interesses afetivos, criativos e lúdicos que renovam a vitalidade. Carisma e poder de atração, sagitariano.
Interpretação: Mande todo mundo tomar no cu e seduza a pessoa que, no seu contexto de vida atual, detenha o poder.
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Capricórnio (22/12 a 20/01): Mudanças que podem beneficiar a vida familiar e emocional, mesmo que ocorram sob conflitos. Isso acontece porque você se dá conta de aspectos antes evitados, como por exemplo, certas emoções e situações que envolvem os relacionamentos.
Interpretação: Vai descobrir hoje que o filho é gay (mas ganhou muito dinheiro fazendo programa). Ou que a querida Tia Alice morreu (mas deixou uma bolada de herança). Ou que o maridão está te traindo com a chefe dele (mas será promovido a supervisor da firma e vai ganhar o dobro do salário, o que permitirá a ele te dar jóias, te levar pra jantar em restaurantes caros ou mesmo comprar aquele vibrador superlegal que vendem na TV pelos olhos da cara).
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Aquário (21/01 a 19/02): Oportunidade de contatos interessantes, que servem para estimular a mudança de conceitos, aquariano. Iniciativa nos relacionamentos. Amizades que podem ser retomadas, ou transformadas. Projetos que envolvem várias pessoas estão favorecidos.
Interpretação: Se preza sua virgindade anal, evite contato com gays. Dia bom para xavecar aquela vizinha gostosa ou aquela colega de trabalho que sempre te esnoba. Provavelmente precisará pedir dinheiro emprestado e terá que retomar amizades antigas, já que com os amigos atuais você já está endividado até o pescoço. E pra finalizar, é hoje que vai rolar aquele surubão! Pode correr pro puteiro!
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Peixes (20/02 a 20/03): Profissionalmente e materialmente podem acontecer mudanças benéficas. Isso depende de você valorizar suas qualidades, e de encontrar meios de expressão condizentes com a vocação. Nova utilização para antigos conhecimentos e habilidades.
Interpretação: Aproprie-se do trabalho dos outros, culpe-os pelas suas cagadas e bajule bastante os seus superiores. Mas sempre com muita originalidade em cada situação, pra não deixar pistas, hein pisciano! Dissimulação é seu forte!
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Agora pára com essas baboseiras e vai trabalhar que cê ganha mais, porque o João Bidu tá com a vida feita!
* Previsões de Isabel Mueller, tiradas do site http://www.horoscopovirtual.com.br/. (As "interpretações" feitas sobre cada uma das previsões são de total responsabilidade do autor desse blog).

sábado, maio 20, 2006

Da série: Não é putaria, é arte!


Zéfiro, o "catequizador" de meninos



Dada a ótima repercussão de meu post sobre a Emmanuelle entre os leitores deste blog, resolvi fazer um novo post sobre ARTE ERÓTICA.

Já que a "Saga da Emmanuelle" (ver post) retrata bem a época em que eu vivi e na qual comecei a despertar minha sexualidade, acho que agora é o momento de fazer uma viagem no tempo, mais especificamente para as décadas entre 50 e 70, para as gerações das quais faziam parte meu avô e meu pai. E é por isso que vou falar aqui de um quadrinista erótico: o por muito tempo clandestino Carlos Zéfiro.

Eu o descobri há pouco tempo, quando num sebo em Bauru encontrei uma revistinha com estórias dele jogada na seção de pornografia. Comprei por mera curiosidade, devo ter pago uns dois, três reais. Só muito tempo depois é que fui descobrir a história que existia por trás daqueles quadrinhos. O que a primeira vista não tinha muito valor pra mim, também demorou a ser valorizado pelas demais pessoas (característica inerente à toda a "arte pós-moderna", como se sabe).

Como tudo o que é underground e retrô, ele foi redescoberto recentemente pelos pesquisadores de contracultura e foi, inclusive, homenageado pela Marisa Monte que usou ilustrações dele no encarte de seu disco de 1997, "Barulhinho Bom". Eu posso bem imaginar o universo em que se situa Carlos Zéfiro: uma sociedade conservadora e católica, posteriormente dominada pelo Regime Militar, ainda por cima. Os adolescentes tendo que iniciar sua vida libidinosa de forma clandestina, devido à forte repressão sexual. Nem por isso, porém, deixava de existir os concursos de "maior piroca do bairro" e os campeonatos de bronha entre a molecada. Era a época de se divertir olhando as primas peladas pelos buracos de fechadura. E era a época em que pessoas como Nelson Rodrigues aproveitavam a linha tênua entre prazer e "pecado" para imaginar suas estórias. Era, sobretudo, a época em que os meninos compartilhavam entre si os preciosos quadrinhos de Zéfiro, disfarçados dentro de panfletos religiosos (razão pela qual as revistinhas do artista ficaram conhecidas como "catecismos").

Hoje em dia a molecada tem a internet à sua disposição, bastando um clique para ter acesso à qualquer tipo de putaria. E os quadrinhos de Zéfiro, que outrora eram "sacanagem", ganharam uma aura de relíquia histórica, um certo "glamour". Por isso coletei material sobre o tema na net e agora compartilho com meus leitores.


Carlos Zéfiro é o pseudônimo do funcionário público brasileiro Alcides Aguiar Caminha (Rio de Janeiro, 25 de setembro de 1921 - Rio de Janeiro, 05 de julho de 1992) com o qual ilustrou e publicou, durante as décadas de 1950 a 1970, histórias em quadrinhos de cunho erótico que ficaram conhecidas por "catecismos".


História

Alcides Aguiar Caminha, carioca boêmio, ilustrou e vendeu cerca de 500 trabalhos desenhados em preto e branco com tamanho de 1/4 de folha ofício e de 24 a 32 páginas que eram vendidos dissimuladamente em bancas de jornais, devido ao seu conteúdo porno-erótico, ficando conhecidos como "catecismos" e chegaram a tiragens de 30.000 exemplares. Casado desde os 25 anos, com Dona Serat Caminha teve 5 filhos e sempre escondeu de toda a família sua atividade paralela de desenhista e aposentou-se como funcionário público do setor de Imigração do Ministério do Trabalho. Sua identidade somente se tornou pública em uma reportagem da Revista Playboy que foi publicada em 1991, um ano antes de sua morte.
Autodidata no desenho e concluinte do curso de segundo grau somente quando tinha 58 anos, manteve o anonimato sobre sua verdadeira identidade por temer ter seu nome envolvido em escândalo o que lhe traria problemas por se tratar de funcionário público submetido a Lei 1.711 de 1952 que poderia punir com a demissão o funcionário público por "incontinência pública escandalosa" e retirar os proventos com os quais mantinha a família.

Os "catecismos" eram desenhados diretamente sobre papel vegetal, eliminando assim a necessidade do fotolito, e impresso em diferentes gráficas em diferentes Estados, gerando, inclusive, diversos imitadores. Em 1970, durante a ditadura militar, foi realizada em Brasília uma investigação para descobrir o autor daquelas obras pornográficas que chegou a prender por três dias o editor Hélio Brandão, amigo do artista, mas que terminou inconclusa.
Além de seus trabalhos como ilustrador Alcides Caminha foi compositor, inscrito na Ordem dos Músicos do Brasil e parceiro de Guilherme de Brito e
Nelson do Cavaquinho, com quem compôs quatro sambas para a Mangueira, entre eles os sucessos: Notícia, gravado por Roberto Silva na década de 50, e A Flor e o Espinho.

Em 1992 recebeu o prêmio HQMix, pela importância de sua obra. Após sua morte teve um trabalho publicado como homenagem póstuma em 1997 na capa e no encarte do cd "Barulhinho Bom" da cantora Marisa Monte.

Fonte: Wikipédia




Quadrinho tirado da estória "Aventuras de João Cavalo", um dos "catecismos" mais famosos de Zéfiro

Capa do CD "Barulhinho Bom", de Marisa Monte

"Despedida", também marcado pela linguagem erótica direta e reta do autor, como se pode ver no texto do quadrinho

Para saber mais e até mesmo ler estórias completas do autor e entrevista com o mesmo, acesse: http://www.ludmira.hpg.ig.com.br/galeriazefiro/ZefiroP01.htm

E é só. Agora me dá licença que eu vou no banheiro tirar um pigarro do pulmão.

Meta - foras 2

Como perdi meus cubos, meu Lego, meus bonequinhos e todo o resto, hoje brinco com metáforas. Pretensão minha achar que domino todas as figuras de linguagem. Não domino nada, porque nada é como o pastor-alemão ensinado que lambe a mão da Luisa Mell na televisão. As coisas são ariscas, as palavras são ariscas. Palavras aliás mordem mais do que cães (a Luisa Mell que trabalha com as ambas as coisas - embora lide melhor com os bichos do que com as palavras - que o diga).

Para começar, uma metáfora interessante que ouvi na cadeira de dentista. O "doutor" se queixava com o colega assistente e lamentava o fato de ter de trabalhar num dente que tinha acesso díficil em minha boca. "É como ir ao teatro e sentar atrás de uma coluna", definiu ele brilhantemente. Aí me ocorreu o pensamento vislumbrando todas as vezes em que sentei atrás de colunas na minha vida. Me ocorreu que, em várias ocasiões, as coisas me pareciam peças fantásticas de teatro para as quais ganhei a entrada. Mas lá chegando, era só a decepção de sentar atrás da coluna e não ver porra nenhuma. Os amores que tive me deram essa sensação em grande medida. Aquela outra imagem do cachorro olhando os frangos assados na televisão de cachorro é recorrente também no meu repertório imaginário limitado.

Coincidência ou não, enquanto aguardava na sala de espera ser chamado para o martírio, estava folheando a Veja S. Paulo e tinha ali uma matéria de capa sobre o Teatro Municipal. E em destaque os "lugares micados", cadeiras que a revista alertava os leitores a evitar, justamemte por terem ângulo ruim ou alguma coisa tapando a visão e impedindo que se desfrutasse totalmente o espetáculo. Então isso ficou muito gravado na minha cabeça: lugares micados, colunas tampando a visão, uma broca partindo meu dente ao meio porque este estava encravado num lugar inacessível da minha boca e não poderia ser tirado de modo mais ortodoxo e menos doloroso. A vida às vezes tem dessas. Às vezes a verdade fica encoberta nas nossas cabeças por algumas pilastras também. Ou então nós mesmos nos instalamos confortavelmente atrás de pilastras mentais para não ver a verdade (como o cara que vai ao teatro só pra dormir durante a peça). Enquanto isso, ali estão as pessoas do camarote: olhando pra nós e rindo, escarnecendo. Aplaudindo impunes e sarcásticas o grande espetáculo da vida, sabendo com satisfação que alguns estão atrás de colunas e que a grande maioria sequer entrou no teatro. Aliás, é nisso que elas se comprazem.

Eu sigo lutando para que minha visão das coisas possa transcender colunas, barreiras, preconceitos, etc. Mas a doutrinação moral e de classe que me foi impingida desde pequeno às vezes atrapalha um pouco o processo. Mas metaforizando, parabolizando, a gente vai levando a vida. Ou deixando ela nos levar, como já diria a metáfora daquela canção.

segunda-feira, maio 15, 2006

Figurinhas da Copa de 2006 - Parte II


Sensacional álbum com figurinhas adesivas e auto-colantes dos craques da Copa que você só vê no Sonhos e Clichês. Peça pra mamãe e vá correndo comprar o seu!



Emmanuelle
(Emannuelle Arsan, ?/?/1969)



Nem o velhinho Zinédine Zidane, nem o artilheiro Thierry Henry. A grande arma letal da seleção francesa na briga pelo bicampeonato mundial atende pelo nome de Emmanuelle, a mulher mais sexy entre as terráqueas. Ela já foi escalada para diversas missões: auxiliar amigas com problemas de relacionamento, guardar com cuidado um perfume mágico e até ensinar o amor para extra-terrestres. Porém, Emmanuelle agora terá de usar todo o seu talento e todas as suas armas de sedução para levar sua pátria à glória no futebol.

Ela não sabe chutar uma bola em linha reta. Fura na hora de dominar a pelota. Não consegue fazer sequer duas embaixadinhas. Mas quem precisa de habilidade afinal, quando se tem o charme e beleza de Emmanuelle? Ela é capaz de desconcentrar qualquer adversário com sua sensualidade e tem fama de fazer jogo sujo, visitando jogadores do time rival na concentração antes dos jogos, fazendo com que eles entrem em campo misteriosamente exaustos depois.

Emmanuelle é sempre a jogadora que o oponente procura para a fazer a tradicional troca de camisas no intervalo dos jogos. Avança com desenvoltura pelo campo e nunca fica impedida. O único porém em seu futebol é o fato de estar sendo sempre muito marcada de perto, no esquema homem-a-homem... ou melhor, homem-a-mulher. Mas ela é sempre a referência dentro de campo e a jogadora que desequilibra. Ah, Emmanuelle...

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Al-Khaled

(Sérgio Al-Khaled, 14/09/1956)

O veterano jogador iraniano Al-Khaled já fez de tudo na vida antes de se dedicar exclusivamente ao futebol: tocou reco-reco em grupo de samba, vendeu hot dog e tubaína para sobreviver e quase se tornou homem-bomba. Hoje é um dos destaques da seleção de seu país com seu futebol organizado e burocrático. Convertido em extremista religioso, Al-Khaled leva uma vida regrada e reclusa fora de campo, dá poucas entrevistas e não aceita participar de campanhas publicitárias, vivendo isolado em sua mansão com suas três esposas. Por essa razão, pouco se sabe da vida pessoal do zagueiro. A única lenda que corre no Irã é a de que Al-Khaled sofre de distúrbio de dupla personalidade e seu alter-ego teria sido visto cantando músicas de Caetano Veloso num bar do centro de Teerã. Outra história que se ouve é a de que Al-Khaled teria mulher e filhos vivendo no Brasil, mas essa versão é totalmente absurda e infundada, dada a distância geográfica entre os dois países.

Lendas à parte, Al-Khaled é considerado a grande esperança do Irã para sofrer goleadas pequenas na competição que acontecerá na Alemanha, apesar de sua fama de pé-frio. Insha Alah!

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Queen Beth II

(Elizabeth Alexandra Mary Windsor, 21/04/1926)

A rainha está de saco cheio. Ninguém mais veste calças na Inglaterra. Seus herdeiros preferem correr atrás de veados (VEADOS, com E no meio) ao invés de se dedicar a tarefas de macho. O jogador símbolo de sua seleção é o metrossexual David Beckham. A guarda real com aqueles chapéus rídiculos e aquele ar blasé já estão ultrapassados demais para o contexto sócio-político atual. E o premiê Tony Blair então? Um lambe-botas do futebol estadunidense!

Pensando nisso tudo, a veterana Beth Balanço resolveu tirar as chuteiras reais do armário e se auto-convocou para a seleção inglesa, prometendo que desta vez o time não vai amarelar, nem que para isso ela precise submeter os companheiros de equipe à torturas pesadas, como obrigá-los a tomar chá nos aposentos reais com a ex-primeira ministra Margaret Tatcher ou um joguinho de xadrez com o Mr. Bean.

O ponto forte do futebol de Beth é a vocação para disfarçar as cagadas dos companheiros de equipe, da mesma forma que abafa os escandâlos envolvendo as estripulias sexuais de seu filho Charles. A atacante também não tem medo de cara feia: todos os dias vê Camila Parker de perto e não se intimida.

E conta ainda um ponto a favor dela: é a jogadora veterana com mais vigor físico no futebol mundial atual, deixando no chinelo jogadores como Romário, Edmundo, Paulo Bayer e Marcelinho Carioca.

Portanto é bom o Brasil se cuidar e torcer para não cruzar em seu caminho com a forte seleção de Beth II, porque seu futebol majestoso já fez súditos em todo o mundo. E é aquele velho ditado: "Quem foi rainha nunca perde as divididas".

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Modelo Mirim

(Wellington Max Grams, 27/09/1999)

A seleção anfitriã da Copa tem histórias curiosas para contar. As principais delas se ligam ao jogador da seleção dente-de-leite Wellington Grams, conhecido por todos na "terra do chopp" como Modelo. Quando ainda iniciava na carreira de atleta, foi manchete em todos os jornais alemães por causa de um escândalo: descobriu-se que sua casa em Flamingo's Garden era um antro de orgias infantis com ninfetinhas de 10 anos aliciadas em São Bernardo do Campo - cidade do Grande ABC vizinha de Munique - e regadas a guaraná caçulinha Dolly e absinto. Com a vida devassada fora de campo, Modelo respondeu dentro dele: se tornou artilheiro do time do Bayer de Munique júnior, deixou o cabelo crescer e aprendeu a beber, como diz aquela canção. Hoje é o jogador mais jovem da história da seleção alemã, já que disputará a primeira Copa da carreira com 7 anos de idade, superando assim o recorde que era de Pelé (que disputou a primeira Copa com 16 anos, em 1958). Além de precoce no futebol, Modelo é prodígio em outras atividades: é presidente-fundador do fã-clube "Hammstein In The Hell", campeão europeu de Winning Eleven, campeão intercontinental de arremesso de joystick em oponentes, técnico em hardwares, hacker profissional e professor de informática particular de Bill Gates.

Como jogador, é prestativo e faz assistências precisas aos companheiros. É o garçom em campo, aquele que traz a vodka e os guardanapos nos momentos mais críticos. Não sabe chutar a gol, marca mal e não é bom driblador. Mas quem precisa disso quando se é um cara tão legal, não é mesmo?

Modelo vai deixar Ballack no banco no Mundial, desde que obedeça o técnico na concentração, não faça mal-criação e vá pra cama às oito.

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E por enquanto é só. Os craques também precisam descansar. Mas em breve voltamos com mais fugurinhas que são uns figuras. Aguardem!

domingo, maio 14, 2006

Figurinhas da Copa de 2006

A Copa do Mundo de futebol vem aí. E para já irmos entrando no clima que envolve o promissor certame, colarei neste blog as figurinhas das jovens promessas que tem tudo para arrebentar (nem que seja a rótula dos adversários) na Alemanha.



Decocu
(Raf Ael Decocu, 18/02/1984)



De fora da última Copa, realizada na Coréia e no Japão, a fortíssima seleção holandesa retorna com tudo para os mundiais em busca de seu primeiro título. E para conseguí-lo, conta agora com o talento de Decocu, apontado na Holanda como o sucessor de Johann Cruyff. Com 22 anos, o habilidoso meia-direita é atualmente o único cavalo puro-sangue do carrossel holandês. Em outras palavras: carrega o time nas costas. Dribla e finaliza com ambas as pernas e sempre com muita perícia. Os passes perfeitos são capazes de deixar os companheiros na cara do gol. E as cobranças de falta só podem ser definidas por uma palavra: sublimes.

Considerado um atleta rebelde fora de campo, o baladeiro e mulherengo Decocu chegou a não ser convocado para algumas partidas das Eliminatórias Européias pelo técnico Marco Van Basten. Porém a falta do craque ficou nítida nas exibições da Laranja Mecânica, o que obrigou o treinador a aceitar a presença do jogador do PSV, artilheiro do último campeonato holandês e que já está de malas prontas para defender o Barcelona após a Copa do Mundo.

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El "Gordo Loco" Diniz

(Andrés Luiz de Almeyda Y Diniz, 28/08/1983)





Quando se fala em Argentina, pensa-se logo na garra e raça características de nossos hermanos. Pois o jovem quarto-zagueiro "El Gordo Loco" Diniz é a raça em pessoa. Eleito o defensor mais violento do último campeonato argentino, Diniz foi o responsável pela fratura de fêmur do jovem atacante Juán Rámon Carambuela, do Indiependiente Estudientes de Rosário e Muchas Gracías. Tudo começou quando Carambuela aplicou uma série de fintas e firulas sobre Diniz, que não se intimidou e deu no meio do atacante. Após dividir a bola com ele, Carambuela levou a pior e entrou em coma. Já o "Gordo Loco" (como é conhecido no país devido seu porte avantajado de leão de circo) levantou-se, limpou a poeira e ofendeu o árbitro que lhe deu cartão vermelho, tudo com muita classe e elegância. Suspenso por apenas seis meses, "El Gordo Loco" aproveitou bem as férias forçadas para aprimorar a parte física e agredir cinegrafistas na porta de boates.

O início de carreira do becão também foi conturbado: foi pego no exame anti-doping por uso de cocaína e anfetaminas, quando ainda defendia as categorias de base do Quilmes, aos 15 anos.

Mas superados todos os problemas, El "Gordo Loco" Diniz conta com a total confiança do técnico Jose Pekerman para blindar a retaguarda argentina na Alemanha. E lá ele desfilará seu refinado futebol, cuja definição seria: "La pelota pasa, el jugador no! (A bola passa, o jogador não!)"

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Cirilo

(Cirilo Congo Norréia, 30/01/1984)




Desacreditado por todos devido seus problemas com o álcool, a jovem promessa do futebol angolano está de volta: Cirilo estará com Angola na primeira Copa do Mundo que o país disputa em toda a história. A trajetória pessoal do jovem ponta-de-lança é bastante comovente: aos 13 anos, quase perdeu uma perna pisando numa mina terrestre. Reabilitado, voltou a fazer o que mais gosta (depois de beber): jogar futebol. Porém, com a miséria que ganhava como jogador de um time local amador da província de Qbunda - onde nasceu - Cirilo precisou fazer alguns michês para sustentar a família. Essa vida dura perdurou até 1999, quando um olheiro homossexual do Manchester United da Inglaterra descobriu o "talento" do jogador africano e o levou para treinar nas divisões de base do time da Terra da Rainha. Daí para o estrelato foi um pulo, ou melhor, vários pulinhos saltitantes. Cirilo foi promovido ao time principal do Manchester e se o seu futebol não encheu os olhos da torcida e da mídia européia, pelo menos lhe rendeu os títulos de "jogador mais simpático" e "funil de ouro" do futebol inglês. Agora Cirilo espera brilhar na Alemanha, mesmo que esse brilho seja ocasionado pela radiação que guarda dentro de si desde que na infância brincou com Césio 137 despejado no rio Tora-Tora por uma usina angolana.

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Lee Lee Akamine

(Lee Lee Anne Akamine, 21/10/1982)




A lateral-esquerda Lee Lee Akamine tem tanta moral com o técnico da seleção japonesa, Zico Média, que impôs condições para jogar a Copa na Alemanha por seu país: que se convocasse também os jogadores Edson, Kelly, Dunha, Tati e Mário. Sem os amigos para fazer tabelas (periódicas, de ciclo menstrual e dos jogos do Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão, que seu Palmeiras deverá disputar em 2007), a brilhante jogadora da equipe do sol nascente se recusa a entrar em campo.

Dona de um chute potente e de uma tartaruga, Lee Lee provou ao mundo que futebol não é coisa apenas para homens. Afinal, "bater um bolão" é coisa que ela vem fazendo desde os tempos áureos, quando aprendeu aquela receita ótima de bolo de fubá e comprou a batedeira.

O futuro de Akamine após a Copa ainda é incerto. Os empresários Kagaru Nupau e Takarasha Nomura, que detém seu passe, negociam com times da Europa, da Eurásia e do sul da África do Norte. Mas o mais provável é que ela volte mesmo para o Parque Cecap.

Por enquanto é só. Em breve voltaremos com mais figurinhas que brilharão na Alemanha. Aguardem!!!



sábado, maio 13, 2006

Reflexões...

... sobre a vida e o amadurecimento pessoal:

Não sei de nada, a única coisa que sei é que não quero. Não quero e pronto.


... sobre o mundo:

Cada macaco na sua comunidade do Orkut.


... sobre o tempo:

Vejo que você acordou feliz e sorriu, porque adora dias nublados. Você não sabe o quanto eu me emociono quando te vejo assim, com as botas de cano alto e essa cara curiosa de criança deslumbrada, admirando pingos de chuva.


... sobre o amor:

Eu queria te acompanhar por toda a vida, carregando suas coisas, seus livros. Queria, como dizem as canções de pagode, "dormir e acordar feliz sempre do teu lado". Eu queria todas essas cafonices doces. Mas tudo é negro, o mal dança na minha cabeça e tenho vontade de atirar tudo pra longe - na esperança de consequentemente ter que buscar - e sumir.

terça-feira, maio 09, 2006

Neimis

Conversava hoje com a Carol sobre o fato de ela não ser a primeira Carolina/Carol a participar da minha vida. Com efeito ela não é. Isso me soou interessante porque, no jogo de idas e vindas que é a vida, existem várias repetições, coincidências, provocações do destino.

Um livro do qual gosto muito é o Cem Anos de Solidão, do García Márquez. Ali existe uma linha temporal muito abrangente (os tais cem anos do título) na qual se sucedem inúmeros personagens masculinos que se chamam, invariavelmente, José Arcadio ou Aureliano. E o autor cria dois temperamentos básicos para os personagens: se um é frio, acomodado e preocupado com tradições familiares, o outro é o oposto, aventureiro. E a matriarca da Família Buendía vê passar por sua longa vida várias gerações de Aurelianos e Joses Arcadios, sempre nessa alternância de personalidades.

Eu dizia para a Carol que me lembro de ter gostado, quando era muito pequeno - na época que brincava no prédio de minha avó - de uma menina chamada Aline. Aquela coisa da primeira paixão platônica. E nessa mesma época, fazia parte da turma uma menina com quem eu vivia às turras, chamada Carolina. Nada disso tem grande importância, na verdade. Nem mesmo o fato de meu primeiro beijo ter sido nessa época, mas não com a Aline de quem eu gostava, e sim com uma guria chamada Michelle (e onze anos depois eu viria a gostar de outra Michelle). Não tem importância também o fato dessa primeira Carolina, a menina chata que me denunciava à mãe dela, hoje ser uma moça com atrativos, sendo que a Aline eu não sei que fim levou (ou não me lembro, pelo menos). Realmente nada disso tem grande importância, pois são reminiscências de um passado muito remoto, no qual eu não respondia criticamente pelos meus atos.

Mesmo assim, o tempo foi passando. Dou um salto agora para o fim da década de 90. Conheci a prima de uns vizinhos meus. Uma das meninas mais lindas que já vi até hoje. Fiquei tomado novamente de paixão juvenil. A criatura se chama Aline. Tudo bem, agora eu já estava lá com meus 13, 14 anos. Já respondia criticamente pelos meus atos, embora essa capacidade crítica ainda fosse muito incipiente. Ela nunca pareceu me dar muita bola, exceto pelo fato de ter ficado olhando para mim durante o tempo que passamos juntos na chácara dos primos dela. Dizem que depois ela fez perguntas sobre mim para a minha vizinha, tia dela. Isso me deixou meio puto. Eu nunca soube paquerar. Sempre fui muito tímido e lamento que a Aline não tenha procedido comigo como fez a Michelle (a menina do primeiro beijo) quando eu tinha seis anos: me arrastasse para um canto e mandasse ver. Eu estava impossibilitado de tomar iniciativas. Deixei a chance passar. Era moleque, mas não esqueço das pernas dela debaixo daquele shortinho curto. Não sei se o shortinho era proposital ou não.

Pouco tempo depois entrei no cursinho. Foi a época em que as paixões começaram a se tornar intensas, assim como as voltas que minha libido dava. No cursinho tinha uma guria que impressionava: morena, pele branquinha, cara de menininha, seios fartos, jeito cool, despojado. Uma puxadora de fumo sapeca de primeira grandeza, cara de safadinha. E chamava-se Carolina. Carol para os íntimos e não-íntimos. Não preciso dizer que, pelo menos no começo desse ano, dei umas viajadas pensando nela. Nalgum dia ela passou por mim e amigos e comentou alguma coisa sobre o fato de estarmos vestindo preto, tentando puxar assunto, já que fazia parte do jeito dela ser simpática com todo mundo. Minha dificuldade de me comunicar com mulheres - especialmente mulheres que me despertam interesse (ler Teoria Pedestáltica) - novamente se manifestou e, sem ter nenhuma sacada boa para lhe responder, disse idiotamente que "estava de luto". "Luto por quê?" - ela indagou e meu amigo punk anarquista que estava junto conosco completou: "Luto pelo sistema". OK, não havia grande possibilidade de eu me relacionar com essa Carol, mas esses diálogos patéticos com meninas interessantes foram construindo em mim uma identidade totalmente loser, na qual sempre vigorou a baixa auto-estima. (Mas não me aprofundarei nisso porque os leitores não merecem aguentar um blog-divã).

Claro que gostei de meninas com outros nomes ao longo da vida também. E isso aconteceu na época de faculdade. Aí as paixões já estavam num grau de intensidade que beirava o insuportável. E, como não poderia deixar de ser, entraram em cena duas novas personalidades para nomes conhecidos: Carolina, uma menina simpática de Santo André que conheci logo nos primeiros dias de Unesp e que - a exemplo do que fez a Michelle no caso do beijo - tomou a iniciativa e me puxou pelo braço para longos anos de cumplicidade e amor fraternal e a Aline de Agudos (Santo André de nascimento), que logo no primeiro dia em que nos vimos começou a fuçar minha intimidade, perguntando detalhes da minha vida amorosa. Tive a compania das duas durante todo esse tempo e certamente a relação que tive com ambas me marcou muito mais do que as paixões platônicas homônimas.

Todo esse pensamento que me veio à mente enquanto conversava com a Carol soava interessante e intrigante. Até que eu mesmo mandei tudo por água abaixo quando pensei numa outra coisa óbvia: mais do que destino, coincidência, ou romance de García Marquez, os pais da minha geração é que não foram muito criativos para nomes, com suas Carolinas, Alines, Michelles, Vivianes, Rafaéis, etc... O intrigante vira banal num piscar de olhos.

terça-feira, maio 02, 2006

Bobagens, meu filho... bobagens...

As coisas estão fora de ordem. Avulsas e pairando sobre minha cabeça, como um grande vento que espalha as folhas soltas do caderno de poesias. Tento recolher meus pedaços e organizar minha mente, mas o sentimento pusilânime é maior que tudo.

Não diria que não sou feliz. Sou, aliás, muito tranquilo. Mas sinto falta de ações na minha vida. Sinto falta daquele momento de reviravolta que indica que a fase do filme vai virar. Estou eletrizado ao contrário.

E são muitas coisas desprovidas de significado. Não me sinto apto a amadurecer. Síndrome de Peter Pan? Não. Apenas receio. Receio de tropeçar nas próprias patas e voltar sempre para o ponto de partida, enquanto os outros alcançam a linha de chegada.

E a sensação sufocante de saber que tenho algo a dizer, mas não sei exatamente o quê. Como se o direito à palavra me tivesse sido dado num debate e, no momento de exercê-lo, me desse um grande branco. Sinto-me asfixiado. E não sei dizer até que ponto é uma sensação psicológica. Está se tornando física.

***
Preciso de um ponto de partida.

segunda-feira, maio 01, 2006

Da série: Mudar de opinião é humano

Detestava Coldplay. Pra mim era um Radiohead melhorado. Mas a melodia abaixo me trouxe para a banda. E checando a letra, resgatei alguma coisa que passou na minha vida, situações familiares para mim e muito bem descritas na Teoria Pedestáltica (ver link na seção "Responsabilidade Social - a gente vê por aqui") , da qual me tornei adepto. Eis então mais um pedido de desculpas e de "não foi por mal, eu não queria te causar problemas" para uma pessoa que passou e me levou um pedaço cardiovascular junto.


Trouble - Coldplay

CD Parachutes© 2000 EMI Records
Por Berryman/Buckland/Champion/Martin



Oh no, I see
Oh, não, eu vejo
The spider web is tangled up with me
Uma teia de aranha está emaranhada comigo
And I lost my head
E eu perdi a cabeça
And thought of all the stupid things I'd said
E a lembrança de todas as coisas estúpidas que eu disse


Oh no, what's this?
Oh, não o que é isso?
A spider web and I'm caught in the middle
Uma teia de aranha e eu estou preso no meio dela
So I turn to run
Então comecei a correr
And thought of all the stupid things I'd done
E a lembrança de todas as coisas estúpidas que eu fiz


And I never meant to cause you trouble
Eu não pretendia lhe causar problemas
I never meant to do you wrong
Eu não pretendia magoá-la
And ah, well if I ever caused you trouble
E se eu alguma vez lhe causei problemas
Oh, no I never meant to do you harm
Oh, não, eu não pretendia magoá-la

Oh no, I see
Oh, não eu vejo
The spider web and it's me in the middle
Uma teia de aranha e estou no meio dela
So I twist and turn
Então, eu me viro
But here am I in my little bubble
Aqui estou eu em minha pequena bolha

Singing out
Cantando,
I never meant to cause you trouble
Eu não queria lhe causar problemas
I never meant to do you wrong
Eu não pretendia magoá-la
And ah, well if I ever caused you trouble
E se eu alguma vez lhe causei problemas
Oh, no I never meant to do you harm
Apesar de nunca ter tido a intenção de magoá-la


They spun a web for me
Eles teceram uma teia para mim (3x)