Da série: Coisas que me fazem ter vontade de enfiar uma bala nos cornos
1 - O Caçador de Pipas - Khaled Hosseini - ed. Nova Fronteira - R$ 34,90 (368 págs.)
2 - Mentiras no Divã - Irvin D. Yalom - ed. Ediouro - R$ 49,90 (404 págs.)
3 - O Código Da Vinci - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 39,90 (480 págs.)
4 - Ponto de Impacto - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 39,90 (448 págs.)
5 - Memória de Minhas Putas Tristes - Gabriel García Márquez - ed. Record - R$ 24,90 (128 págs.)
6 - Quando Nietzsche Chorou - Irvin D. Yalom - ed. Ediouro - R$ 44 (412 págs.)
7 - Anjos e Demônios - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 39,90 (464 págs.)
8 - Harry Potter e o Enigma do Príncipe - J.K. Rowling - ed. Rocco - R$ 54,50 (512 págs.)
9 - Os Crimes do Mosaico - Giulio Leoni - ed. Planeta - R$ 39,90 (382 págs.)
10 - Fortaleza Digital - Dan Brown - ed. Sextante - R$ 29,90 (336 págs.)
1 - A Arte da Política - Fernando Henrique Cardoso - ed. Civilização Brasileira - R$ 70 (700 págs.)
2 - Falcão - Meninos Do Tráfico - Mv Bill E Celso Athayde - ed. Objetiva - R$ 33,90 (252 págs).
3 - O Doce Veneno do Escorpião - Bruna Surfistinha - ed. Panda - R$ 23,90 (172 págs.)
4 - Quase Tudo - Danuza Leão - ed. Companhia das Letras - R$ 38 (224 págs.)
5 - O Mundo É Plano - Thomas L. Friedman - ed. Objetiva - R$ 57,90 (472 págs.)
6 - O Pasquim - Antologia 1969-1971 - Vários - ed. Desiderata - R$ 69 (352 págs.)
7 - O Retorno do Chef Sem Mistérios - Jamie Oliver - ed. Globo - R$ 69 (288 págs.)
8 - Stálin - A Corte Do Czar Vermelho - Simon Sebag Montefiore - ed. Companhia das Letras - R$ 69 (912 págs.)
9 - Juscelino Kubitschek, O Presidente Bossa Nova - Marleine Cohen - ed. Globo - R$ 42 (312 págs.)
10 - A Mosca Azul - Frei Betto - ed. Rocco - R$ 32 (320 págs.)
A lista é feita com base na soma do número de exemplares vendidos entre 4/4 e 10/4, divulgado pelas seguintes livrarias: Siciliano (todo o país), Saraiva (todo o país), Laselva (todo o país), Sodiler (Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Maceió, Natal), Cultura (São Paulo, Porto Alegre e Recife), Fnac (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília), Livraria da Vila (São Paulo) e Livrarias Curitiba (Curitiba, Londrina, Florianópolis, Joinville, Porto Alegre).
Eu estava refletindo há pouco sobre umas coisinhas que estão acontecendo no âmbito "cultural" do Brasil. Na verdade, é uma reflexão antiga e que qualquer mente sensata pode ter. Já estava pensando nisso desde que estive na Bienal do Livro em São Paulo, várias semanas atrás.
Pesa sobre o brasileiro a fama de não ser um leitor assíduo. Uma fama bem justificada por estatísticas, diga-se de passagem. Aí a gente observa essa lista de livros mais vendidos pra saber o que desperta interesse nessas poucas pessoas que ainda lêem no Brasil. E eis aí a razão do meu emputecimento:
- Bruna Surfistinha, uma provável semi-analfabeta, escreve um livro cujo título mais apropriado seria "Como dar o cu sem vaselina e outras futilidades", contando detalhes de sua vida de putarias com o intuito de "escandalizar" a classe média e polemizar e, por mais absurdo que isso seja, vende mais do que autores sérios que dedicaram suas vidas à literatura. Quero deixar bem claro aqui, para juízo, que não tenho nada contra a classe das profissionais do sexo e acho até que é um desprestígio para elas ter uma moça como a Surfistinha como sua representante midiática. A classe das putas é muito mais heterogênea e complexa do que o esteriótipo criado em cima da Bruna, da garotinha riquinha e deslumbrada que quer ganhar dinheiro e posar de subversiva. Uma pessoa que, preconceitos à parte, não tem mesmo nada de relevante pra dizer. E muito menos algo que valesse a vendagem expressiva que ela teve. Qual mensagem ela transmite em seu livro?
- Dan Brown: sucesso arrebatador com seus livrinhos de especulação histórica e lendas de almanaque pretensamente "históricos". Fui assistir o filme inspirado no seu "Código Da Vinci" no último sábado e saí da sala meio desgostoso da vida. Parece que basta polemizar em cima de religião ou de costumes pra se fazer sucesso. A impressão que se tem é essa. Pessoas cada vez mais preocupadas com a vida pessoal de Jesus Cristo (que se voltasse nos dias de hoje, seria perseguido por paparazzis e não mais por judeus ou soldados romanos) do que com seus ensinamentos. Tudo bem, é uma visão moralista, religiosa e pessoal minha. Mas mais moralistas são as pessoas que se "escandalizaram" ou se interessaram com demasiado furor pelo filme (e pelo livro). Eu achei tudo uma grande balela caça-níqueis. Além de desprestígio para os historiadores de verdade, que devem estar passando fome nesse momento, enquanto o Dan enche o rabo de prata.
- FHC ensinando política (!!!) no seu livro oportunista. Afinal de contas, até tucano tá achando que pode dar lição de moral no país em que o Lula não sabe de nada. Não preciso dizer mais nada.
- Edílson Pereira de Carvalho: apesar de não figurar nessas listas, ouvi dizer que seu livro - no qual se gaba das falcatruas que cometeu nos tempos em que era arbitro de futebol (cuja história todos conhecem devido ao escândalo de manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro de 2005) - está vendendo bem. Ou seja, um cara comprovadamente filho-da-puta parece estar ganhando fãs por sua "honestidade em assumir que errou". Perdoa-se o criminoso e quase se aplaude seus crimes. Brincadeira isso né? Inversão de valores? Imagina...
Ou seja, parece que o que atrai as pessoas são os livros escritos por putas e putos, ou que falem de putas e putos. Um dos poucos livros excelentes que figuram na lista de ficção é o "Memória de minhas putas tristes", que só deve tá lá por causa do título. O mar de futilidade banha a praia cultural brasileira. E eu, que sequer sou um leitor assíduo - admito! - me sinto um peixe fora d'água e vejo que há pouca luz no fim do túnel. Muita gente acha um absurdo o fato do Paulo Coelho pertencer agora à Academia Brasileira de Letras. Eu nem acho mais isso. Cada um tem o fardão que merece.
E, pra finalizar, peço licença ao Cazuza (rezando pra que ele não se remexa no túmulo) pra modificar um pouquinho aquela música dele. Porque, "enquanto houver classe média, não vai haver poesia".
Dedico esse post cheio de rancor e preconceito a todos os escritores fracassados e a também as pessoas de bom senso como o Bóris Casoy, que diria que "isso é uma vergonha!"